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Todas as noites desde 1959, tropas indianas e paquistanesas baixam juntas suas bandeiras na fronteira de Wagah

Em agosto de 1947, a Grã-Bretanha concedeu a independência à Índia.

A ex-colônia britânica foi então dividida em Índia e o novo Estado do Paquistão (com o Paquistão Oriental mais tarde se tornando Bangladesh).

Isso gerou um surto de violência em que aproximadamente 15 milhões de pessoas foram desalojadas — e cerca de um milhão perderam suas vidas.

A Índia e o Paquistão permaneceram rivais desde então.

Por que a divisão aconteceu?

Em 1946, a Grã-Bretanha anunciou que concederia a independência à Índia. Não conseguia mais arcar com o domínio sobre o país e queria sair o mais rapidamente possível.

O último vice-rei, Lord Louis Mountbatten, marcou a data para 15 de agosto de 1947.

Naquela época, a população da Índia era aproximadamente 25% muçulmana. O restante era sobretudo hindu. Mas havia também sikhs, budistas, cristãos e membros de outras religiões minoritárias.

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Os principais ativistas da independência, Jawaharlal Nehru (à esquerda) e Mahatma Gandhi (à direita), queriam uma Índia que abraçasse todas as religiões

“Os britânicos usaram a religião como uma forma de dividir as pessoas na Índia em categorias”, diz a professora Navtej Purewal, membro indiana do Conselho de Pesquisa em Artes e Humanidades (AHRC, na sigla em inglês) do governo britânico.

“Por exemplo, eles criaram listas separadas de eleitores muçulmanos e hindus para eleições locais. Havia cadeiras reservadas para políticos muçulmanos e cadeiras reservadas para hindus. A religião se tornou um fator na política.”

“Quando parecia provável que a Índia obteria a independência”, diz Gareth Price, do instituto de política externa Chatham House, com sede no Reino Unido, “muitos indianos muçulmanos ficaram preocupados em viver em um país governado por uma maioria hindu”.

“Eles pensaram que ficariam oprimidos”, afirma.

“E começaram a apoiar líderes políticos que faziam campanha por uma pátria muçulmana separada.”

Mahatma Gandhi e Jawaharlal Nehru, líderes do movimento de independência no Congresso, disseram que queriam uma Índia unida que abraçasse todas as religiões.

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Muhammad Ali Jinnah discordava fortemente de Gandhi sobre a independência

No entanto, Muhammad Ali Jinnah, líder da Liga Muçulmana, exigiu a divisão como parte do acordo de independência.

“Teria levado muito tempo para chegar a um acordo sobre como uma Índia unida funcionaria”, diz Price.

“A divisão parecia ser uma solução rápida e simples.”

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Estima-se que 2 mil pessoas morreram nos Assassinatos de Calcutá em 1946, quando hindus e muçulmanos lutaram nas ruas

Quanto sofrimento a divisão causou?

As novas fronteiras entre a Índia e o Paquistão foram traçadas em 1947 por um funcionário público britânico, Cyril Radcliffe.

Ele dividiu o subcontinente indiano a grosso modo em uma parte central e sul, onde os hindus eram maioria, e duas partes no noroeste e nordeste, em que os muçulmanos eram maioria.

No entanto, havia comunidades hindus e muçulmanas espalhadas por toda a Índia britânica. Isso fez com que, após a divisão, aproximadamente 15 milhões de pessoas se deslocassem — muitas vezes centenas de quilômetros — para cruzar as fronteiras recém-criadas.

Em muitos casos, as pessoas foram expulsas de suas casas pela violência comunitária. O primeiro exemplo disso foram os chamados Assassinatos de Calcutá de 1946, no qual cerca de 2 mil pessoas foram mortas.

“A Liga Muçulmana formou milícias, assim como grupos hindus de direita”, conta Eleanor Newbigin, professora de história do Sul da Ásia na Universidade SOAS, em Londres.

“Grupos terroristas expulsaram as pessoas de suas vilas, para obter mais controle do seu próprio lado.”

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Refugiados sikhs em um acampamento de ajuda humanitária em Amritsar, em 1947/1948 — cerca de 12 a 20 milhões de pessoas foram desalojadas pela divisão

Estima-se que entre 200 mil e um milhão de pessoas foram assassinadas ou morreram em decorrência de doenças em campos de refugiados.

Dezenas de milhares de mulheres, tanto hindus quanto muçulmanas, foram estupradas, sequestradas ou desfiguradas.

Quais foram as consequências da divisão?

Desde a divisão, a Índia e o Paquistão disputam sobre quem tem o controle sobre a província da Caxemira.

Eles travaram duas guerras por causa disso (em 1947-1948 e 1965), e também entraram em confronto na crise de Kargil, em 1999, na Caxemira.

Ambos os países reivindicam a província como sua — e atualmente administram diferentes partes dela.

A Índia também lutou com o Paquistão em 1971, quando interveio para apoiar o Paquistão Oriental (agora Bangladesh) em sua guerra de independência contra o Paquistão.

Menos de 2% da população do Paquistão é hoje hindu.

“O Paquistão se tornou cada vez mais islâmico”, diz Price, “em parte porque grande parte de sua população é agora muçulmana, e há muito poucos hindus lá”.

“E a Índia está agora mais sob a influência do nacionalismo hindu.”

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Partes de Amritsar foram reduzidas a escombros durante os distúrbios de 1947 — os muçulmanos queriam que a cidade fosse parte do Paquistão, e os hindus queriam que permanecesse na Índia

“O legado da divisão é perturbador”, avalia Newbigin.

“Criou maiorias religiosas poderosas em ambos os países. As minorias se tornaram menores e mais vulneráveis ​​do que eram antes.”

A divisão poderia ter sido evitada, segundo a professora Navtej Purewal.

“Poderia ter sido possível em 1947 criar uma Índia unida. Poderia ter sido uma federação de estados, incluindo estados em que os muçulmanos eram a maioria”, diz ela.

“Mas Gandhi e Nehru insistiram em ter um Estado unificado, controlado a partir do centro. Eles, na verdade, não consideraram como uma minoria muçulmana poderia viver nesse tipo de país.”

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