Para compartilhar a experiência na gestão de mobilidade urbana, a Prefeitura do Recife, por meio da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), apresentou projetos de redesenho urbano realizados na cidade durante o 36º Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Ensino em Transportes (Anpet), que acontece em Fortaleza (CE). Nesta quinta (10) e sexta-feira (11), gestores do Recife e da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global (BIRGS) apresentaram as intervenções da Rua da Palma, na área central da cidade, e de Jardim Monte Verde, na Zona Sul.
A gestora de projetos cicloviários, Laís Lucena, apresentou o trabalho “O urbanismo tático como forma de devolver o espaço para pessoas” e mostrou a intervenção da Rua da Palma, realizada em 2021. A intervenção tem o diferencial de adotar as proporções de desenho urbano de acordo com a ocupação da via, ou seja. Antes, a Rua da Palma tinha 60% do espaço para veículos, mas as pessoas que transitavam na via eram 60% pedestres. Dessa forma, a lógica foi invertida e 60% da área passou a ser para os que andam a pé. O trabalho apresentado no congresso teve o objetivo de compartilhar o passo a passo da equipe em realizar pesquisas métricas antes e depois para identificar os efeitos da intervenção e, ainda, em dialogar com a comunidade, especialmente comerciantes e ambulantes da via.
Durante a apresentação, os dados das pesquisas métricas colhidas na Rua da Palma foram apresentados: 72% das pessoas que circulam na área chegam na via a pé, de bicicleta ou por transportes coletivos. Com a intervenção que aumentou a área de pedestres, identificou-se um número de 85% menos pessoas andando no leito viário. O redesenho da via também induz os condutores à redução de velocidade e, com isso, o índice de respeito ao limite de 30 km/h chegou a 97%. A percepção das pessoas sobre a Rua da Palma também mudou: antes, 83% das pessoas se sentiam inseguras ao caminhar na área. Depois da intervenção, 71% das pessoas disseram se sentir seguras.
“A Rua da Palma é um grande exemplo de que a cidade pode ser redesenhada para as pessoas, basta identificar as necessidades de quem está no local. Ao longo dos anos, a cidade foi pensada para veículos e as necessidades de locomoção de veículos foram atendidas, mas se queremos cidades sustentáveis e seguras – tanto no que diz respeito à segurança pública, quanto no que diz respeito à segurança viária – precisamos de espaços que fomentem a mobilidade ativa e sustentável”, explica Laís Lucena, gestora de projetos cicloviários da CTTU.
Outro estudo de caso apresentado no congresso foi o de Jardim Monte Verde, no Ibura, Zona Sul do Recife. O projeto também foi apresentado em 2021 e teve o objetivo de criar faixas de pedestres, áreas de calçada, de refúgios e de convivência das pessoas. “O grande diferencial da intervenção de Jardim Monte Verde foi a entrega de espaços para as pessoas e o quanto a própria população se engajou na intervenção. Durante a inauguração, lembramos que a própria comunidade realizou uma festa para comemorar os novos espaços de convivência e de lazer, que trazem mais segurança viária”, explica o coordenador da Iniciativa Bloomberg no Recife, Gustavo Sales, que apresentou o estudo. A apresentação mostrou que, antes da intervenção, 93,4% do espaço era destinado aos veículos motorizados e apenas 6,6% aos pedestres. Após a intervenção, 48,7% da área era para pedestres. Entre os pedestres do local, 1/3 eram crianças e 97% dessas crianças se locomoviam no próprio leito viário. Foram implantadas 25 novas travessias e, ainda, nova sinalização para adequação de velocidade a 20 km/h.
Desde 2019, o Recife implantou 44 áreas de trânsito calmo, sendo 20 desde de 2021. Além disso, junto ao Programa Tá Aprumado, a CTTU e Emlurb realizam a consolidação desses urbanismos táticos, como aconteceu em áreas como as avenidas Conde da Boa Vista e Agamenon Magalhães, Rua do Hospício e Largo da Paz. Os projetos de redesenhos de vias da CTTU são realizados em parceria com a GDCI, organização de referência em mobilidade urbana e parceira da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global (BIRGS). O Recife também faz parte do Programa Street for Kids, que visa adaptar espaços como áreas escolares, parques e praças, de grande fluxo de crianças, para promover mais segurança viária a esse público, que é o mais vulnerável no trânsito.