- Paul Organe e Andrew Webb
- BBC World Service
Um novo medicamento, exames de sangue e uma vila especializada estão entre os quatro avanços que deram esperança às pessoas que vivem com Alzheimer nos últimos quatro anos. E mais progresso pode estar a caminho para ajudar todos — jovens e idosos — em famílias que lidam com demência.
Houve avanços significativos nos últimos anos, quatro dos quais listamos abaixo para marcar o Dia Mundial de Alzheimer, em 21 de setembro.
O que é Alzheimer?
A doença de Alzheimer é a causa mais comum de demência em idosos, afetando mais de 55 milhões de pessoas, de acordo com a Alzheimer’s Disease International.
O nome é uma referência a Dr. Alois Alzheimer. Em 1906, ele notou mudanças no tecido cerebral de uma mulher que havia morrido com sintomas que incluíam perda de memória e problemas de linguagem.
Sara Imarisio, chefe de pesquisa da Alzheimer’s Research UK, disse à BBC: “A pesquisa está melhorando a forma como diagnosticamos, prevenimos e tratamos a doença de Alzheimer. Muitos anos de financiamento de pesquisas pioneiras, apoiando pessoas brilhantes com ideias ousadas nos levaram a este ponto, com vários tratamentos potenciais de Alzheimer no horizonte”.
1. ‘Grande salto’ da pesquisa de influência genética (2022)
Um estudo marco, divulgado neste ano, vinculou pela primeira vez 42 genes extras à doença de Alzheimer.
Cientistas de oito países, incluindo França, Estados Unidos, Reino Unido e Austrália, analisaram o material genético de 111 mil pessoas com Alzheimer.
Eles identificaram 75 genes associados a um risco aumentado de desenvolver a doença, incluindo 42 não previamente implicados na condição.
Suas descobertas, publicadas na Nature Genetics, sugerem que a doença de Alzheimer é causada por muitos fatores, com evidências de que existe uma proteína específica envolvida na inflamação.
A coautora do estudo, Julie Williams, descreveu o trabalho como “um grande salto em nossa missão de entender a doença de Alzheimer e, finalmente, produzir vários tratamentos necessários para retardar ou prevenir a doença”.
“Os resultados apoiam nosso crescente conhecimento de que a doença de Alzheimer é uma condição extremamente complexa, com múltiplos gatilhos, vias biológicas e tipos de células envolvidos em seu desenvolvimento.”
Outra pesquisa mostrou que fatores de estilo de vida — como tabagismo e certas dietas — influenciam quem pode desenvolver a doença de Alzheimer. Mas os pesquisadores acreditam que a genética representa o maior risco.
2. Aldeia de Alzheimer (2020)
Uma nova abordagem para cuidar e tratar a doença de Alzheimer são as vilas construídas especificamente para os pacientes viverem uma vida aparentemente normal, mas com a vigilância dos cuidadores.
A França criou uma vila dedicada à doença de Alzheimer em 2020, inspirada em uma “vila de demência” na Holanda.
Está localizada em Dax, no sudoeste da França, e oferece uma mercearia, salão de cabeleireiro e recitais de música. Foi projetada para se parecer com a tradicional “bastide” medieval — uma cidade fortificada comum na área local de Landes — para manter um senso de normalidade.
O arquiteto responsável disse ao jornal Le Monde que a vila não teria qualquer cerca visível, e sim caminhos seguros, bem integrados na vida social e cultural da cidade.
Madeleine Elissalde, de 82 anos, foi uma das primeiras a se mudar.
“É como estar em casa”, disse Elissalde. “Somos bem atendidos.”
Aurore, neta de Elissalde, disse: “Sua perda de memória é menos grave”. “Ela está feliz, ela redescobriu seu prazer de viver.”
Um resultado desta vila de Alzheimer é que as pessoas que vivem perto dela parecem estar mudando suas opiniões sobre aqueles que vivem com Alzheimer.
Uma pesquisa com pessoas na cidade anfitriã da vila foi publicada pela Associação de Alzheimer em agosto de 2022. E mostrou uma classificação mais baixa no sentimento de aversão por pessoas com Alzheimer após a abertura da vila, em comparação com outra cidade sem vila de Alzheimer, onde as atitudes permaneceram as mesmas.
