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Julian Assange pediu asilo na embaixada do Equador em Londres em 2012

O ativista Julian Assange, fundador do site WikiLeaks, vai passar novamente por um julgamento no Reino Unido na terça-feira (20/02), naquela que poderá ser a sua última tentativa de evitar a extradição para os Estados Unidos.

Assange, que está em uma prisão na Inglaterra desde 2019, é procurado pelos EUA por divulgar arquivos militares considerados secretos entre 2010 e 2011.

Assange ganhou reputação em seu país como programador quando era adolescente.

Em 1995, ele foi multado por crimes cibernéticos em um tribunal da Austrália, seu país natal, e só evitou a pena de prisão porque prometeu não cometer a infrações novamente.

Em 2006, Assange fundou o WikiLeaks. O projeto afirma ter publicado mais de dez milhões de documentos, incluindo muitos relatórios oficiais confidenciais relacionados a guerras, espionagem e corrupção.

Em 2010, o WikiLeaks divulgou um vídeo de um helicóptero militar dos EUA que mostrava 18 civis sendo mortos na capital do Iraque, Bagdá.

Também publicou milhares de documentos confidenciais fornecidos Chelsea Manning, ex-analista de inteligência do Exército dos EUA.

Esses arquivos indicavam que os militares dos EUA tinham matado centenas de civis em incidentes não relatados oficialmente durante a guerra no Afeganistão.

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A Suprema Corte do Reino Unido já havia decidido a favor da extradição de Assange – o que ainda não chegou a ser efetivado

Como o governo dos EUA reagiu ao WikiLeaks?

Em 2019, o Departamento de Justiça dos EUA descreveu os vazamentos do WikiLeaks como “um dos maiores vazamentos de informações confidenciais na história dos Estados Unidos”.

Os advogados das autoridades americanas afirmaram que a publicação da informação colocou indivíduos identificados no Afeganistão e no Iraque em “risco de danos graves, tortura ou mesmo morte”.

Assange insistiu que os arquivos expunham abusos graves por parte das forças armadas dos EUA e que o processo contra ele tinha motivação política.

Ele foi acusado por 18 crimes, como conspirar para invadir bancos de dados militares com o objetivo de conseguir informações confidenciais.

As autoridades dos EUA iniciaram um processo de extradição para levar Assange ao país.

Se for condenado, seus advogados dizem que ele pode pegar até 175 anos de prisão. No entanto, o governo dos EUA afirma que uma sentença entre quatro e seis anos é mais provável.

Por que Assange não foi enviado aos EUA?

O pedido de extradição dos EUA é de 2019, e foi concedido após uma série de audiências judiciais, mas Assange passou vários anos lutando para anular a decisão.

Ele foi enviado para a prisão de alta segurança de Belmarsh, em Londres, em 2019, e lá foi mantido enquanto o caso de extradição dos EUA avançava na Justiça.

Em 2021, o Tribunal Superior da Inglaterra decidiu que ele deveria ser extraditado, rejeitando as alegações de que a sua saúde mental precária significava que ele poderia se suicidar em uma prisão dos EUA.

Em 2022, o tribunal manteve essa decisão e a então secretária do Interior, Priti Patel, confirmou a ordem de extradição.

Assange voltará ao Tribunal Superior nos dias 20 e 21 de fevereiro de 2024 para uma audiência de revisão de uma decisão anterior do tribunal, que lhe recusou permissão para recorrer.

Seus apoiadores disseram que essa pode ser a última etapa antes da extradição.

No entanto, seus advogados também recorreram ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, pedindo que a extradição seja revertida.

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Da embaixada no Equador, Assange dizia que os EUA promoviam uma ‘caça às bruxas’ contra o WikiLeaks

Por que Assange morava na embaixada do Equador?

As autoridades suecas emitiram um mandado de prisão contra Assange em 2010, acusando o ativista de abusar sexualmente de uma mulher e de molestar outra enquanto estava no país.

Ele negou os crimes, afirmando que as acusações eram “infundadas”.

A Suécia também pediu ao Reino Unido a extradição de Assange, que foi detido preventivamente sob fiança.

Seguiram-se dois anos de batalhas legais, mas em 2012, o Supremo Tribunal do Reino Unido decidiu que ele deveria ser extraditado para a Suécia para interrogatório.

