O Recife se despede hoje de uma grande dama da cultura e da militância e da celebração cultural, em suas mais aprofundadas e democráticas raízes. A Secretaria de Cultura e a Fundação de Cultura Cidade do Recife lamentam a morte da atriz e gestora cultural Leda Alves, eterna brincante dos fazeres artísticos que confirmam o povo, as ruas, as belezas e profundezas do Nordeste.
“Leda deixa um sentimento de saudade imenso em todos nós, recifenses, que amamos e valorizamos a cultura. Ela, que era uma verdadeira referência como atriz e ativista cultural, tinha o respeito, o apreço e o carinho do meio artístico. Também foi uma mulher de fibra, que lutou pela democracia, que sempre nos inspirou. E eu tive a oportunidade de crescer aprendendo com Leda, vendo o seu trabalho, vendo a sua vocação para cuidar da cultura e da arte. E ela sempre contribuiu muito para a nossa cidade, inclusive sendo uma grande secretária de Cultura, uma grande defensora da cultura popular, de todos os tipos de manifestação e da linguagem cultural do Recife. Com muito orgulho e gratidão por tudo o que fez, nós vamos criar o Prêmio Leda Alves da Cultura Popular. Anualmente, homenagearemos aqueles que engrandecem este segmento em nossa capital. Então, com grande pesar no coração, eu lamento muito a perda sem tamanho de Leda, mas tenho a convicção de que quem vive como ela viveu, de forma intensa e digna, repleta de coisas boas no coração, com contribuições valiosas a dar para tanta gente que fez e faz a cultura, sabe que Leda estará sempre presente. O seu espírito jamais sairá das nossas mentes e dos nossos corações. Viva, Leda! Obrigado por tudo, minha querida amiga”, ressalta o prefeito João Campos.
“Não existe luta pela cultura sem paixão, coragem e resistência. Leda Alves, ou Dona Leda, como vale na referência a mestras, trouxe tudo isso ao longo da vida. Uma lição que hoje se perpetua como exemplo, legado e inspiração, alguém que sempre teve sua palavra presente. Uma mulher de princípios e práticas cativantes, de sinceros debates pelo que sempre defendeu, de uma firmeza e uma franqueza que não sucumbiam diante de nada. O Recife agradece, por tanto, e segue comprometido com a causa que fez de Leda Alves uma referência, com brilho que ajuda a enxergar valores e caminhos”, afirmou o secretário de Cultura do Recife, Ricardo Mello, que assumiu a gestão cultural municipal após Leda ter passado oito anos no cargo.
“Leda passou uma vida inteira devotada à cultura, como artista e gestora, em todas as perspectivas, sempre construindo e abrindo portas para que a arte encontrasse seus públicos. Delicada e de extrema sensibilidade, era também uma mulher muito firme, indobrável na defesa de seus ideais, sempre comprometida com a cultura popular e secular nordestina. Leda viveu muitas vidas, todas elas dedicadas à cultura”, acrescentou Marcelo Canuto, presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife.
A despeito de todos os protocolos de gênero e sociedade, em cima dos palcos, na plateia ou por trás dos birôs da gestão pública cultural, Leda Alves dedicou uma vida inteira, com devotada paixão e indisfarçável fúria, à realização, fruição e celebração da arte, em todos os caminhos que ela percorre em busca do público.
No teatro, descobriu muito cedo dois amores: pela causa e por um de seus mais aguerridos defensores no Nordeste, Hermilo Borba Filho, com quem Leda viria a se casar. Junto com outros grandes e jovens artistas, empreenderam o sonho do Teatro Popular do Nordeste (TPN), grupo teatral até hoje reconhecido como um importante marco na produção de uma estética cênica única, que contribuiu para a formação da identidade do teatro brasileiro, combinando tradição e subversão, cultura popular nordestina e tragédia grega.
Com formação em Arte Dramática pela Universidade Federal de Pernambuco, Leda também dedicou-se à cultura em sua dimensão social e política, tendo atuado em diferentes instâncias do poder público, com passagens pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Fundação de Cultura Cidade do Recife, Companhia Editora de Pernambuco (CEPE) e, mais recentemente, Secretaria de Cultura do Recife, que conduziu entre os anos de 2013 e 2020.
“Primeiro que tudo, segundo que nada”, como ela mesma gostava de dizer em suas conversas sempre compridas e enfeitadas por sua memória pródiga, Leda Alves foi uma incansável estudiosa, defensora e militante da cultura popular nordestina como causa e casa, freqüentando seus mais autênticos e longevos terreiros. Foram tantas histórias vividas e contadas, que Leda se fez sinônimo do teatro pernambucano, da cultura e do Recife inteiro.
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