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A Associação Brasileira de Tradutores e Intérpretes (Abrates) se manifestou após a declaração de Nelson Piquet em relação ao uso da palavra “neguinho” ao se referir ao piloto Lewis Hamilton, em uma entrevista dada em novembro passado que repercutiu internacionalmente esta semana. De acordo com a entidade, a fala do brasileiro não foi mal traduzida, como ele havia declarado em seu pedido de desculpas.
“A tradução que circulam (sic) não está correta”, disse Piquet ao comentar o caso.
Segundo a Abrates, “o termo proferido pelo piloto em português, por si só, já não é mais considerado adequado, haja vista tantos anos de luta contra o racismo estrutural, e qual termo fora devidamente traduzido para seu equivalente em inglês, mantendo a mesma carga pejorativa e inadmissível na sociedade atual”.
A nota ressalta ainda que é obrigação dos tradutores transmitir a mesma mensagem, com o mesmo teor, ainda que equivocado.
Entenda o caso
Piquet chama Hamilton de “neguinho” pic.twitter.com/Seyg6fTa3W
— Leonardo Grison (@LeonardoGrison) June 25, 2022
O ex-piloto brasileiro Nelson Piquet gerou uma onda de críticas após usar um termo racista para se referir ao heptacampeão de Fórmula 1 Lewis Hamilton. O britânico, além de sua equipe e outros representantes da categoria, se pronunciaram sobre o caso. Mas essa não é a primeira vez que Hamilton se torna alvo de provocação da família Piquet.
A polêmica desta vez aconteceu no ano passado, mas veio à tona nesta semana. Piquet chamou Hamilton de “neguinho” durante uma entrevista dada a um canal no Youtube. O contexto era uma comparação entre manobras: o brasileiro havia sido perguntado se uma tentativa de ultrapassagem feita por Max Verstappen sobre o inglês, no GP de Silverstone do ano passado, era similar a uma feita por Ayrton Senna, em prova realizada 1990.
“Não. O neguinho meteu o carro e ele deixou”, disse Piquet, que repete o termo em outro momento.
Na terça-feira, Hamilton se manifestou pela primeira vez sobre o assunto. Por meio de sua conta no Twitter, em português, ele disse que a prioridade no momento é “focar em mudar a realidade”.
“É mais do que linguagem. Essas são mentalidades arcaicas que precisam mudar e não têm lugar no nosso esporte. Fui cercado por essas atitudes e alvo de minha vida toda. Houve muito tempo para aprender. Chegou a hora da ação”, escreveu o piloto em outra publicação, em inglês.
O britânico ainda provocou ao compartilhar um post que questionava: “quem diabos é Nelson Piquet?”. O piloto disse, apenas, “imagine” (“imagina”, em inglês).
E não parou por aí. A Fórmula 1 e a Mercedes publicaram na terça-feira comunicados condenando falas racistas e discriminatórias contra Lewis Hamilton, após o resgate do vídeo de Piquet. As organizações não citaram o brasileiro nas notas, mas ressaltaram o esforço de Hamilton para combater o racismo e aumentar a diversidade no esporte.
“Falas discriminatórias e racistas são inaceitáveis e não podem ter espaço na sociedade. Lewis é um incrível embaixador do nosso esporte e merece respeito. O esforço incansável dele para aumentar a diversidade e a inclusão é uma lição para muitos e algo com que estamos comprometidos”, ressaltou a nota da F1.
“Condenamos veementemente qualquer uso de falas racistas e discriminatórias. Lewis tem liderado os esforços para combater o racismo no nosso esporte e é um verdadeiro campeão de diversidade dentro e fora das pistas. Juntos, compartilhamos o desejo de um esporte diverso e inclusivo, e esse incidente ressalta a importância fundamental de continuarmos nos esforçando para um futuro melhor”, afirmou a Mercedes.
A Fórmula 1, inclusive, analisa banir Piquet do paddock. O Clube dos Pilotos Britânicos — proprietário de Silverstone — suspendeu a inscrição do brasileiro no circuito, que recebe a 10ª corrida da temporada neste fim de semana.
No Brasil, ocorre crime de racismo quando há ofensa à dignidade de alguém, com base em elementos referentes à sua raça, cor, etnia, religião, idade ou deficiência, com pena que pode ir de 1 a 3 anos de reclusão. Procurada pela reportagem, a assessoria de Nelson Piquet não quis se manifestar sobre o caso.
Nesta sexta-feira, outro trecho da entrevista veio à tona. Desta vez, além de repetir o termo “neguinho” Piquet fez uma declaração homofóbica direcionada ao piloto inglês.
Após duas horas de entrveista, Piquet fala da temporada de 1982 e dá sua opinião em relação ao campeão daquele ano, Keke Rosberg. Ele chama o finlandês de “bosta” e, na sequência, compara a situação do ex-piloto com a do filho dele, Nico, que venceu um título em disputa com Hamilton, em 2016. Nesse momento, novamente, o brasileiro emprega a expressão “neguinho” e, em seguida, solta o comentário homofóbico em relação ao piloto da Mercedes.
“O Keke? Era um bosta, não tinha valor nenhum. É que nem o filho dele [Nico]. Ganhou um campeonato… O neguinho devia estar dando mais c… naquela época, aí tava meio ruim”, disse, às gargalhadas, na entrevista que já foi retirada do ar.
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Fonte: Folha PE