A cantora Tina Turner, cujos clássicos do soul e sucessos pop como The Best e What’s Love Got to Do With It fizeram dela uma superestrela musical, morreu nesta quarta-feira (24/5) aos 83 anos.
Turner teve uma série de problemas de saúde nos últimos anos, incluindo câncer, derrame e insuficiência renal.
Ela alcançou a fama ao lado do marido Ike na década de 1960 com canções como Proud Mary e River Deep, Mountain High.
Depois de se divorciar do abusivo Ike, em 1978, ela obteve ainda mais sucesso como artista solo na década de 1980.
Apelidada de Rainha do Rock ‘n’ Roll, Tina Turner era famosa por suas performances de palco atrevidas e enérgicas, com vocais roucos e poderosos.
Ela ganhou oito prêmios Grammy e foi incluída no Hall da Fama do Rock ‘n’ Roll em 2021 como artista solo, sendo indicada pela primeira vez ao lado de Ike em 1991.
O contralto rouco de Tina Turner e a presença de palco atrevida fizeram dela uma das cantoras mais conhecidas da geração dela.
Mas até chegar lá, percorreu uma jornada longa e, muitas vezes dolorosa, de uma infância conturbada na zona rural do Tennessee ao estrelato global.
Ela já tinha quase 40 anos quando conseguiu se libertar de um relacionamento abusivo para se estabelecer como artista solo.
Tina Turner gravou uma série de álbuns best-sellers, conquistou prêmios e se tornou uma das apresentações ao vivo mais populares da música.
Infância conturbada
Tina Turner nasceu como Anna Mae Bullock, no dia 26 de novembro de 1939, na pequena cidade rural de Nutbush, no Estado americano do Tennessee. O pai dela, Floyd, trabalhava em uma fazenda local.
Ela teve uma infância conturbada. Tina e a irmã mais velha dela, Aillene, foram separadas quando os pais se mudaram para trabalhar em uma fábrica de munições, e a jovem Anna Mae foi morar com avós religiosos.
Quando a família se reuniu após a guerra, Anna Mae começou a cantar em uma igreja batista local.
A mãe dela a abandonou quando ela tinha apenas 11 anos e, dois anos depois, quando o pai se casou novamente, Anna e sua irmã foram levadas para morar com a avó em Brownsville, no Tennessee.
Ela se tornou líder de torcida em sua escola local, jogou basquete e teve uma vida social agitada. Ao se formar em 1958, ela conseguiu um emprego em um hospital em St. Louis, no Missouri, e decidiu se tornar enfermeira.
Foi em uma boate, onde ela e a irmã foram passar a noite, que ela viu Ike Turner se apresentar pela primeira vez com a banda dele, a The Kings of Rhythm.
Grande chance
Ike já estava estabelecido como performer e músico. A banda dele era uma das maiores atrações do circuito de clubes de R&B.
Certa noite, durante um intervalo, Anna Mae recebeu o microfone – e a performance dela o impressionou tanto que a levou a ser convidada para cantar com a banda.
Na época, ela mantinha um relacionamento com o saxofonista da banda, Raymond Hill, com quem teve um filho, Raymond.
Ela fez sua primeira gravação como cantora de apoio em 1958, mas sua grande chance surgiu apenas dois anos depois, em uma música chamada Fool in Love, escrita por Turner.
Quando o vocalista principal, Art Lassiter, não apareceu para a gravação, Anna Mae foi convidada a substituí-lo, com a intenção de que os vocais dela fossem removidos posteriormente.
Mas um DJ que ouviu a demo ficou tão impressionado que a passou para uma gravadora local.
Avanço da imagem
Ike foi encorajado a colocar sua protegida à frente da banda e a persuadiu a mudar seu nome para Tina, um movimento que ele disse mais tarde ter sido pensado para evitar que ex-namorados a localizassem.
Fool in Love alcançou o número 27 nas paradas da Billboard e a sucessora, It’s Gonna Work Out Fine, alcançou o top 20 e rendeu à dupla um Grammy.
A essa altura, ela estava em um relacionamento com Ike, que havia se divorciado da quinta esposa. Os dois finalmente se casaram em 1962.
O recém-nomeado Ike e Tina Turner Revue foi para a estrada durante a maior parte de três anos de sucesso sem ter o benefício de um single de sucesso para apoiá-los.
Tina também fez aparições solo na televisão dos Estados Unidos em programas como American Bandstand e Shindig.
