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Só o ser humano produz obra de arte, mas Deus vale-se da natureza para embelezar o mundo

Os ninhos de um beija-flor ou de um joão-de-barro, estejam ou não eles dentro, chocando ovos, alimentando filhotes, protegendo-os com o próprio corpo das intempéries ou dos predadores, revelam uma beleza natural, não resultante da atividade artística humana como foram as edificações das pirâmides do Egito ou a construção de Brasília, capital do Brasil, guardadas as proporções e as circunstâncias do seu tempo, igualmente admiráveis e deslumbrantes.

Os animais já nascem sabendo fazer o que fazem sem frequência a cursos em escolas ou faculdades, também não aprimoram suas formas de construir que permanecem ignorando e desafiando o progresso, conformadas com a mesmice de sempre, sem perder a magnitude impressionante original. Como sua atividade não é cultural, eles continuam construindo abrigos, ninhos, tocas, a exemplo dos castores e das aves, sempre do mesmo jeito.

Os pássaros, movidos pelo instinto de preservação das espécies, cuidam de proteger a prole promovendo-lhe a segurança e a comodidade possíveis, sem a consciência ou a vontade do embelezamento arquitetônico das construções, o que não as tornam menos belas, mas as exclui da categoria de obras de arte, o mesmo sucedendo às colmeias de abelhas no tocante às primorosas formas geométricas dos favos de mel, com a vantagem de escaparem à opinião dos críticos de arte, tamanhamente contraditórios entre si que são dor de cabeça sem remédio para os artistas.

A expressão de fenômenos e acidentes naturais está acima da crítica na sua ostentação de esplendor, tipo a forma e o colorido do arco-íris, a opulência das cataratas, como as de Foz do Iguaçu, a força dos ventos e a refrega das ondas em alto mar, chocando-se com tudo que esteja no seu caminho. As tormentas oceânicas, as erupções vulcânicas, as tempestades de raios podem ser terríveis, apavorantes, mas ninguém ousa negar o belo divino que há nelas.

Os animais têm cada qual algo em especial que inspira o ser humano à pintura ou a esculturas de leões, cavalos, elefantes… Copiando a vida pela arte. Às vezes reproduzem bichinhos pequenos mas imponentes. O louva-a-deus, por exemplo, o que tem de minúsculo, tem de maior grandeza, no balanço aparentemente molejado do corpo, na camuflagem perfeita que o torna invisível como predador. Reproduzir-lhe a existência em arte é menor do que criá-la.

A clonagem dos seres também não iguala sua criação. O ser humano pensa que é Deus, mas pensa errado.

José de Siqueira Silva é Coronel da reserva da PMPE

Mestre em Direito pela UFPE e Professor de Direito Penal

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