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Uma final improvável na Copa do Mundo das zebras?

A Copa de 2022 nem terminou ainda, mas já é possível dizer que guarda peculiaridades que a distinguem de todas as outras. Não basta ter como sede um país sem qualquer tradição no futebol e ser realizado no fim do ano, e não entre junho e julho, o Mundial do Catar tem sido marcado por placares surpreendentes, com vitórias de seleções pouco tradicionais sobre algumas das “grandes potências” do esporte. São as chamadas “zebras”, que, mesmo acabando com as apostas de muita gente nos “bolões”, rompem tabus e despertam emoções de todo tipo mundo afora.

O exemplo mais recente e emblemático até o momento foi o protagonizado, no último sábado (10), pelo Marrocos. Contrariando as expectativas de boa parte dos torcedores, a equipe da nação árabe localizada no Norte da África venceu o confronto contra Portugal, sagrando-se a primeira africana a chegar às semifinais de uma Copa. A seleção ibérica formada por estrelas como Pepe e Cristiano Ronaldo era, inclusive, cotada entre as possíveis campeãs e vinha de uma espetacular goleada de 6 x 1 sobre a Suíça. Mesmo assim, não foi capaz de balançar a rede marroquina e perdeu de 1 x 0 nas quartas de final.

Vale lembrar, ainda, a sequência do próprio Marrocos, que, nas oitavas, eliminou outra das favoritas, a Espanha, ao vencer nos pênaltis após um empate de 0 a 0.

Copa de zebras


E as surpresas não se restringem a esta etapa de mata-mata. Já na rodada inicial da fase de grupos, a Argentina protagonizou a primeira “zebra” do campeonato ao perder da Arábia Saudita por 2 a 1. A façanha foi tão inesperada que fez o governo árabe decretar feriado no país no dia seguinte. 

Depois disso, vem uma lista de placares imprevistos, que incluem as vitórias do Japão sobre a Alemanha e a Espanha, ambas por 2 a 1, passando pelas derrotas do Brasil para Camarões e da França para a Tunísia, as duas por 1 a 0. Agora, nas quartas, embora com um impacto menor, visto que a adversária é a atual vice-campeã do mundo, a eliminação da Seleção canarinho para a Croácia, nos pênaltis, após o empate de 1 a 1 também pode entrar no bolo das “gigantes” frustradas.

Festa marroquina


Correspondente da Folha de Pernambuco no Catar, o repórter Victor Pereira considera que, de todas, a da Argentina foi a que gerou mais barulho nas terras catarenses. “É a primeira Copa no Oriente Médio. Então, os cidadãos árabes, que teriam de gastar muito dinheiro se a competição fosse em outro continente, estão em peso aqui. Claro que muitos deles têm simpatia pela Seleção brasileira e pela Argentina, mas, quando alguma das seleções deles joga, eles estão em grande número e, naquele dia, tinha mais sauditas do que argentinos. O gol de empate já foi uma loucura e, no da vitória, foi uma explosão no estádio. Tinha gente que ia a algum lugar para orar e agradecer”, descreve.

Ainda segundo Pereira, também há muitos marroquinos no Catar. “Eles estão sempre com a bandeira do Marrocos, fazendo batucada, numa alegria fora do comum. Isso desde a primeira fase, quando empatou com a Croácia, ganhou do Canadá e da Bélgica. Quando ganhou nos pênaltis da Espanha, soltaram fogos. E mesmo gente de outros países orientais está torcendo porque o Marrocos virou o representante árabe na primeira Copa árabe”, conta.

Quanto pesa uma camisa?


Na avaliação do jornalista esportivo Marcelo Cavalcante, parte desse fenômeno se explica a partir das próprias mudanças no futebol e na preparação das seleções que vão à Copa. Times que entram em campo com o “peso da camisa” representado pelo longo histórico de vitórias no esporte, como é o caso de Brasil e Alemanha, precisam adaptar o foco a um estilo de jogo mais pragmático.

