- Author, Redação
- Role, BBC News Mundo
Saída de turistas, protestos, fechamento de empresas e uma “greve por tempo indeterminado”.
Esse é atual cenário em Machu Picchu, o icônico sítio arqueológico do Peru considerado uma das sete maravilhas do mundo moderno.
A situação conturbada ocorre depois que uma empresa privada, a Joinnus, assumiu a comercialização dos ingressos do local.
Os manifestantes consideram que a novidade representa uma “privatização sistemática” da cidade inca e, pelo quarto dia consecutivo desde quinta-feira (25/01), os operadores turísticos e moradores mantiveram os seus negócios fechados e bloquearam o acesso à região em protesto.
As atividades dos trens que levam as pessoas ao parque arqueológico também foram suspensas por precaução, causando a saída às pressas de centenas de turistas.
O que pedem os manifestantes?
Os manifestantes exigem o cancelamento do contrato com a Joinnus.
Após negociações infrutíferas entre os ministros da Cultura e do Comércio Exterior e Turismo, o prefeito de Machu Picchu e o governador Werner Salcedo declararam neste domingo (28/1) a “radicalização” da greve.
Grande parte dos protestos são dirigidos contra a ministra da Cultura peruana, Leslie Urteaga, a quem culpam por permitir a venda de ingressos pela Joinnus.
“Ministra da Cultura, não alugue Machu Picchu, alugue sua casa”, dizia uma das faixas carregadas pelos manifestantes.
Eles também questionam “a cobrança de uma comissão de 3,9% por ingresso vendido” pela empresa, segundo comunicado do coletivo popular de Machu Picchu.
Urteaga negou que a venda de ingressos estivesse sendo privatizada, defendeu que “Machu Picchu pertence a todos os peruanos” e propôs uma mesa de diálogo para encontrar uma solução.
A empresa Joinnus, por outro lado, disse que se colocou “à disposição” do Ministério da Cultura para iniciar um novo processo seletivo caso seja necessário e que “renunciou voluntariamente ao recebimento da comissão variável por ingresso por um período de seis meses.”
Mas essas declarações não parecem ter acalmado os manifestantes, que aguardam agora o resultado de negociações marcadas para essa terça-feira, 30 de janeiro.
Turismo afetado
O turismo está sendo a grande vítima da paralisação por tempo indeterminado.
Centenas de visitantes não conseguiram acessar a atração turística ou voltar para suas acomodações, o que levou as autoridades a intervir para realojá-los.
Vários veículos de imprensa publicaram imagens de turistas completando a viagem a Machu Picchu a pé e sob chuva.
Carlos González, presidente da Câmara de Comércio e Turismo de Ollantaytambo, outro importante ponto de acesso às ruínas, estimou em até 1.800 o número de turistas que precisaram ser retirados.
A Defensoria Pública do Peru “rechaçou o bloqueio de estradas pelos manifestantes” e insistiu que “todas as reivindicações devem ser canalizadas para o diálogo”.
O direito de protestar “não dá poder aos manifestantes para impedir a livre circulação ou afetar os direitos de outras pessoas”, acrescentou a defensoria.
Os fechamentos também prejudicaram a economia local.
Roland Llave, reitor da Faculdade deTurismo de Cuzco, disse à rádio peruana RPP que “o impacto é de milhões de soles” para as famílias da região. Elas dependem em grande parte do fluxo de viajantes que precisam de guias, hotelaria e alojamento.
Machu Picchu, declarado em 1983 Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), enfrentou vários desafios nos últimos tempos.
No final de dezembro, os ministérios da Cultura, do Comércio Exterior e do Turismo e do Meio Ambiente anunciaram o aumento do número de visitantes para até 5.600 pessoas em dias específicos e 4.500 em datas comuns.
Durante décadas, Machu Picchu sofreu problemas de conservação e sustentabilidade devido ao elevado número de visitantes.
Em setembro, o próprio Ministério da Cultura anunciou o encerramento da visita a três setores da cidade inca devido ao desgaste dos seus elementos líticos.
Antes, no início de 2023, a atração ficou fechada por cerca de um mês devido a bloqueios feitos por protestos contra o governo.
Fonte: BBC
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