A Coreia do Sul apresentou na segunda-feira (6/3) um plano para indenizar um grupo de cidadãos forçado a trabalhar em fábricas do Japão durante a 2ª Guerra Mundial.
O objetivo é resolver um conflito histórico que prejudica as relações entre os dois países por muitos anos.
No entanto, a decisão gerou forte controvérsia na Coreia do Sul, a ponto de algumas das vítimas se recusarem a aceitar a compensação.
Enquanto as autoridades sul-coreanas e japonesas descreveram o acordo como um grande avanço, oponentes fizeram muitas críticas, acusando o Japão de se isentar de sua responsabilidade com as vítimas.
Cerca de 150.000 coreanos foram forçados a trabalhar em fábricas e minas no Japão durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945).
Naquela época, o Japão dominava toda a Península Coreana, território que colonizou de 1910 até sua derrota na guerra em 1945.
O acordo prevê que empresas sul-coreanas contribuam com um fundo público de compensação das vítimas, algo que incomoda parte das vítimas e suas famílias, que consideram que a indenização deve ser paga pelas empresas japonesas envolvidas.
O governo do Japão celebrou a decisão de Seul de não pedir às entidades japonesas que pagassem a compensação, algo que as administrações sul-coreanas anteriores haviam exigido.
Manifestantes se reuniram nesta segunda em frente ao Ministério das Relações Exteriores, no centro de Seul, para condenar o plano.
Um obstáculo na relação
Em 2018, a Suprema Corte da Coreia do Sul reconheceu o direito de 15 vítimas de trabalho forçado de receber uma indenização empresa de aço Nippon Steel e da divisão da indústria pesada da Mitsubishi.
As duas empresas japonesas se recusaram a cumprir a decisão, o que gerou desconforto na sociedade sul-coreana, tensionou as relações entre os dois países e abriu as portas para a possibilidade de que as autoridades de Seul tenham desperdiçado ativos das subsidiárias locais de ambas as empresas.
Em retaliação, o governo japonês impôs controles de exportação à Coreia do Sul de três materiais-chave para a fabricação de chips e telas de celulares, e eliminou o vizinho de sua lista de parceiros comerciais preferenciais.
Seul também anunciou na segunda-feira, juntamente com a apresentação do plano, que retirará uma queixa feita à Organização Mundial do Comércio (OMC) por esse boicote e que ambos os países iniciarão consultas bilaterais para normalizar a situação nas alfândegas.
O presidente da Coreia do Sul, o conservador Yoon Suk-yool eleito no ano passado, tenta recuperar as relações com o Japão.
Os Estados Unidos pressionaram os dois países, ambos grandes aliados na região, para melhorar suas relações.
O presidente dos EUA, Joe Biden, descreveu o plano como “inovador”.
Seul afirma que as empresas sul-coreanas que se beneficiaram de um tratado de 1965 no pós-guerra devem pagar as indenizações.
As vítimas
O fundo de US$ 3 milhões (R$ 15,5 milhões) será distribuído entre as famílias das 15 vítimas que prestaram queixa originalmente, das quais apenas três ainda estão vivas.
As três anunciaram que se recusarão a aceitar o dinheiro.
O ministro das Relações Exteriores da Coreia do Sul, Park Jin, justificou a proposta, alegando que quebrar o “círculo vicioso” com o Japão em torno dessa questão é de interesse nacional.
Ele indicou seu desejo de que Tóquio “responda positivamente, com contribuições voluntárias de empresas japonesas e um pedido de desculpas integrais”, informou a agência de notícias sul-coreana Yonhap.
“Se compararmos com um copo de água, acho que é mais da metade”, disse ele à imprensa.
O chanceler do Japão, Yoshima Hayashi, também elogiou o plano e indicou que seu governo permitirá que as empresas do país ingressem no fundo público.
E expressou sua esperança de que, a partir de agora, trocas políticas e culturais entre os dois vizinhos sejam estendidas.
No entanto, os grupos que representam as vítimas na Coreia do Sul criticaram o projeto.
“O governo coreano concede imunidade em suas obrigações legais com as empresas japonesas acusadas”, disse os advogados das vítimas em comunicado.
“Não aceitarei dinheiro que parece implorado”, protestou uma vítima, Yang Geum-Zok, de acordo com a Yonhap.
Ele alegou que os envolvidos no Japão “devem se desculpar primeiro e depois trabalhar em todo o resto”.
O principal líder do Partido Democrata da oposição da Coreia do Sul, Lee Jae-Myung, descreveu a proposta como “a maior humilhação e mancha na história da diplomacia”.
Não está claro se as empresas japonesas mencionadas na decisão judicial de 2018 farão contribuições voluntárias.
O tratado de 1965
A Mitsubishi e a Nippon Steel não se pronunciaram sobre o novo acordo, pois ambas sustentam que a compensação pelos períodos de guerra foi resolvida com o tratado de 1965.
Esse acordo incluiu um pacote de reparo de cerca de US$ 800 milhões (R$ 4,1 bilhões) em subsídios e empréstimos vantajosos do Japão à Coréia do Sul.
Tóquio sustenta que o tratado resolveu todas as reivindicações relacionadas ao período colonial, mas os governos sul-coreanos questionaram essa ideia nas últimas décadas.
Espera-se que o novo plano permita que ambos os países superem um obstáculo importante em seu relacionamento e, assim, passem a cooperar mais em questões de segurança em um momento em que as ameaças da Coreia do Norte e da China aumentam.
As disputas bilaterais que datam da colonização também incluem o delicado tema da indenização para mulheres coreanas que foram sexualmente escravizadas pelo Japão durante a 2ª Guerra Mundial.
Em 2015, um acordo foi assinado para resolver a disputa relacionada às chamadas ‘mulheres de conforto’. Incluía um pedido de desculpas do Japão e a criação de um fundo de 1.000 milhões de ienes (R$ 37 milhões) para as sobreviventes.
No entanto, três anos depois, a disputa diplomática foi reaberta quando Seul dissolveu o fundo sob o argumento de que não foi feito o suficiente pelas vítimas.
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