“Essas seleções ‘intermediárias’, que não têm tradição e são teoricamente mais fracas, aprenderam a jogar a competição. Elas estudam os adversários e sabem que, num mata-mata, só tem um jogo para decidir. Eu acho que as seleções tradicionais estão num patamar de pensar que a camisa é que vale. Mas não é bem assim”, comenta.

Nesses casos, a postura diante de um revés também é importante. Cavalcante cita a Argentina como exemplo de seleção que conseguiu crescer depois de perder para a Arábia. “Os argentinos tomaram como lição e cresceram. Futebol é prática. São sete jogos. Não tem oba-oba nem mimimi. É um mês. Precisa ter foco”, observa.

Final improvável?


Com a possibilidade de Croácia e Marrocos se enfrentarem na final, a Copa do Catar entraria de vez para a história dos Mundiais. Com tantos resultados improváveis, ter uma decisão entre croatas e marroquinos seria a cereja do bolo para o torneio disputado no Oriente Médio, e a reportagem resolveu escutar especialistas para mensurar o tamanho do possível feito das duas seleções. Na primeira fase, as duas seleções ficaram no 0x0, em encontro válido pelo Grupo F.

Na visão do comentarista da CBN Recife, Léo Medrado, houve um “relaxamento” por parte das equipes favoritas ao caneco. Casos de Alemanha, que mais uma vez caiu na fase de grupos, e Espanha, Portugal e Brasil, eliminados para os dois semifinalistas. “Houve uma evolução? Houve. Mas, sinceramente, acho que houve um relaxamento por parte das seleções maiores, em relação ao crescimento das consideradas menores. sinceramente eu acho mais um relaxamento das seleções maiores, do que crescimento das menores. A Croácia só ganhou um jogo, que foi para o Canadá na fase de grupos. É até normal acontecer isso em Copa do Mundo, mas vai variando. Tivemos Suécia e Bulgária em 94, Coreia em 2002… Sempre tem uma seleção fora do eixo, mas a África mostra sua evolução, pela primeira vez com um time na semifinal”, começou

“Marrocos foi muito surpreendente. A melhor zaga da competição. Defensivamente é o time bem mais ajustado entre aqueles que não têm jogadores que atuam no primeiro plano do futebol mundial. O sistema de jogo dá sustentabilidade, uniu força física com o ímpeto de marcação muito que é muito bom”, concluiu Medrado. 

Para o colunista da Folha de Pernambuco, Flávio Adriano, do blog Que Golaço, a globalização do futebol contribui para que Marrocos e Croácia apareçam entre os quatro semifinalistas. “Tem jogadores do Marrocos que jogam na Premier League, atuam na Europa. Se for pela lógica, a França já estaria na final. A Argentina também, pela força, por ser bicampeã. Mas é possível acontecer essa final entre Croácia e Marrocos, duas seleções que nunca foram campeãs do mundo, mas que têm jogadores que atuam nas principais ligas. Daí essa coisa de não existir mais bobo no futebol, por ter jogadores nas principais competições. Por isso essa possibilidade”, detalhou. 

Já de acordo com o jornalista Cássio Zirpoli, do NE45, a Croácia está longe de ser considerada uma zebra. A seleção europeia chegou nas semifinais em outras duas ocasiões e sempre mostrou consistência em Mundiais. “É a atual vice-campeã do mundo, tem um jogador que foi eleito melhor do mundo recentemente, coisa que o Brasil não tem há mais de uma década, por exemplo. A não apresentação de um futebol vistoso nesta Copa, talvez, impressiona mais do que pelo cartaz do time. Ela tem esse cartaz, está na semifinal da Copa pela terceira vez de 98 para cá”, salientou. 

“Mas, falando sobre uma possível final entre Croácia e Marrocos, há uma diferença técnica gigante entre Croácia e Argentina, assim como também havia do Brasil para a Croácia, mas o Brasil perdeu. Há uma ainda maior da França para Marrocos. No pitaco, eu não consigo não ir de França e Argentina. No entanto, em uma Copa dessa não tem como não dizer que pode ter uma zebra, e seria interessante se tivesse, inclusive”, pontuou Zirpoli.

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Fonte: Folha PE

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