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Captura de tela do vídeo mostra mulher com uma corrente em volta do pescoço

  • Author, Frances Mao*
  • Role, BBC News em Cingapura

Um tribunal chinês determinou a prisão de seis pessoas no caso de uma mulher que foi encontrada acorrentada em um vilarejo em 2022.

O caso horrorizou o país e desencadeou uma promessa de repressão ao tráfico de pessoas.

O marido da vítima foi condenado a 9 anos de prisão por torturas, maus-tratos e por mantê-la em cativeiro. Outras cinco pessoas foram condenadas a penas entre 8 e 13 anos.

Mas muitos dos que reagiram à decisão judicial na sexta-feira (7/4) disseram que as sentenças são leves demais e que faltam reformas.

A difícil situação da mulher, Xiaohuamei, ficou conhecida em janeiro de 2022, quando um vlogger chinês a encontrou morando em uma cabana de terra fora da casa de sua família, no vilarejo perto de Xuzhou, província de Jiangsu, com uma corrente de ferro em volta do pescoço.

O vídeo feito pelo vlogger do condado de Fengxian viralizou. Nele, ele expressou preocupação com o tráfico humano, observando que Xiaohuamei, com cerca de 40 anos, era mãe de oito filhos e parecia “atordoada” e mentalmente incapacitada.

O caso chamou a atenção da opinião pública chinesa. Muitos internautas fizeram uma incansável campanha em busca de justiça para a mulher.

A princípio, as autoridades locais descartaram um possível caso de tráfico, alegando que o casal tinha certidão de casamento legítima e que só tinham problemas conjugais.

As autoridades também repetiram o argumento do marido, Dong Zhimin, de que Xiaohuamei foi presa porque ela sofria de esquizofrenia e era propensa a ataques violentos.

No entanto, tais declarações apenas alimentaram a indignação pública.

A crítica foi inflada por muitos internautas de que as autoridades fecharam os olhos para o caso da mulher e, potencialmente, de outras vítimas.

Uma investigação criminal foi aberta e a polícia prometeu reprimir o tráfico de mulheres e crianças.

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Polícia prometeu reprimir o tráfico de mulheres e crianças

Tortura e maus tratos

Muitos detalhes do caso foram confirmados pela primeira vez nesta semana durante o julgamento.

O tribunal concluiu que Xiaohuamei foi sequestrada quando adolescente, em 1998, na província de Yunnan, onde ela nasceu, e vendida a um fazendeiro na província de Donghai por 5.000 yuans, cerca de US$ 600 (R$ 3.000) na época.

Um ano depois, ela foi vendida novamente para outros traficantes. Desta vez, foi um casal que organizou sua venda para o pai de Dong.

De acordo com os juízes, quando ela chegou à casa de Dong, Xiaohuamei era “basicamente capaz de cuidar de si mesma e se comunicar com os outros”.

Dong forçou Xiaohuamei a ter filhos: o primeiro em 1999 e depois outros sete, de 2011 a 2020.

Depois do terceiro filho, a esquizofrenia de Xiao piorou. Em resposta, Dong tornou-se mais abusivo, disse o Tribunal Popular Intermediário na cidade de Xuzhou, província de Jiangsu.

Em 2017, ele a tirou da casa da família e a levou para uma cabana ao ar livre, onde a manteve amarrada com cordas e correntes de pano. A cabana não tinha água, eletricidade ou luz e muitas vezes ele negava comida à vítima.

Yao Hui, o juiz que comandou o julgamento, afirmou que Dong nunca levou a esposa ao médico quando ela estava doente e que ele a engravidou repetidamente, apesar de sua condição.

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As sentenças para crimes de tráfico de pessoas na China geralmente são limitadas a 10 anos

Pedidos por mudança na lei

Nos últimos dias, a notícia das sentenças se espalhou pela rede social Weibo, onde recebeu mais de 100 milhões de visualizações na primeira hora após o veredicto.

A maioria dos usuários expressou raiva e desapontamento em relação às sentenças. “Tão pouco depois de arruinar a vida de alguém?”, escreveu um usuário da rede.

Entre outros comentários, também disseram: “é toda a vida dela, mas apenas nove anos para ele” e “nove anos não é tempo suficiente para ela dar à luz oito vezes”.

No entanto, outros observaram que as sentenças para crimes de tráfico geralmente são limitadas a dez anos.

Em 2022, os ativistas pressionaram pela reforma da lei, argumentando que essas penalidades leves não impediriam vendedores e compradores de praticar o comércio ilegal de mulheres.

“Mudem a lei, a sentença é muito leve”, escreveu um usuário na discussão virtual na sexta-feira.

Alguns também perguntaram sobre a situação atual de Xiaohuamei.

Em 2022, ela foi transferida para um centro médico, onde permanece internada, segundo a imprensa chinesa.