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Moradores da comunidade das Pedreiras, em Palmares, precisam recomeçar após cheias

“A gente que mora na beira do rio, quando enche, fica com aquele trauma”. Esse é o relato de Mackson José de Lira, de 27 anos, que mora às margens do Rio Una, na comunidade das Pedreiras, localizada no bairro de São Sebastião, em Palmares, na Zona da Mata Sul de Pernambuco. No último sábado (2), o rio transbordou com as fortes chuvas, invadindo ruas e casas próximas. Com isso, vários moradores foram para abrigos e casas de parentes e amigos

Não é a primeira vez que o transbordamento do rio causa transtornos para os moradores do local: aconteceu em 2010, 2011 e 2017. Este ano, o cenário se repete, e as pessoas precisam reconstruir suas vidas novamente

Na comunidade das Pedreiras, muitas pessoas tentam voltar para as casas após as cheias, realizando limpezas e organizando os móveis que restaram, porém o Rio Una continua com o nível elevado

Nesta terça (5), a reportagem da Folha de Pernambuco esteve no local e presenciou Mackson organizando a sua casa. Ele conseguiu salvar alguns móveis e levar para a residência do pai, no Quilombo II, localizado no mesmo município, onde atualmente está abrigado.   

Mackson José de Lira, de 27 anos, que mora às margens do Rio Una. Foto: Alexandre Aroeira/ Folha de Pernambuco

“Já estamos acostumados com isso, mas temos que trabalhar para ter tudo de novo, construir devagarzinho as coisas. O importante é a vida, o resto a gente corre atrás. Eu fiquei muito nervoso quando a água estava subindo, liguei para o meu pai, acalmei ele, porque ele tem problema de pressão alta. Eu fico receoso porque desde 2010 a gente já vive com esse medo, com medo de enchente”, destacou. 

Vizinho de Mackson, Ronaldo Freitas, de 48 anos, vice-presidente da Associação dos Moradores do Bairro de São Sebastião, mora com a esposa, a sogra e o filho na comunidade. Como nas demais residências, a água chegou a quase um metro. Atualmente, ele e a família estão abrigados na casa de um amigo também no Quilombo II. 

Ronaldo Freitas, de 48 anos, está na casa de amigos após enchente. Foto: Alexandre Aroeira/ Folha de Pernambuco

“Por volta das 5h do sábado, o rio começou a subir, depois a equipe da Defesa Civil de Palmares chegou, começou a conversar com a gente e a orientar. Umas 9h, já estava num nível fora do normal para a gente, mas para a Defesa Civil ainda estava fora do alerta. Nisso, eu comecei a falar com o pessoal, começamos a correr, e falar que o rio ia ‘estourar’, e começamos a arrumar as coisas. Falei com um colega meu para pegar um carro e levar algumas coisas para outro local. Graças a Deus a população saiu toda”, contou. 

Ronaldo destaca que a Prefeitura de Palmares agiu rápido, oferecendo auxílio antes de o rio encher, e limpeza das ruas após o nível da água baixar, além de cadastrar as famílias. Para ele, a solução é a construção de mais barragens para evitar que a água do rio transborde e entre nas casas.

No momento em que o rio estava prestes a transbordar, a associação dos moradores preparava um sopão do projeto Sopa Solidária para ser distribuído às famílias da comunidade. Infelizmente, a ação precisou ser suspensa para que todos saíssem do local

“Nós agimos da melhor forma, com muita calma, para o pessoal não entrar em pânico feito nas enchentes passadas. Graças a Deu,s batalhamos incansavelmente e conseguimos tirar os moradores e levar para outros lugares. As enchentes na nossa região, Mata Sul, Palmares, as pessoas confiam muito na barragem, a barragem foi um suporte muito importante que aconteceu, mas a gente sabe que muitas águas vêm de outras regiões”, disse o presidente da associação, Henrique Categoria. Ele contou que precisou quebrar cadeado e invadir as casas que estavam vazias, só com móveis, para que as pessoas não perdessem seus pertences.

A Escola Municipal José do Rêgo Maciel – CAIC, no bairro Nova Horizonte, se tornou um local de abrigo para os moradores das Pedreiras que precisaram sair de suas casas. Na escola, estão sendo oferecidos serviços de saúde, assistência social, alimentação, kits de limpeza e higiene e alojamento para 13 famílias.

A dona de casa Silvia Rogéria, de 26 anos, está com o marido e a filha de 7 anos no local. Em 2010, ainda morando com a mãe, ela perdeu tudo com as cheias. Em 2017, passou pelo transtorno novamente. Agora o pesadelo se repete. O medo e o receio que uma nova enchente ocorra prevalece e ela não consegue dormir à noite. Além do Auxílio Brasil, a família não tem renda fixa para custear as despesas

Silvia Rogéria, de 26 anos, está com o marido e a filha de 7 anos em abrigo. Foto: Alexandre Aroeira/ Folha de Pernambuco

“A gente vai embora, mas depois volta, porque não temos para onde ir, vivemos de aluguel, é assim mesmo. Volta um filme na cabeça da cheia de 2010; na época, eu morava com a minha mãe e a gente perdeu tudo praticamente. Agora a gente perdeu quase tudo, mas ainda conseguiu pegar algumas coisas, como geladeira, e fogão. Medo a gente tem porque ainda é inverno, temos medo de voltar e acontecer novamente. Teve uma cheia que a gente saiu, voltou para limpar, quando limpamos, deu novamente com menos de uma semana. Viemos para cá porque não temos canto pra ir”, destacou. 

De acordo com a Defesa Civil de Palmares, mais de 70 famílias do município estão desabrigadas e devem receber o auxílio instituído pelo Governo de Pernambuco. Segundo o órgão municipal, o cadastramento da população começou a ser realizado pelas equipes de assistência social antes de as famílias irem para o abrigo montado pela prefeitura ou para casa de parentes e amigos.


 


“A ação social está ofertando alimento e segurança para o pessoal que precisou de moradia do município e também demos um kit de limpeza para que o pessoal voltasse para a sua casa com a higienização já feita. Também estamos cadastrando o pessoal para que entre no auxílio do Governo Estadual, que vai ser de R$ 1.500”, comentou o coordenador da Defesa Civil de Palmares, Tonivaldo Brasil. 

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