No entanto, ele procurou asilo político na embaixada do Equador. A concessão foi concedida pelo então presidente do país, Rafael Correa, que apoiava o Wikileaks.

Assange passou sete anos na embaixada e era regularmente visitado por celebridades, incluindo a cantora Lady Gaga e a atriz Pamela Anderson.

Em abril de 2019, o então novo presidente do Equador, Lenin Moreno, ordenou que Assange deixasse a embaixada devido ao seu “comportamento descortês e agressivo”, reclamações sobre a sua higiene pessoal e suspeitas de que estava acessando documentos de segurança da embaixada.

Assange foi detido dentro da embaixada pela polícia britânica e depois julgado por não se submeter aos tribunais para ser extraditado para a Suécia, o que constituiu uma violação das condições da sua fiança.

Ele foi condenado a 50 semanas de prisão.

Em novembro de 2019, as autoridades suecas desistiram do processo contra Assange porque os supostos crimes teriam prescrito.

Vida de hacker

Assange normalmente evita falar sobre seu passado, mas o interesse da mídia desde o surgimento do WikiLeaks trouxe algumas ideias sobre as influências que teve.

Ele nasceu em Townsville, no Estado australiano de Queensland, em 1971, e teve uma infância sem raízes enquanto seus pais dirigiam um teatro itinerante.

Ele foi pai aos 18 anos e não demorou a enfrentar batalhas jurídicas pela guarda da criança.

Já no desenvolvimento da internet, o australiano viu a chance de usar suas habilidades em matemática – um caminho que também lhe trouxe problemas.

Em 1995, ele foi acusado, junto com um amigo, de dezenas de atividades hackers.

Embora o grupo que integravam fosse experiente o bastante para rastrear os detetives que os monitoravam, Assange acabou sendo pego e se declarando culpado.

Ele foi multado em vários milhares de dólares australianos – escapando da pena de prisão sob a condição de que não voltaria a cometer tais crimes.

Após o episódio, ele passou três anos escrevendo um livro com Suelette Dreyfus – pesquisadora que estava estudando o emergente lado subversivo da internet. A obra, chamada Underground, se tornou um best-seller.

Dreyfus descreveu Assange como um “pesquisador muito qualificado” que estava “bastante interessado no conceito de ética, em conceitos de justiça, no que os governos deveriam e não deveriam fazer”.

A isso se seguiu um curso de física e matemática que ele fez na Universidade de Melbourne, onde virou um destacado membro da sociedade matemática e inventor de um elaborado quebra-cabeça em que seus contemporâneos dizem que teria se superado.

Ele lançou o WikiLeaks em 2006 com um grupo de ativistas que compartilhavam visões semelhantes às dele, criando métodos especiais para receber secretamente materiais sigilosos, candidatos a vazamentos.

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Assange lançou o WikiLeaks em 2006

“Para manter nossas fontes seguras, tivemos que espalhar recursos, criptografar tudo e mudar telecomunicações e pessoas ao redor do mundo para ativar leis de proteção em diferentes jurisdições nacionais”, disse Assange à BBC, em 2011.

“Nós ficamos bons nisso, e nunca perdemos um caso, ou uma fonte, mas não podemos esperar que todos passem pelos esforços extraordinários que nós fazemos.”

Ele adotou um estilo de vida nômade, administrando o WikiLeaks de locais provisórios e itinerantes.

Assange conseguia passar longos períodos sem comer, e se concentrar no trabalho com poucas horas de sono, segundo Raffi Khatchadourian, repórter da revista New Yorker, que passou várias semanas viajando com ele.

“Ele cria essa atmosfera a seu redor, onde as pessoas próximas querem cuidar dele, para ajudá-lo a seguir em frente. Eu diria que isso provavelmente tem a ver com o seu carisma.”

O WikiLeaks e Assange ganharam destaque com a divulgação de um vídeo mostrando um helicóptero americano atirando em civis no Iraque.

Ele promoveu e defendeu o vídeo, bem como a liberação maciça de documentos militares confidenciais dos Estados Unidos sobre as guerras do Afeganistão e do Iraque em julho e outubro de 2010.

O WikiLeaks continuou divulgando novas levas de documentos, incluindo cinco milhões de e-mails confidenciais da empresa americana de inteligência Stratfor.

Em meio aos vazamentos, também se viu, no entanto, lutando para sobreviver em 2010, quando várias instituições financeiras dos EUA começaram a bloquear doações que recebia.