Objetivo do evento foi pensar em soluções urbanas para promover espaços mais seguros, vibrantes e inclusivos (Foto: Cortesia)
Como as crianças enxergam a rua? Com exercícios de empatia e adaptação da visão das vias para a altura dos pequenos, técnicos da Prefeitura do Recife participaram, nesta quinta-feira (25), de um workshop do Programa “Street for Kids”, da GDCI, referência global em desenho de ruas e parceira da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária. O encontro aconteceu no Auditório do Museu do Artesanato, no Bairro do Recife, e contou com representantes da sociedade civil, além de órgãos como CTTU, Recentro, Instituto da Cidade Pelópidas Silveira, Secretaria de Inovação Ubana, Secretaria da Primeira Infância, Secretaria de Educação e Emlurb.
A proposta é fazer com que o corpo técnico que realiza os projetos viários observe a vulnerabilidade das crianças nas vias. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, no mundo, sinistros de trânsito são a principal causa de morte entre crianças e adolescentes, tanto porque, em sua maioria, são pedestres, quanto porque têm o corpo mais frágil aos impactos causados pelas ocorrências.
O encontro reuniu 100 pessoas de formações variadas para pensarem soluções de desenho de ruas para crianças. O Recife já realizou algumas intervenções com esse objetivo – como as áreas de trânsito calmo utilizando urbanismo tático no Rosarinho, no Burity (ambos na Zona Norte) e em Jardim Monte Verde (Zona Sul), que redesenharam as ruas para readequar as velocidades, favorecer o caminho dos pedestres e criar novas áreas de brincadeira e convivência para moradores e crianças. Similarmente, na Rua das Oficinas, no Pina, a calçada foi aumentada para acomodar a passagem dos estudantes, e foram desenhados caminhos e amarelinhas, não somente melhorando a segurança mas trazendo diversão para as crianças no caminho da escola. Na ocasião, a principal atividade foi o uso do periscópio inverso, uma ferramenta para as pessoas colocarem o rosto e enxergarem a rua como se tivesse a altura das crianças.
“A rua é um espaço de deslocamento, mas também de brincadeira, de convivência, é um lugar em que queremos estar. Por isso nós, gestores, devemos fazer ruas cada vez mais atrativas para pessoas porque ruas seguras são ruas ocupadas. E não tem nada mais seguro do que ruas voltadas para as crianças, porque se elas, que são os cidadãos mais frágeis, estão seguras, toda a população estará”, explica a presidente da CTTU, Taciana Ferreira.
RECURSOS – Por fazer uma gestão de segurança viária pautada nesse princípio e por estar à frente de muitas iniciativas que priorizam a infância, o Recife foi a única cidade no Brasil contemplada com um incentivo para desenvolver um projeto de transformação de ruas que beneficie as crianças. O “Street for Kids”, da Iniciativa Global de Desenho de Cidades (GDCI), anunciou, em abril, o incentivo de até US$ 20 mil (mais de R$ 100 mil) para realização do projeto submetido pela Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), que vai adaptar as ruas Silva Jardim e 22 de Agosto, no bairro do Jordão, região periférica da Zona Sul da capital pernambucana. Para viabilizar a implantação da sinalização viária, a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) fará o calçamento da via. O projeto será entregue até o final de dezembro de 2023.
A intervenção vai melhorar a segurança e o conforto das crianças e cuidadores que acessam as três escolas do entorno. O projeto visa atender aos 566 estudantes (de 2 a 10 anos) das três escolas da região, além das demais crianças que habitam o bairro, e onde aproximadamente 1.200 pedestres trafegam diariamente apenas nos horários de entrada e saída das escolas. Além disso, o projeto pretende ativar um espaço verde subutilizado para oferecer mais oportunidades de brincadeiras e lazer para as crianças e jovens do bairro.
A presença de crianças e cuidadores, especialmente mulheres, sinaliza para as pessoas que um espaço público é seguro. Crianças sem supervisão aumentam a percepção de segurança e confiança na comunidade. Em todo o mundo, os pequenos podem realizar pequenas tarefas por conta própria em diferentes idades; no entanto, em países com uma forte cultura de caminhada, ciclismo e uso de transporte coletivo, as crianças andam pelas ruas de maneira autossuficiente mais cedo.
A exposição à diversidade de usuários e de atividades que acontecem nas ruas pode aumentar a consciência das crianças sobre as questões locais, e também oferecer oportunidades de interações sociais entre si e com os adultos. Essas experiências podem fortalecer o sentimento de pertencimento e cidadania. Além disso, quando as crianças estão mais presentes e visíveis, utilizando as ruas, elas estão mais presentes na mente dos formuladores de políticas públicas e gestores públicos.
VIDAS SALVAS NO TRÂNSITO – O Recife tem implantado diversos projetos para fazer das ruas espaços mais seguros para crianças, isso levou à redução de 30% no número de feridos no trânsito entre 0 e 9 anos, entre 2020 e 2021. O que também tornou o trânsito mais seguro para todas as pessoas, reduzindo em 18% o número de vítimas fatais neste mesmo período. O uso de urbanismo tático para redistribuição do espaço urbano, ampliação de áreas de convivência, criação de espaço para pedestres e redução de velocidade média da via foi aplicado em áreas como Jardim Monte Verde, no Ibura, Rua da Palma, no bairro de Santo Antônio, Rua das Oficinas, no Pina, e, ainda, no Largo Dom Luiz, na entrada do Morro da Conceição.
RUAS DO RECIFE – O Manual de Desenho de Ruas do Recife, lançado em maio deste ano, identifica a “Rua” como um espaço de deslocamento, mas também de lazer, cultura, encontros e convivência. Dessa forma, os projetos viários têm cada vez mais o objetivo de convidar as pessoas a ocupar as ruas e, dessa forma, torná-las mais seguras a nível de segurança viária e pública.
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