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  • Author, Equipe de Jornalismo Visual
  • Role, BBC News

Quase dois milhões de pessoas – a maior parte da população do território – deixaram suas casas na Faixa de Gaza desde que Israel começou sua operação militar em resposta aos ataques mortais do Hamas no dia 7 de outubro passado, segundo os relatos da região.

Gaza está sob o controle do Hamas desde 2007. Israel afirma que está tentando destruir as capacidades militares e de governo do grupo islâmico, que se comprometeu com a destruição do Estado de Israel.

A Faixa de Gaza é um enclave densamente povoado, com 41 km de comprimento e 10 km de largura. Ela é delimitada pelo Mar Mediterrâneo, de um lado, e pelas fronteiras que a separam de Israel e do Egito, de outro.

O território “se tornou simplesmente inabitável”, segundo autoridades das Nações Unidas.

Israel orientou os civis da Faixa de Gaza a evacuar a região ao norte do rio Wadi Gaza, antes da sua invasão nas semanas que se seguiram ao ataque do Hamas.

A área de evacuação incluiu a Cidade de Gaza, até então a área mais densamente povoada do território. O cruzamento da fronteira com Israel em Erez, no norte, está fechado, de forma que a única opção para os moradores foi se dirigir aos distritos do sul da Faixa de Gaza.

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Áreas de evacuação no sul de Gaza

Depois de uma intensa campanha de bombardeios e invasão por terra no norte e na Cidade de Gaza, as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) redirecionaram suas operações para o sul do território.

As principais áreas urbanas do sul da Faixa de Gaza são as cidades de Khan Younis e Rafah. Elas vêm sendo bombardeadas, enquanto as tropas israelenses enfrentam combatentes do Hamas em terra.

Os palestinos – incluindo os que fugiram dos combates no norte – foram orientados para se moverem para uma chamada “área segura” em al-Mawasi, uma estreita faixa composta principalmente de terras agrícolas no litoral do Mediterrâneo, perto da fronteira com o Egito.

Os combates nas cidades de Khan Younis e Deir al-Balah (no centro da Faixa de Gaza) já fizeram dezenas de milhares de pessoas se deslocarem para o distrito de Rafah, segundo as Nações Unidas. Ali, mais de um milhão de pessoas “estão espremidas em um espaço extremamente superocupado”.

Segundo a ONU, cerca de 1,7 milhão de pessoas – pouco mais de 75% da população da Faixa de Gaza – já eram registradas como refugiados antes de Israel alertar os palestinos para que deixassem o norte do território. E mais de 500 mil refugiados viviam em oito campos lotados ao longo da Faixa.

Os refugiados palestinos são definidos pelas Nações Unidas como pessoas cujo “local de residência era a Palestina durante o período de 1º de junho de 1946 a 15 de maio de 1948 e que perderam suas casas e meios de vida em consequência da Guerra de 1948.”

Os alertas de Israel após os ataques de 7 de outubro fizeram com que muitos desses refugiados se unissem às centenas de milhares de pessoas que foram forçadas a deixar suas casas, segundo a ONU.

Como resultado, cerca de 1,7 milhão de palestinos agora se reúnem em abrigos de emergência ou locais informais instalados nas suas proximidades.

Antes do conflito, viviam em Gaza mais de 5,7 mil pessoas por quilômetro quadrado. Esta densidade populacional média é muito próxima de Londres ou da cidade do Rio de Janeiro.

Mas a densidade da Cidade de Gaza, sua região mais populosa, era de mais de 9 mil habitantes/km2. E a ONU afirma que mais da metade da população de Gaza está agora espremida em Rafah – uma cidade que, originalmente, abrigava 250 mil pessoas.

“Suas condições de vida são péssimas”, segundo o coordenador de assistência da ONU, Martin Griffiths. “Eles não têm as necessidades básicas para sobreviver, perseguidos pela fome, pelas doenças e pela morte.”

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A ONU alerta que a superlotação se tornou uma preocupação importante nos abrigos de emergência no sul e na região central da Faixa de Gaza. Alguns deles excederam em muito sua capacidade.

Muitos desses abrigos de emergência são escolas. Em algumas delas, dezenas de pessoas moram em uma única sala de aula.

Outras famílias moram em tendas ou abrigos improvisados, em complexos ou em áreas abertas.

Áreas com novas tendas surgiram perto da fronteira com o Egito, entre o início de dezembro e meados de janeiro. Elas cobrem cerca de 3,5 km2, equivalentes a cerca de 500 campos de futebol.

Imagens de satélite capturadas em 15 de outubro e 14 de janeiro mostram uma mudança dramática. Agora, quase toda a extensão de terra nua acessível em uma área do noroeste de Rafah foi transformada em refúgio para pessoas deslocadas.

