A onda de protestos que acontece no Irã pode afetar o desempenho da seleção de futebol do país na Copa do Mundo, com rumores de rachas no elenco, publicações nas redes sociais que desaparecem e ídolos mostrando seu apoio às manifestações.
O time iraniano se prepara para uma batalha no Grupo B do Mundial, tão competitivo quanto politicamente tenso, no qual terá que superar Estados Unidos, Inglaterra e País de Gales para avançar pela primeira vez às oitavas de final do torneio.
Mas os protestos que sacodem o Irã desde a morte da jovem de 22 anos Mahsa Amini, depois de sua prisão pela polícia da moral, fizeram surgir perguntas incômodas para a seleção de futebol, que tem enorme influência num país apaixonado pelo esporte.
O atacante Sardar Azmoun, astro da equipe e jogador do Bayer Leverkusen, está sob enorme pressão. A princípio, ele pareceu respeitar uma ordem de silêncio imposta à seleção para que os atletas não falassem a respeito da brutal repressão das autoridades do país, mas depois voltou atrás e se posicionou. Enquanto isso, um dos jogadores mais importantes da história do futebol iraniano, o já aposentado Ali Karimi, se tornou um herói para muitos no país ao apoiar abertamente os protestos.
Os ecos das manifestações chegaram na última terça-feira (27) ao amistoso entre Irã e Senegal, disputado na Áustria, como parte da preparação das equipes para a Copa do Mundo. Manifestantes do lado de fora do estádio cantaram palavras de ordem contra as autoridades de Teerã e os nomes de Karimi e Azmoun.
“Estamos aqui para suplicar (à seleção): por favor, apoiem-nos ao invés de estarem contra nós”, disse Mehran Mostaed, um dos organizadores do protesto.
Publicação apagada
Azmoun começou o jogo no banco, alimentando os rumores de que pode ele ter sido isolado no elenco. No entanto, entrou no segundo tempo e marcou um gol de cabeça, para a satisfação do técnico da equipe, o português Carlos Queiroz.
Blogueiros iranianos divulgaram nos últimos dias capturas de tela de uma postagem no Instagram de Azmoun dizendo que devido a “normas restritivas (…) não pude dizer nada”. Mas o jogador acrescentou que não poderia ficar em silêncio diante da repressão contra os protestos que, segundo os ativistas, provocou a morte de 75 pessoas.
“Isso nunca será apagado de suas consciências! Que vergonha!”, escreveu. A publicação foi apagada e todo o conteúdo de seu Instagram, seguido por cerca de cinco milhões de pessoas, desapareceu durante dias.
Mas depois do jogo contra Senegal, a conta de Azmoun reapareceu e o jogador pediu perdão por sua publicação anterior.
“Não estava sob pressão para escrever ou apagar o ‘storie’ do Instagram”, disse, acrescentando que “não há racha na equipe”.
Ídolos apoiam os protestos
O jogador aposentado Ali Karimi publicou reiteradamente no Instagram e no Twitter seu apoio aos protestos, dizendo que nem sequer a água sagrada poderia “limpar esta desgraça”.
“Como pessoa comum da minha terra, não estou procurando um cargo ou uma posição”, disse. “Só procuro a paz, o conforto e o bem-estar do povo”.
Estas publicações levaram a agência de notícias iraniana Fars a publicar um artigo no qual pedia a prisão do ex-jogador, sugerindo que suas propriedades no Irã poderiam ser apreendidas. Outras lendas apoiaram a postura de Karimi em publicações no Instagram.
Mehdi Mahdavikia, que jogou durante quatro anos na Alemanha, acusou as autoridades de “ignorar as pessoas”, enquanto Ali Daei, lendário atacante e estrela da seleção na Copa do Mundo de 1998, disse que o regime teria que “resolver os problemas dos iranianos ao invés de usar a repressão, a violência e as prisões”.
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Fonte: Folha PE