- André Biernath
- Da BBC News Brasil em Londres
Um grupo de cientistas acaba de anunciar os detalhes da maior bactéria já encontrada na natureza. Ela é tão grande que pode ser vista a olho nu, sem a necessidade de um microscópio.
Com o sugestivo nome de Thiomargarita magnifica, ela se assemelha a fiapos brancos e habita os mangues de Guadalupe, arquipélago localizado no sul do Caribe.
Para ter ideia do tamanho, essa bactéria tem mais de 9 mil micrômetros de comprimento (um micrômetro é a unidade de medida que equivale à milésima parte de um milímetro), ou supera 0,9 centímetro.
“A princípio, isso nos faz questionar até o uso de ‘micro’ para descrever essas bactérias, já que a microbiologia lida com coisas que a gente não vê a olho nu”, comenta a bióloga Sylvia Maria Affonso Silva, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
As maiores bactérias conhecidas chegam, no máximo, a 750 micrômetros. Na média, esses seres têm cerca de 2 micrômetros.
Isso significa, portanto, que a T. magnifica tem um tamanho doze vezes superior em comparação com as maiores bactérias — e chega a ser 4,5 mil vezes mais comprida do que um micróbio “típico”.
Seria possível, portanto, enfileirar 625 mil unidades de Escherichia coli, um dos micro-organismos causadores de infecções intestinais, na superfície de uma única T. magnifica.
Esses achados “desafiam o conhecimento tradicional sobre as células bacterianas”, escrevem os autores.
A descoberta, que contou com a participação de pesquisadores de diversas instituições, como o Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, nos Estados Unidos, e a Universidade das Antilhas, em Guadalupe, foi publicada na mais recente edição do periódico especializado Science.
Vale lembrar aqui as bactérias fazem parte da natureza e nem todas fazem mal à nossa saúde — a T. magnifica mesmo não parece representar nenhuma ameaça e parece estar em equilíbrio no ambiente em que ela é encontrada.
Um micróbio nem tão ‘micro’ assim
A T. magnifica foi encontrada perto de folhas que caem de árvores localizadas em mangues das ilhas de Guadalupe.
Os cientistas usaram várias técnicas e equipamentos para desvendar a estrutura e o metabolismo da nova espécie.
Pelo que foi observado, ela integra um grupo conhecido como bactérias sulfurosas.
Em linhas gerais, isso significa que esses seres utilizam o enxofre, um elemento químico presente em abundância naquelas águas, para viver e se multiplicar.
“As bactérias são seres unicelulares, compostos de uma única célula, que possuem o material genético disperso em seu interior”, explica Silva.
Em organismos mais complexos, o DNA fica guardado dentro do núcleo da célula.
Já a T. magnifica parece ficar “no meio do caminho” entre esses dois cenários. Os mais de 11 mil genes dela — número três vezes superior ao código genético de outras bactérias — são encapsulados dentro de estruturas membranosas.
“Essa organização genética diferenciada é algo muito interessante e que chama a atenção, porque ela parece ficar na transição entres seres procarióticos, como outras bactérias, e os eucarióticos, que são mais complexos”, analisa Silva.
De acordo com os cientistas responsáveis pelo achado, essa configuração diferente representa uma “inovação característica de células mais complexas”.
“É possível que essa organização espacial única indique um ganho de complexidade que pode ter permitido à T. magnifica superar limitações de tamanho e de volume tipicamente associadas às bactérias”, analisam os autores, em comunicado divulgado à imprensa.
No entanto, não se sabe ainda porque essa nova espécie ficou tão grande em relação a suas primas-irmãs.
“Por que esses organismos precisam ser tão compridos é outra [questão] intrigante e desafiadora”, considera a microbiologista Petra Anne Levin, da Universidade Washington em St. Louis, nos Estados Unidos.
A especialista assina uma breve análise sobre a descoberta, também publicada na Science.
“Outra pergunta mais filosófica é se a T. magnifica representa o limite máximo do tamanho de uma bactéria”, continua.
“Isso parece improvável e, como o próprio estudo ilustra, as bactérias são infinitamente adaptáveis e surpreendentes — e nunca devem ser subestimadas”, conclui a pesquisadora.
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