O produtor Phil Spector, impressionado com a voz de Tina, a convenceu a entrar no estúdio para gravar River Deep, Mountain High.
Preocupado que Ike, cujas tendências controladoras eram bem conhecidas, tentasse dominar a gravação, Spector o pagou para ficar longe do estúdio.
Fuga dos abusos
O álbum, que apresentou a famosa “parede de som” de Spector, foi creditado a Ike e Tina Turner, embora a voz de Tina fosse a única. Inicialmente, ele não foi bem nos Estados Unidos, mas se tornou um grande sucesso no Reino Unido.
Foi o suficiente para os Rolling Stones pedirem ao Revue para apoiar uma turnê no Reino Unido, e isso levou a novas datas na Europa e a um público maior.
Quando os Stones fizeram uma turnê pelos Estados Unidos, os Turners foram novamente convidados a apoiar a banda, o que lhes rendeu uma apresentação no Ed Sullivan Show.
Dois anos depois, o casal lançou seu single de maior sucesso americano com um cover de Proud Mary, do Creedence Clearwater Revival.
Em 1973, Tina viajou para Londres para fazer uma atuação aclamada pela crítica como a Rainha do Ácido no bombástico filme de Ken Russell sobre a ópera rock de Pete Townshend, Tommy.
No mesmo ano, a dupla teve seu último grande sucesso, Nutbush City Limits – mas seu relacionamento pessoal estava em declínio.
Em meados dos anos 70, Ike era fortemente dependente de álcool e cocaína, e sua atitude controladora sobre a vida e a carreira da esposa havia se transformado em abuso físico dentro de casa.
Ele a espancou com um esticador de arame enquanto ela estava grávida e a queimou com café escaldante. Em julho de 1976, Tina fugiu com apenas alguns trocados na bolsa e passou meses se escondendo com amigos enquanto processava Ike pelo divórcio.
Apoiada financeiramente por um amigo executivo de uma gravadora, ela partiu em uma série de turnês solo que a estabeleceram como uma artista que tinha mérito próprio. Ela achou difícil no começo.
“Muitas pessoas pensaram que Tina Turner era história”, disse ela à Vogue alemã. “Eles só conheciam Ike e Tina Turner e não entendiam o que estava acontecendo. Então, eu tive que me testar.”
Depois que dois álbuns criados para entrar nas paradas falharam, ela se reinventou com um som muito mais ousado, que rendeu shows com Rod Stewart e outra turnê com os Rolling Stones.
Seu sucesso de 1983, Let’s Stay Together, foi o início de um renascimento da carreira. Um álbum, Private Dancer, gravado em Londres, gerou sete sucessos nas paradas e lançou uma grande turnê mundial.
Ela estava de volta às telas dois anos depois como Aunty Entity em Mad Max Beyond Thunderdome, e contribuiu para canções na trilha sonora do filme, incluindo a música tema, We Don’t Need Another Hero.
Parecia que ela errava pouco, com sucesso seguido de sucesso, e ela tocou em turnês lotadas ao longo dos anos 1980.
Ícone duradouro
O sucesso continuou na década seguinte, incluindo uma gravação de GoldenEye, a música tema do primeiro filme de James Bond estrelado por Pierce Brosnan.
Na virada do século, e aos 61 anos, ela anunciou que estava entrando em uma semi-aposentadoria.
Tina Turner foi aclamada como um ícone feminista e, em 2003, compareceu à noite do Kennedy Center Honors, onde estrelas como Oprah Winfrey, Al Green e Beyoncé se juntaram ao presidente George Bush para prestar homenagem.
Em 2020, ela lançou uma versão atualizada de What’s Love Got to Do with It? Na época, entrou no top 40 do Reino Unido, tornando-a a primeira artista a alcançar o feito em sete décadas distintas.
Um ano depois, Turner vendeu os direitos de seu trabalho para a administração da BMG Rights por mais de $ 50 milhões (cerca de R$ 250 milhões) e foi incluída no Hall da Fama do Rock ‘n’ Roll
Antes de morrer, Tina Turner foi tema de um musical no West End de Londres que contava a história de sua vida incrível
Certa vez, perguntaram a ela o que a havia impulsionado ao longo dos anos de luta e abuso.
“Eu permaneci no caminho do começo ao fim”, disse ela, “porque acreditei em algo dentro de mim que me disse que isso pode melhorar”.
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