- Author, Priscila Carvalho
- Role, Do Rio de Janeiro para a BBC News Brasil
A psicoterapia tem como objetivo tratar questões relacionadas à mente, saúde e outras demandas. E se engana quem pensa que o tratamento deve ser buscado somente quando se está passando por um momento delicado e de sofrimento.
Segundo Thaise Löhr Tacla, psicóloga terapeuta e professora do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), é um erro procurar ajuda quando se chegou ao limite. “Não é só quando falamos de doença e saúde mental. Pode buscar o autoconhecimento, entender, ver pontos e coisas da vida que quer desenvolver”, diz.
Porém, para que o paciente se sinta à vontade e fale abertamente sobre qualquer assunto é necessário escolher um profissional e uma linha de tratamento adequados.
Como há muitas vertentes é necessário que o indivíduo identifique qual o melhor tipo, seja de acordo com sua personalidade, transtorno ou questão específica.
“Cabe ressaltar que não existe uma abordagem melhor que a outra, e sim, maneiras de entender o indivíduo. Temos abordagens mais diretivas e tem algumas que apresentam abordagens mais científicas”, destaca Tacla.
Na psicoterapia existem três pilares que podem ajudar na escolha: comportamental, humano existencial e psicodinâmico.
Dentro de cada uma dessas existem “subclassificações” que podem direcionar ainda mais cada indivíduo para iniciar o tratamento. Explicamos cada uma abaixo.
Comportamental
Análise do comportamento
É baseada no behaviorismo (vem de behavior, que é comportamento em inglês) e com aspectos respaldados na ciência. É uma perspectiva que vai analisar o comportamento do indivíduo e suas interações com o ambiente.
Um exemplo prático é a ansiedade no primeiro dia de aula. Geralmente, essa linha vai tentar entender por que isso ocorreu e por que o paciente teve essa resposta a esse sentimento.
O objetivo é ajudar a pessoa a encontrar a causa do sofrimento, identificar o seu comportamento e de outras pessoas para auxiliar com estratégias de enfrentamento e encontrar a função desse medo. É considerada mais pontual e diretiva.
Terapia cognitivo comportamental (TCC)
Essa perspectiva enfatiza o pensamento do indivíduo e como isso vai influenciar os sentimentos, emoções e comportamento.
O papel da psicoterapia é auxiliar o paciente a entender as ações provenientes desse acontecimento e as crenças.
É a vertente mais utilizada nos países norte-americanos pela sua possibilidade de validação científica por meio dos métodos aplicados e comprovados.
“O terapeuta mostra essas distorções cognitivas e em conjunto com o paciente, encontra alternativas, soluções para as próprias angústias, mostrando o que há por trás de um medo.
Ensina o próprio paciente a ter autonomia para aprender a lidar com suas próprias questões, diz Lala Fonseca, psicóloga com especialização em Psicofarmacologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP-HC).
Como é uma abordagem mais direta, é indicada para quem sofre com transtornos alimentares, ansiedade, depressão, para pessoas que buscam a interpretação das situações da vida e que desejam um direcionamento por meio das próprias respostas. Atualmente, é o método mais breve para solução de situações em geral.
Humano Existencial
Humanista ou transpessoal
O terapeuta atua em busca de um ambiente acolhedor para que o indivíduo alcance suas qualidades e reconheça quais são suas dificuldades.
Propõe que a pessoa só irá conseguir mudar as coisas quando aceitar a si mesma.
É indicada para questões ligadas a autoestima, estresse e para pacientes que buscam melhorar não por meio de suas angústias, mas sim por aspectos e pontos positivos.
Fenomenológica
Essa linha vai focar no indivíduo como forma única. Vai enfatizar suas atitudes, buscar entender a razão de sua existência e fazer questionamentos como: por que eu existo, quais atitudes eu tenho diante da vida?
Nessa também são trabalhados valores e aspectos com base na existência do paciente, sem preconceitos e generalizações.
Gestalt
Seu objetivo é provocar insights no aqui e agora por meio da consciência de si mesmo, além de envolver aspectos físicos, mentais e espirituais. É caracterizada pela reflexão de suas ações próprias e busca estratégias para se autorregular.
O terapeuta presta atenção na fala, no tom de voz, gestos e outras linguagens corporais. Muitas vezes, esse processo provoca insights da percepção de si mesmo.
Funciona para pessoas que necessitam ver a situação como um todo para compreender o resultado.
