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Rosto que mais representou o Brasil no mundo, Pelé é exaltado como símbolo antirracista

Em meio à repercussão da morte de Pelé, mensagens de despedida e de luto dividiram espaço com reflexões sobre sua importância para negras e negros. Mais: sobre o fato do maior jogador de futebol da História, líder da geração que mudou a forma como o Brasil passou a ser visto no esporte, ser um homem preto. Um legado tão importante quanto seus gols e títulos.

— Devemos aprender a lidar com este legado. O Pelé precisa ser utilizado como um dos símbolos da luta antirracista neste país. — opina a jornalista Angélica Basthi, autora do livro “Pelé, estrela negra em campos verdes” (Ed. Garamond).

— Recentemente, ele assumiu que ouviu várias vezes a torcida o chamando de macaco. Isso é um buraco que ainda existe na sociedade brasileira e nas torcidas em geral. Devemos trazer isso como um chamado para que as instituições esportivas responsáveis pelo esporte tomem as medidas necessárias para enfrentar o racismo institucionalmente.


 

Ao longo das horas que se seguiram à morte de Pelé, pensadores e ativistas do movimento negro se manifestaram publicamente. Entre eles, o futuro ministro dos Direitos Humanos do governo Lula, Silvio Almeida:

“Pelé foi a primeira coisa que me fez gostar do Brasil. Ver um homem negro e brasileiro, como eu, sendo indiscutivelmente o melhor no que fazia me fez acreditar que, apesar de tudo, havia algo em que acreditar. Ele foi o sonho que se fez matéria. Obrigado, Pelé, obrigado Rei!”, postou o professor em suas redes sociais.

A ex-governadora do Rio Benedita da Silva também destacou a importância de Pelé além dos campos. Eleita deputada federal por diversas vezes desde a década de 1980, ela lembrou que durante muitos anos o rosto que mais representou o Brasil mundialmente era preto:

“Que tristeza! Hoje perdemos um dos maiores ídolos do Brasil, o Pelé. A importância do Pelé foi além do futebol. Um homem negro, que foi protagonista e potência mundial. Durante muito tempo, o rosto do Brasil no mundo era o rosto do Pelé”, escreveu a política em suas redes sociais.

Nomes de outras áreas destacaram esta importância simbólica de Pelé. Como o rapper Mano Brown e o grupo Racionais MC’s, que em suas redes sociais agradeceu a Pelé pelo legado. Já Neymar, em sua mensagem de despedida, destacou o feito de o eterno camisa 10 ter dado voz aos negros.

Ao longo de sua trajetória, o Rei foi muito criticado pela forma tímida como abraçou a luta antirracista. Só nas últimas décadas ele passou a falar sobre o assunto sem se esquivar. Em 1995, ao tomar posse como ministro dos Esportes, defendeu que negros votassem em negros por maior representatividade. Já nos anos 2000, admitiu em entrevistas que foi chamado de macaco em campo. E, mais recentemente, sua conta nas redes sociais aderiu aos protestos pela morte do americano George Floyd.

A verdade é que a mudança não é só dele. Mas da própria sociedade. Um movimento que inclui, inclusive, o olhar sobre Pelé, como um ser humano que se movimentou dentro de seu contexto. E morre como um símbolo do movimento antirracista.

— Este homem negro cometeu erros e acertos como ser humano, mas foi brilhante na sua carreira e trajetória. Ele foi exemplo de superação num país em que o racismo ainda é categórico na trajetória de jovens e homens negros como ele e que não conseguem, neste momento, ter direito à vida. Neste Brasil, o Pelé tem uma representatividade emblemática para todos nós. Sua trajetória também denuncia a violência racial que aniquila/mata a cada 23 minutos jovens negros que poderiam ser revelações no futebol, na economia e em outras áreas — complementa Angélica Basthi.

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Fonte: Folha PE

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