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Relação entre França e Marrocos, uma mistura de tensão e afeto

França e Marrocos têm uma relação pós-colonial relativamente relaxada, mas não isenta de tensões, que corre o risco de vir à tona quando suas seleções se enfrentarem na semifinal do Mundial do Catar, na quarta-feira (14). 

“A relação é muito mais tranquila” do que entre França e Argélia, apesar das inevitáveis tensões pontuais e zonas obscuras, disse à AFP o intelectual marroquino Hassan Aourid, às vésperas desse esperado encontro.  Para Auorid, “há, sem dúvida, segmentos da sociedade marroquina que têm uma relação muito afetuosa com a França, como a burguesia, a tecnoestrutura, o círculo dos dirigentes políticos, etc”.  O Marrocos proclamou sua independência em 1956, pondo fim a quatro décadas de protetorado francês e espanhol.

Desde então, apesar da concorrência espanhola, a França tem sido o principal parceiro econômico do país e, de longe, o principal investidor estrangeiro. A cultura francesa também continua a ser muito popular entre as elites do reino alauíta, com muitos de seus membros formados em escolas francesas. Quase 54 mil franceses vivem nesse país do Norte da África, e um milhão de marroquinos estão instalados na segunda maior economia da União Europeia (UE).

– Novos rivais –


No Marrocos, assim como no restante do continente africano, a influência da França tem sido desafiada por novos rivais nos últimos anos, como mostra o auge das escolas americanas, canadenses e até belgas. 

As gerações mais jovens, em particular, preferem o inglês, “porque é a língua das novas tecnologias e das redes sociais” e “porque o francês é percebido como a língua das elites”, explica o escritor franco-marroquino Hajar Azell, que vive entre Paris e Rabat.

O Instituto Confúcio, equivalente em chinês do Instituto Cervantes, em língua espanhola, também avança no Marrocos, assim como os conteúdos das emissoras de televisão dos países do Golfo, especialmente entre as classes mais populares. 

“Existem segmentos [da sociedade] influenciados pelo pan-arabismo, pelo islamismo, para quem a França não é apenas um país ocidental, mas também o inimigo que controlou e colonizou o Marrocos. Há uma mudança”, diz Aourid. 

Para Béatrice Hibou, do centro de pesquisa científica francês CNRS, “o surgimento de outras relações diferentes da francesa é inevitável e constitui um reequilíbrio, também pela perda de influência, sobretudo, econômica e política, da França”. 

Essa perda de influência se explica, principalmente, pelo declínio da política cultural e educacional francesa no Marrocos nas últimas décadas, segundo observadores.  “As escolas e liceus franceses, onde os franceses eram admitidos de graça e onde os marroquinos pagavam um pouco, são agora pagos e de maneira absolutamente delirante para os não franceses”, acrescentou Hibou. 

Segundo a pesquisadora, as pessoas dizem para si mesmas: “Já que tem que pagar, por que não mando meu filho para uma escola de inglês onde, do jeito que o mundo está, ele vai ter mais oportunidades?”. 

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Fonte: Folha PE

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