Após subir a rampa do Palácio do Planalto na tarde deste domingo (1/1), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu a faixa presidencial de maneira simbólica “das mãos do povo brasileiro”, como foi narrado oficialmente na cerimônia de posse. O presidente da República chorou logo após receber a faixa.
Lula subiu a rampa acompanhado por pessoas que representam a diversidade brasileira, além da cadela Resistência, pertencente a Lula e à esposa, Rosângela da Silva, conhecida como Janja,
Um ponto incomum da cerimônia foi o fato de que a faixa presidencial não foi transmitida pelo presidente no cargo, como é de costume. Jair Bolsonaro (PL) não reconheceu publicamente a vitória de Lula e viajou para os Estados Unidos pouco antes da transmissão de cargo.
A solução encontrada pela organização da cerimônia, liderada por Janja, foi que o grupo de pessoas assumisse essa função.
O presidente subiu a rampa ladeado desses oito representantes, como o cacique kayapó Raoni Metuktire, líder indígena brasileiro, a catadora Aline Sousa e o menino negro Francisco, de 10 anos.
Os cidadãos que acompanharam o petista passaram a faixa de mão em mão, até que o objeto chegasse à catadora, de 33 anos, que colocou a peça em Lula. Aline Sousa trabalha recolhendo resíduos para reciclagem desde os 14 anos e é da terceira geração de catadores da família.
O menino Francisco mora em Itaquera, na periferia da zona leste de São Paulo, e é corintiano — assim como Lula. Em 2022, ele ficou em primeiro lugar no campeonato da Federação Aquática Paulista (1° região).
Em 2019, ele esteve em Curitiba para dar “Bom dia, Presidente Lula” quando o petista estava preso na Superintendência da Polícia Federal. A primeira vez que ele viu o presidente foi em 2019, em um jogo promovido pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) entre “Amigos do Lula” e “Amigos do Chico Buarque”. O garoto é filho de uma assistente social e um advogado que atuam em causas sociais.
Depois de assistir a um filme sobre a vida do presidente Lula, Francisco teria dito que também pode se tornar presidente. As informações foram divulgadas pela assessoria de imprensa do novo governo.
Ao lado deles, estava também Ivan Baron, representando os brasileiros portadores de deficiências. Ele sofreu paralisia cerebral aos 3 anos devido a uma meningite viral e se tornou referência na luta anticapacitista (contra a discriminação por motivo de deficiência).
Weslley Rodrigues Rocha, de 36 anos, trabalha como metalúrgico na região do ABC, na Grande São Paulo, desde os 18 anos.
O kayapó Raoni Metuktire é uma das mais conhecidas lideranças indígenas do Brasil, ativista das lutas pelos direitos dos povos originários. Segundo um site mantido pela ONG francesa Planète Amazone, parceira de longa data de Raoni, ele nasceu por volta de 1932 na aldeia Krajmopyjakare, no nordeste do Mato Grosso.
Na época, o povo kayapó (autodenominado mebêngôkre) era nômade e não tinha contato regular com o mundo exterior. Em 1958, o indígena acompanhou uma expedição para demarcar o centro geográfico do Brasil, às margens do rio Xingu, em cuja bacia os kayapós vivem até hoje. O país era então presidido por Juscelino Kubitschek, que esteve com o próprio com Raoni em 1950.
Em 1964, o cacique encontrou o rei Leopoldo 3º da Bélgica, que visitou o Brasil 13 anos após deixar o trono. Foi o primeiro de vários líderes estrangeiros com que ele teve contato, lista que inclui dois papas — João Paulo 2º e Francisco — e três presidentes da França: Fraçois Mitterrand (1981-1995), Jacques Chirac (1995-2007) e o atual mandatário, Emmanuel Macron.
A fama internacional de Raoni foi catapultada por um encontro com o cineasta belga Jean-Pierre Dutilleux. Os dois se conheceram em 1973 e, anos depois, o cineasta gravou um documentário sobre o indígena e seu povo.
Aclamado pela crítica, o filme Raoni teve sua versão em inglês narrada pelo ator americano Marlon Brando. Foi indicado ao Oscar e exibido no Festival de Cannes. No Brasil, ganhou o prêmio de melhor filme em Gramado. A BBC News Brasil o entrevistou em 2019.
No grupo que acompanhou Lula estavam também a cozinheira Jucimara Fausto, o professor Murilo Jesus e o artesão Flavio Pereira.
Já a cadela Resistência, inicialmente, foi carregada por Janja no colo e em seguida foi colocada no chão, sendo guiada em alguns momentos pelo presidente Lula.
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