Mesmo antes do conflito atual, cerca de 80% da população de Gaza já dependiam de auxílio humanitário. Embora Israel tenha permitido a entrada de alguma assistência do Egito, as agências humanitárias afirmam que a ajuda está longe de ser suficiente.

Segundo essas organizações, metade da população de Gaza passa fome e a maior parte da população frequentemente passa um dia inteiro sem alimento. A organização Save the Children afirma que as pessoas foram forçadas a procurar restos de comida deixados por ratos e a comer folhas, em seu desespero para sobreviver.

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No final de novembro, um cessar-fogo de sete dias permitiu que as agências humanitárias fornecessem, em média, 170 caminhões e 110 mil litros de combustível por dia, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês). A média diária atual é de cerca de 76 caminhões.

Os caminhões humanitários continuam entrando na Faixa de Gaza, mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o fornecimento de ajuda “continua a enfrentar dificuldades quase insuperáveis”, já que a região enfrenta intensos bombardeios, restrições de movimentação, interrupção das comunicações e falta de combustível.

Israel já lançou centenas de ataques aéreos sobre a Faixa de Gaza.

Avaliações da inteligência americana observadas pela rede de TV CNN dão conta que Israel usou mais de 29 mil bombas e mísseis desde o início do conflito, causando extensos danos às edificações e à infraestrutura da região.

A OMS afirma que até 80% da infraestrutura civil (incluindo casas, hospitais, escolas e instalações de saneamento e fornecimento de água) foram destruídos ou severamente danificados. Serão necessários bilhões de dólares de investimento para a recuperação, que deverá levar décadas, segundo a organização.

O programa ambiental da ONU afirma que pode levar de três a 12 anos, apenas para limpar os fragmentos e restos de explosivos deixados pela guerra.

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As autoridades da Faixa de Gaza também alertam que mais de 500 mil pessoas não terão casas para onde voltar. Muitas outras não poderão retornar imediatamente após o conflito, devido aos danos à infraestrutura da região.

O mapa abaixo utiliza dados de satélite que foram analisados por Corey Scher, do Centro de Graduação CUNY, e Jamon Van Den Hoek, da Universidade Estadual de Oregon, ambos nos Estados Unidos. Eles mostram em quais áreas urbanas os danos se concentraram desde o início do conflito.

Os analistas afirmam que pelo menos 150 mil edificações em toda a Faixa de Gaza foram danificadas.

O norte e a Cidade de Gaza sofreram a maior parte dos danos. Acredita-se que pelo menos 80% dos edifícios das duas regiões tenham sido danificados, mas a análise de Scher e Van Den Hoek indica que até 64% das edificações da região de Khan Younis, no sul, também sofreram danos.

Muitas instalações médicas ficaram impedidas de funcionar devido aos danos causados pelas bombas ou pela falta de insumos e combustível.

As Nações Unidas afirmam que a capacidade hospitalar está sobrecarregada e apenas 12 dos 36 hospitais da Faixa de Gaza ainda estão funcionando parcialmente.

Mais de 1,2 mil israelenses e estrangeiros foram mortos durante os ataques do Hamas em 7 de outubro. E quase 30 mil palestinos – incluindo cerca de 8 mil crianças – foram mortos desde então pelos ataques aéreos e pelas operações israelenses, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas.

A BBC vem enfrentando dificuldades para verificar os números exatos, mas a OMS declarou que não vê razões para acreditar que estes números não sejam precisos.

A ofensiva terrestre de Israel

As autoridades israelenses afirmaram inicialmente que os ataques aéreos seriam acompanhados por um “cerco total” de Gaza por Israel, com corte de eletricidade, alimentos e combustíveis, seguido por ações militares em terra.

As IDF começaram suas operações terrestres entrando em Gaza pelo noroeste, ao longo do litoral, e pelo nordeste, perto da cidade de Beit Hanoun. E, poucos dias depois, forças israelenses atravessaram o meio do território até o sul da Cidade de Gaza.

Escavadeiras blindadas abriram caminho para os tanques e as tropas, enquanto as forças israelenses tentavam limpar a área dos combatentes do Hamas baseados no norte de Gaza.

Depois de dividir a Faixa em duas, os israelenses avançaram sobre a Cidade de Gaza, onde enfrentaram resistência do Hamas.

Desde então, as forças de Israel conduziram operações terrestres ao longo de grande parte do norte da Faixa de Gaza, mas ainda há combates em algumas regiões, segundo analistas do think tank (centro de pesquisa e debates) Instituto de Estudos da Guerra (ISW, na sigla em inglês).

A imagem abaixo foi publicada pelas IDF. Ela mostra tanques e escavadeiras blindadas na praia, perto da Cidade de Gaza.

Uma foto da mesma praia, um ano antes, mostra as pessoas aproveitando um dia quente de verão. Famílias tomam banho de mar ou se sentam na areia, ocupando toda a praia.