Psicodrama
É baseada em aspectos do teatro, usa o drama para encenar vivências e apresenta uma abordagem que tem por objetivo resgatar a essência de cada ser humano.
“Enquanto o psicodrama visa reviver e aceitar seu passado e até compreender o futuro, a principal diferença para a constelação familiar é que esta ainda não “resolve” o “trauma em si”, diz Fonseca.
Mesmo tendo essa linha mais lúdica, é preciso uma formação em psicologia para, de forma técnica, auxiliar o indivíduo nessa solução de questões traumáticas, destaca a profissional.
É indicada para pessoas que têm dificuldade em explicar determinada situação e o desconforto que causou. Além disso, tem como objetivo compreender a si, aos outros e sua capacidade em relacionar-se com os demais.
Logoterapia ou análise existencial
Esse tipo de psicoterapia tem o foco na busca do sentido. Visa encontrar a motivação e a razão da pessoa estar ali.
Ela pode ajudar o paciente a superar crises existenciais e respostas por dilemas profundos.
“Na pandemia resgatou-se muito a busca pelo sentido. Acabou por ter mais destaque, buscando a motivação da vida”, diz Tacla.
Psicodinâmica
Psicanálise
É uma abordagem mais antiga e tem como estratégia usar associação livre, falando sobre si e sem nenhuma intervenção. Ao falar o que sente sem interrupção, a pessoa vai se tornando consciente.
É indicada para pessoas que busquem conhecer suas camadas mais profundas e sintam conforto na sua ausência.
Dentro da psicanálise há outras linhas que também podem ser escolhidas. São elas:
Freudiana ou psicanálise ortodoxa
Permite o paciente falar livremente, normalmente de costas para o analista e este, por sua vez, mantém o silêncio para permitir que os pensamentos fluam livremente sem nenhuma interferência.
Terapia Junguiana
Também chamada de psicologia analítica, a terapia de Carl Jung tem como objetivo trabalhar o inconsciente e consciente para trazer o equilíbrio do mundo externo e interno.
“A estratégia dessa linha é direcionar para o inconsciente. Entende-se que a pessoa falou algo que não queria falar”, diz a especialista da PUC-PR.
O paciente fica livre para falar o que deseja e o terapeuta pode tentar compreender, simbolicamente, o que suas queixas representam.
Há imaginação ativa, interpretação de sonhos e sandplay (também chamado de jogo de areia), método não verbal para construir cenas.
Terapia Lacaniana
Essa linha de abordagem dá ênfase à exploração do inconsciente por meio da fala.
Assim como na psicanálise ortodoxa, o paciente deve falar livremente sem ser interrompido.
É muito comum o terapeuta repetir as falas do indivíduo para ele mesmo se ouvir. É indicado para indivíduos que lidam bem com limites.
Como escolher o terapeuta ideal?
Quando a pessoa decide começar a psicoterapia é importante buscar referências. O mais indicado, segundo os especialistas, é procurar alguns detalhes sobre o tipo de prática que esse profissional exerce, seja por meio de suas publicações, falas em espaços públicos e projetos sociais desenvolvidos.
Sinta-se à vontade também para perguntar qual linha ele segue, se fará questionamentos, anotações ou se deixará você falar mais durante as sessões.
“O fundamental aqui é procurar viver uma experiência inicial com o profissional para sentir se você foi escutado e se você sentiu que se formou um vínculo inicial de onde pode frutificar uma relação terapêutica”, destaca Bartholomeu de Aguiar Vieira, professor de Psicopatologia, Estágios de Psicodiagnóstico e Avaliação da Personalidade do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
Há pacientes que demoraram um ano para se sentir confortáveis em abrir questões relacionadas à sexualidade, por exemplo, e pontos onde a própria pessoa tinha preconceitos.
“Abrir-se para o processo de terapia é doloroso, porém, extremamente libertador. Ao reconhecer as próprias questões, o paciente se liberta de angústias. Ao aceitarmos quem somos, descobrimos para onde queremos e temos a possibilidade de ir e o que queremos fazer”, destaca Fonseca.
De início, é importante fazer “sessões teste” e ter um primeiro contato com o psicoterapeuta. Elas podem ocorrer por meio chamadas de vídeo, ligação e de forma presencial.
Alguns oferecem até atendimentos gratuitos para o primeiro encontro, mas nada impede de discutir valores e saber quanto ele cobra pelo serviço.
Caso a pessoa não consiga pagar pelas sessões, também há a possibilidade de atendimentos sociais, feitos em clínicas-escolas a preços populares e até sem custo.
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