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Tostão tem uma dúvida: o Brasil estará à altura dos europeus no Catar?

Uma dúvida inquieta Tostão, um dos craques da Seleção tricampeã do mundo em 1970, no México: o Brasil estará à altura das grandes seleções europeias no Catar?

Em entrevista à AFP, o lendário ex-jogador, que aos 75 anos é um pensador do futebol, lançou elogios a Lionel Messi e Neymar e também refletiu sobre o futebol moderno.

Pergunta: Por que você tem reservas com o Brasil?

Resposta: “A Seleção Brasileira dá a impressão de estar muito bem, mas tem quatro anos que ela só joga contra seleções sul-americanas, alguns amistosos contra asiáticos, africanos. Ela não jogou contra nenhuma seleção europeia boa, nem seleção europeia média enfrentou. Fica a dúvida porque está jogando contra times inferiores. A Argentina ganhou a final da Copa América.

Tem várias seleções com chances de ganhar, o Brasil é uma delas. Alguns jovens evoluíram muito no último ano. Além de Neymar e os mais velhos, como Marquinhos e Thiago Silva, que continuam em grande forma, temos Vinícius Júnior, Raphinha, Paquetá. É um time organizado, com uma comissão técnica de bom trabalho, mas fica essa dúvida. Na última Copa, o Brasil também parecia que estava muito bem antes de começar e foi eliminado pela Bélgica”.

Zagueiro Marquinhos comemora gol pela seleção. Foto: Lucas Figueiredo/CBF

P: Neymar é a chave para afastar as dúvidas?

R: É o principal jogador brasileiro. Neymar é um fenômeno. Ele não teve a mesma continuidade como outros grandes craques tiveram, teve problemas, contusões em Copa, problemas fora de campo, de regularidade, mas é um jogador excepcional”.

“O segundo melhor”

P: No Catar, Messi pode se consolidar como o melhor da história? 

R: Messi é o segundo melhor jogador da história independente do que vai acontecer na Copa, porque ele joga há 15 anos num nível altíssimo, espetacular, com uma regularidade impressionante. Mas o Pelé era ainda mais completo, porque o Pelé era muito forte, além do talento e da técnica, e Messi não tem essa força física. Mas Messi vai dar tudo nessa Copa porque ele percebeu que a Argentina melhorou, assim como o Brasil com Neymar“.

P: E Cristiano Ronaldo? 

R: “Ele foi o maior finalizador do futebol mundial, isso não quer dizer que seja o melhor porque o futebol não é só para finalizar. Cristiano Ronaldo não faz tudo, faz uma parte legal. Agora está com problemas de continuidade, mas ele também é uma esperança na Copa“.

Messi e Cristiano Ronaldo se despedem dos mundiais após o Catar. Foto: Paul Ellis/AFP

P: Kylian Mbappé já é um dos grandes? 

R: “Brilhou na Rússia. É um dos cinco principais jogadores do mundo, com sua velocidade, técnica. Ele já é uma realidade. Ele não precisa brilhar ou ser campeão na Copa para continuar sendo um dos melhores”.

“Oito favoritos”

P: Quais são seus favoritos ao título? 

R: “Tem umas oito seleções que são candidatas a ganhar a Copa. Brasil, Argentina e França são as que mais chances têm de ganhar a Copa, mas também Alemanha, Espanha, Portugal, Bélgica e Holanda têm chances. Brasil e França têm um maior número de jogadores e de mais qualidade que a Argentina, isso os deixa um pouquinho à frente”.

P: Quem pode surpreender? 

R: “Uma coisa me intriga: em todos os campeonatos com jogos eliminatórios que existem no mundo, às vezes um time inferior vence o superior porque. Por que é que na Copa nunca houve uma grande surpresa? Quase aconteceu com a Croácia, mas isso na Copa do Mundo nunca aconteceu. Não espero que isso vá acontecer, uma dessas oito vai ganhar”.

P: Porque os europeus dominam o futebol?

R: “É o poder econômico. Têm um futebol mais organizado profissionalmente, mais estruturado, clubes mais poderosos, então contratam melhores jogadores e podem desenvolver a parte científica e estrutural. Por isso dominam. 

O futebol ficou bastante universal: o que se joga na Europa se tenta jogar no Brasil. Na minha época era bem mais evidente a diferencia sul-americana e europeia. Hoje há uma quase semelhante e os melhores jogadores estão nos times da Europa, então esse futebol fica mais atraente. Mas a grande beleza ainda está no talento individual, na criatividade”.

Fim do ‘futebol arte’

P: O ‘futebol arte’ está em risco de extinção?

R: “Hoje o futebol já mudou, existe um jogo moderno, com estratégias modernas e grandes jogadores. Essa coisa da lembrança de Brasil nos anos 1960 de dar show, de ‘futebol arte’ não existe mais. Faz tempo, 20 anos, que há uma maneira parecida de jogar. Evidentemente que nada funciona se não tiver um craque. Mais importante do que a estratégia é a qualidade do jogador. Hoje o Brasil tem bons jogadores e por isso é candidato ao título. Todos os jogadores da Seleção jogam na Europa, então o futebol que a Seleção vai apresentar é o futebol global”.

Seleção brasileira de 1970. Foto: Reprodução

P: Pelé disse que o futebol atual é mais difícil, mas o antigo dava mais espetáculo. Concorda?

R: “Em parte. Não tem dúvida de que o futebol dessa época tinha mais lances bonitos, espetaculares, mas pelo menos a seleção dos anos 1970 tinha muito do futebol atual: estratégia, tática, organização. O futebol de hoje é muito organizado, muito estratégico, muito tático, intenso, mas tem também muita poesia, jogadores espetaculares, como Neymar e Messi.

Hoje o futebol vive um ótimo momento porque tem essa fase de encantamento da minha época. Depois (dos anos 1970) teve uma fase de cansaço do futebol, o futebol ficou muito repetitivo, muito chato, muito programado, muito físico”.

P: O que acha do Catar como sede?

R: “Todos os países têm direito (de ser anfitrião), desde que tenham condições técnicas, de segurança, etc. Agora, o que incomoda são os noticiários das acusações que existem em relação aos direitos humanos no Catar, isso nós temos que criticar, não é correto, humano, não é bom para o futebol”.

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Fonte: Folha PE

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