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Festa da cocada e pandemia

Tudo começou em 1998, na praia de Maracaípe, em Ipojuca. Quando os moradores fizeram, por brincadeira, uma grande cocada para ser repartida entre eles. A partir daí, não parou mais. Sempre na última semana de julho (ou primeira de agosto) com shows, diversões de todo tipo e muitos turistas em volta da principal estrela da festa, segundo eles “a maior cocada do mundo”. A última edição (a 21ª) foi em 2019. Na receita usaram 1.500 cocos, 400 latas de leite condensado, 500 kg de açúcar e 2 kg de cravos da Índia. E o resultado foi uma cocada gigante com 34 metros de comprimento. Por conta da pandemia não aconteceu o ano passado. E este ano, Nilma Nunes Batista, uma das organizadoras do evento, tenta ainda viabilizar a festa. O mais provável é que a homenagem, a esse que é “o mais brasileiro dos doces”, segundo Gilberto Freyre (em Açúcar) tenha que esperar. Uma pena!


 

Bom lembrar que o coco, com o qual se faz a cocada, nem sempre existiu por aqui. Veio de longe, da Taprobana (hoje Sri Lanka) – uma pequena ilha, ao sul do continente asiático. Lá foi encontrado, pelos navegadores, esse fruto verdadeiramente milagroso. Além de carne branca e saborosa (própria para matar a fome dos homens), em seu interior havia também água. Como podia ser facilmente transportado, nas longas viagens, a partir de então passou a estar sempre a bordo. E ganhou mundo com nomes semelhantes: coco, em Portugal e na Espanha; noix de coco, na França; noce di cocco, na Itália; kokosnuss, na Alemanha; coconut, na Inglaterra e nos Estados Unidos. As primeiras mudas de coqueiro (Cocas nucifera) chegaram ao Brasil em 1553: “Foram os primeiros cocos à Bahia de Cabo Verde, d’onde se enchem a terra”, segundo Gabriel Soares de Sousa (em Tratado descritivo do Brasil em 1587). Naquele tempo, eram conhecidos como coqueiros-da-Bahia. Depois se espalharam, muito rapidamente, por todo o litoral. Algumas mudas nasceram por acaso, de frutos levados às praias pelas correntes marítimas. Mas, sobretudo, foram cultivadas. E acabaram mudando a paisagem de nossa costa, pouco a pouco tomando o lugar da Mata Atlântica existente à época – sobretudo cajueiros e mangabeiras. Em Pernambuco, esse cultivo começou com Maurício de Nassau (1604-1679) – que “fez o sítio com a melhor terra, e pôs nesse jardim dois mil pés de coqueiros …” Tudo como testemunhou frei Manoel Calado (em O valeroso Lucideno).   

Da mistura de técnicas africanas e portuguesas, e do manuseio de ingredientes da terra, foram nascendo por aqui receitas novas. Todas usando (muito) leite de coco. Pratos salgados: aratu, arroz, bacalhau, bobó de camarão, caruru, casquinho de caranguejo, efó, ensopado de camarão, feijão, lagosta, molhos, moqueca, ostra, siri mole, vatapá, xixim-de-galinha. Também doces: angu, baba-de-moça, bom-bocado, canjica, cuscuz, manjar branco, mungunzá, pamonha, pudim, queijadinha, quindim, quindão, tapiocas de todo tipo (molhada, com coco, com queijo); mais bolos (de mandioca, massa puba, milho); mingaus, sorvetes, batida de cachaça.  Além de cocada, branca ou queimada, de cortar ou de colher. No Nordeste se costuma dizer “com leite de coco come-se até areia”.  

Do coqueiro, tudo se aproveita. A água-de-coco, nutritiva e terapêutica, já foi até usada como soro, na Segunda Guerra. A polpa se presta à fabricação de leite de coco e, também, de azeite, margarina, óleo, sabão, vela. A fibra que envolve essa polpa serve para fazer brocha, cabos de navio, capacho, escova, esteira, passadeira, rede, saco. A folha, para coberta de casa, cesto, chapéu, esteira. E o tronco em móveis ou esculturas – com a desvantagem, aqui, de não resistir bem ao tempo. Coco é também remédio para quase tudo: enjoo, diarreia, icterícia, desidratação, coqueluche e tosse braba, vermes. Sem contar que está também em nossa cultura. “Cocada-de-coco-de-coqueiro-da-praia” significa tudo bem explicadinho.

“Quanto maior o coqueiro maior a queda”, sugere que nada nesse mundo é eterno. “Calado como um coco” é não dizer nada. “Tirar coco sem vara” diz-se de pessoa muito alta. “Quenga” é mulher dita de vida fácil. “Coco na bola”, em futebol, é cabeçada. “Subir no coqueiro” é tomar cuidado; e, no jogo de pôquer, parar de apostar. Está em numerosíssimas letras de músicas, nesta terra de sambas e pandeiros, entre elas “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, lançada no carnaval de 1939. Coco é também sinônimo de embolada, em que coquistas vão fazendo versos, usualmente quadras, sobre motes sugeridos pela plateia. E nome de dança popular, nascida em praias nordestinas, com coreografias que remontam a tradições indígenas e africanas. Como se não bastasse, esta fruta dos deuses ainda está presente no hino de Pernambuco: 


Salve! Oh terra dos altos coqueiros!

De beleza soberbo estendal!

Nova Roma de bravos guerreiros

Pernambuco, Imortal! Imortal!

3 cocos ralados

1 coco cortado em pedaços bem pequenos

800 g de açúcar

1 lata de leite condensado

PREPARO: 

· Leve ao fogo coco ralado, coco cortado em pedaços, açúcar e leite condensado.

· Mexa até que solte do fundo da panela. Para que fique com a cor dourada, deixe sem mexer até queimar um pouco no fundo da panela. Mexa novamente, incorporando toda a massa.

· Espalhe em superfície lisa (sem untar) e espere esfriar para cortar.

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Fonte: Folha PE
Autor: Letícia Cavalcante

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