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O humorista, a apresentadora e o bode

No programa Master Chef (7 de setembro), da Band, o humorista Rafael Cortez disse que, entre todas as carnes, “não comeria bode de jeito nenhum; é um bicho incomível”. E a apresentadora Ana Paula Padrão completou, “bode é carne comum no Nordeste brasileiro, é carne para quem tem fome, tem pouca coisa para comer”. Quanto preconceito e ignorância. Perdoai-os, Senhor, eles não sabem o que dizem.  

Só para lembrar, o filho novo do bode e da cabra é o cabrito. Parente distante do cordeiro (filho de carneiro e ovelha). Seus primeiros registros remontam ao Cáucaso e às montanhas do Irã. Na Grécia Antiga, viviam no Olimpo. Tanngnost e Tanngrisni foram bodes escolhidos por Tor, deus do trovão e dos raios, para puxar sua carruagem. Zeus, divindade suprema, foi amamentado por uma cabra, Amaltéia. Em Qumran (Jordânia), outra cabra ficou famosa por pastar entre velhos papéis. Com seus pastores encontrando a cabra perdida junto a manuscritos do Antigo Testamento, até então desconhecidos. No Nordeste brasileiro, o bode se deu bem. Por ser pouco exigente quanto à alimentação e se adaptar bem a qualquer clima, resistindo inclusive às grandes secas. “No Sertão, jumento não morre de fome nem bode de sede”, observou Câmara Cascudo (em História da Alimentação no Brasil). O gosto por esta carne foi herança do colonizador. “Comem os lusitanos (habitantes da Lusitânia, cujas fronteiras não coincidem exatamente com as do Portugal atual) principalmente carne de cabra”, observou o historiador grego Estrabão (63a.C.-24d.C.), autor da monumental Geographia. Dado o forte cheiro (bodum) que desenvolve, a partir dos cinco meses, melhor abatê-lo antes. E são muitas as receitas portuguesas: cabrito estonado à moda de Oleiros; grelhado na brasa, recheado à moda de Barril de Alva; à Transmontana (coxa assada em vinho branco, hortelã e outros temperos, depois empanada em farinha de rosca, voltando ao forno para dourar); à moda de Monção; Chanfana (cozido no vinho); borrego assado; ensopado de cabrito. Por aqui, foram surgindo maneiras novas de preparar esse cabrito: assado, ensopado, grelhado, guisado. Além da buchada, claro. Cabra foi o primeiro animal leiteiro conhecido pelo homem. E, produz, proporcionalmente a seu tamanho, muito mais leite que qualquer outro. Um leite especial, usado inclusive na fabricação de queijos finos – entre eles Limburgse (Holanda), Crottin de Chavignol e Camembert (França), Los Vasques (Espanha), Hardaneger (Noruega). Faltando apenas lembrar uma passagem do Levítico (16, 20-34), o Dia das Expiações. Em que se narra, com riqueza de detalhes, um ritual repetido todos os anos. Com os hebreus descarregando suas iras sobre um pobre bode, para expiar os pecados de Israel. Nascia, então, a expressão “bode expiatório”. Vai ver o humorista e a apresentadora descarregaram seus problemas no pobre do bode.

RECEITAS 


CABRITO (OU CORDEIRO) ASSADO

INGREDIENTES: 


2 pernas de cabrito (ou de cordeiro)


Limão


Sal e pimenta-do-reino


1 ramo de alecrim


5 dentes de alho picado


2 cebolas picadas


3 folhas de louro


3 tomates picados


1 copo de vinagre de vinho tinto


1 copo de vinho tinto seco 


Azeite


1 kg de batata

PREPARO


Lave as pernas do cabrito. Esfregue limão e tempere com sal e pimenta a gosto. Também com alecrim, alho, cebolas, louro, tomates, vinagre e vinho. Deixe por 12h nestes temperos, na geladeira.  


Coloque as pernas em um tacho, junto com todos os temperos. Refogue bem. 

Retire do tacho, coloque em assadeira, regue com azeite e o caldo do cozimento. Asse em forno moderado. Regue, de vez em quando, com o líquido que for juntando.

No meio do cozimento, junte as batatas descascadas e cortadas ao meio. Nem sempre cabrito e batatas ficam prontos ao mesmo tempo. Retire do forno o que assar primeiro. O cabrito estará bom quando estiver dourado. E as batatas, quando estiverem cozidas.  

Sirva o cabrito com batatas, farofa e molho de hortelã (bata no liquidificador 1 maço de hortelã, 125 ml de vinho branco, 100 g de açúcar e sal. Leve ao fogo, deixe ferver e reduzir).

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Fonte: Folha PE
Autor: Letícia Cavalcante

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