3. EUA aprovaram o primeiro novo medicamento para Alzheimer em 20 anos (2021)
O primeiro novo tratamento para a doença de Alzheimer em quase 20 anos foi aprovado por reguladores nos EUA em junho de 2021.
O aducanumab tem como alvo a causa subjacente da doença de Alzheimer, a forma mais comum de demência, em vez de seus sintomas.
Em março de 2019, os ensaios internacionais de estágio avançado do aducanumab, envolvendo cerca de 3.000 pacientes, foram interrompidos. Seguiu-se uma análise mostrando que o medicamento, administrado como uma infusão mensal, não era melhor em retardar a deterioração da memória e problemas de pensamento do que um placebo.
Mas mais tarde no mesmo ano, a fabricante americana Biogen analisou mais dados e concluiu que a droga funcionava, desde que fosse administrada em doses mais altas.
A empresa também disse que diminuiu significativamente o declínio cognitivo.
No entanto, em dezembro de 2021, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) negou aprová-lo. A EMA disse que o aducanumab não parece ser eficaz no tratamento de adultos com sintomas iniciais da doença de Alzheimer.
Na época de sua aprovação nos EUA, vários cientistas disseram que havia poucas evidências de testes de benefício, apesar de ter como alvo o amiloide — uma proteína que forma aglomerados anormais no cérebro de pessoas com Alzheimer.
O novo medicamento é vendido nos EUA, mas há dúvidas em outros lugares sobre sua eficácia.
4. Exames de sangue antes que os sintomas de Alzheimer apareçam (2019)
Cientistas disseram em 2019 que poderiam identificar com precisão as pessoas com propensão à doença antes que os sintomas apareçam.
Cientistas dos EUA foram capazes de usar os níveis de amiloide no sangue para ajudar a prever seu acúmulo no cérebro.
Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Washington, no Estado americano de Missouri, escrevendo na publicação Neurology, mediram os níveis da proteína beta amiloide no sangue de 158 adultos com mais de 50 anos. Eles queriam ver se exames cerebrais mostravam níveis semelhantes.
As análises mostraram níveis semelhantes, mas em apenas 88% das vezes — o que não é preciso o suficiente para um teste de diagnóstico.
Quando os pesquisadores combinaram essas informações com outros dois fatores de risco para a doença — ter mais de 65 anos e pessoas com uma variante genética chamada APOE4 — a precisão do exame de sangue melhorou para um nível de 94%.
Especialistas britânicos ouvidos pela BBC em 2019 disseram que os resultados eram promissores — e um passo em direção a um exame de sangue confiável para detectar Alzheimer.
No entanto, especialistas médicos também alertam contra a confiança em exames de sangue no momento.
A Associação de Alzheimer dos EUA diz: “vários testes de triagem de demência foram comercializados diretamente para os consumidores. Nenhum desses testes foi cientificamente comprovado como sendo preciso”.
A entidade recomenda o diagnóstico de um médico avaliando uma série de fatores: “Por essas e outras razões, a Associação de Alzheimer acredita que os testes de triagem domiciliar não podem e não devem ser usados como substitutos de um exame completo por um médico qualificado”.
Em resumo, há um potencial para exames de sangue para Alzheimer, mas o diagnóstico de um médico que avalia o comportamento do paciente é crucial para determinar se existem sintomas.
Futuro do tratamento de Alzheimer e demência
De acordo com Sara Imarisio, chefe de pesquisa da entidade Alzheimer’s Research UK, existem mais de 150 medicamentos em ensaios clínicos para a doença. Mas o processo de aprovação para uso em pacientes é demorado.
“No futuro, as estratégias de prevenção que combinam tratamentos com medicamentos e mudanças no estilo de vida podem ser a estratégia mais eficaz para limitar o impacto da demência. Embora os novos medicamentos levem muitos anos para se desenvolver, as mudanças no estilo de vida estão disponíveis para todos nós.”
Em conclusão, reduzir seu risco através da adoção de várias medidas de estilo de vida saudável ajudará a reduzir sua chance de desenvolver Alzheimer.
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