O Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) aprovou nesta segunda-feira (25/3) uma resolução inédita pedindo “cessar-fogo imediato” em Gaza.
A resolução foi aprovada num momento em que os Estados Unidos mudaram de posição sobre o tema e se abstiveram de votar.
O texto também exige a libertação imediata e incondicional de todos os reféns mantidos pelo Hamas.
O órgão estava em um impasse desde o início da guerra, em outubro, fracassando repetidamente em chegar a acordo sobre um pedido de cessar-fogo.
A ação dos EUA sinaliza uma divergência crescente entre eles e seu aliado Israel sobre a ofensiva do país em Gaza.
Em resposta, Israel cancelou a visita de uma delegação aos EUA esta semana. Mas o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, que já está em Washington, continuará a realizar reuniões com os americanos.
Os EUA dizem que estão “muito decepcionados” com o cancelamento.
Washington tem criticado Israel pelo crescente número de vítimas em Gaza, com mais de 32 mil pessoas – principalmente mulheres e crianças – mortas pelos bombardeios israelenses, de acordo com o Ministério da Saúde do território, administrado pelo Hamas.
Os EUA também pressionam Israel para que o país faça mais para que ajuda humanitária seja entregue a Gaza, onde toda a população sofre graves níveis de insegurança alimentar aguda.
A ONU acusa Israel de obstruir a ajuda; já Israel culpa a ONU, acusando-a de não realizar as distribuições de suprimentos.
A guerra eclodiu em 7 de outubro, depois de o Hamas, grupo islâmico palestino que governa Gaza, ter conduzido um ataque contra Israel, matando cerca de 1.200 pessoas, segundo cálculos israelenses, e levando 253 pessoas para Gaza como reféns.
O Conselho de Segurança da ONU tem cinco membros permanentes (China, Rússia, França, Reino Unido e Estados Unidos) e 10 membros não permanentes eleitos a cada dois anos.
A resolução pelo pedido de cessar-fogo foi aprovada por 14 votos a zero, com uma abstenção – dos EUA
O secretário geral da ONU, Antonio Guterres, disse que a decisão de hoje precisa ser implementada para garantir o cessar-fogo e a libertação incondicional e imediata de todos os reféns.
“Um fracasso seria imperdoável”, disse ele no X.
Guterres pediu repetidamente a Israel para conceder acesso “total” a itens humanitários em toda Gaza, onde a ONU afirma que cerca de 1,1 milhões de pessoas enfrentam uma fome catastrófica.
Riyad Mansour, o representante palestino na ONU, disse que foram necessários “mais de 100 mil palestinos mortos e mutilados… para que este conselho finalmente exigisse um cessar-fogo imediato” – e que foi um “voto para que a humanidade prevaleça.”
A motivação americana
A embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, explicou porque os EUA se abstiveram de votar em vez de decidir pelo “sim”.
Ela citou uma resolução anterior proposta pelos EUA e que foi bloqueada pela Rússia e pela China, pois “eles ainda não conseguem condenar os ataques terroristas do Hamas “
“Eles demonstraram repetidamente que não estão realmente interessados em promover uma paz duradoura através de esforços diplomáticos”, afirmou.
O país não votou “sim”, disse Thomas-Greenfield, pois alguns pontos importantes não foram mencionados na resolução aprovada – especialmente a condenação do Hamas.
“No entanto, como disse antes, apoiamos plenamente alguns dos objetivos centrais desta resolução não vinculativa”, afirmou a diplomata.
“E acreditamos que era importante que o conselho se manifestasse e deixasse claro que qualquer cessar-fogo deve vir acompanhado da libertação de todos os reféns”.
A resposta de Netanyahu
Pouco depois da aprovação da resolução, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, acusou os EUA de um “recuo claro” da sua posição anterior.
“A resolução de hoje dá ao Hamas esperança de que a pressão internacional forçará Israel a aceitar um cessar-fogo sem a libertação dos nossos reféns, prejudicando assim tanto o esforço de guerra como o esforço para libertar os reféns”, afirmou o lider em um comunicado divulgado pelo governo.
O porta-voz da Casa Branca, John Kirby, afirmou que o governo americano “não mudou seu posicionamento”.
Fonte: BBC
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