Ensina o livro do Eclesiastes que há um tempo para todo propósito debaixo do céu: “Tempo de plantar e tempo de arrancar a planta; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de abraçar e tempo de se separar; tempo de nascer e tempo de morrer” (Ecl 3, 1-5). Até o final dos tempos, assim será. “Uma geração vai, uma geração vem. O sol se levanta, o sol se deita, apressando-se a voltar ao seu lugar e é lá que ele se levanta outra vez. O que foi será, o que se fez, se tornará a fazer: nada há de novo debaixo do sol” (Ecl 1, 4-9).
Compreendemos tudo isso. Aceitamos a vontade de Deus. E agradecemos o privilégio da convivência com minha mãe. Só que agora, teremos que aprender a viver sem ela. Ficou um enorme vazio. Uma tristeza sem fim. A saudade de sua presença linda, elegante, impecável (no físico e nos gestos). De seu jeito doce e firme, carinhoso e forte, simples e altivo. Sempre intransigente na defesa de seus princípios, solidária e generosa com os que precisavam, presente na alegria e, sobretudo, na tristeza.
Saudade dos seus conselhos, de sua experiência, de sua sabedoria. Sempre equilibrada e tranquila, na adversidade. Porque cedo compreendeu que os problemas estão postos para serem resolvidos. E decide melhor quem não se abate, quem os enfrenta sem dramas, sem dores, sem queixas.
Esteve sempre aberta à vida. Às modernidades da juventude. Dominava com maestria todos os equipamentos eletrônicos. Escolheu como sua principal e mais importante missão cuidar de Papai. De tanto cuidar dele e dos outros, virou quase médica; e assim, como se fosse mesmo examinava, diagnosticava, passava remédio. E acertava, sempre.
Criou seus filhos respeitando a individualidade de cada um. Compreendendo que filhos não são nunca cópias perfeitas de seus pais, no sentido de que devem ser livres para cumprir seus destinos. Com a distância das jornadas se medindo, algumas vezes, pelas circunstâncias; outras, pela determinação da vontade.
Precisamos, e precisaremos sempre, de seu exemplo, de suas lições, de sua proteção. Até porque, como no poema (Para sempre) de Carlos Drummond de Andrade, “Mãe não tem limite/ É tempo sem hora,/ É luz que não apaga quando sopra o vento/ É eternidade”. É “a coisa no mundo mais parecida com os olhos de Deus”, segundo dom Tolentino Mendonça.
Ensina o poeta espanhol Antonio Machado que, “Para o caminhante, não há caminhos.
Caminhos se fazem ao andar”. Na direção indicada pelas estrelas no céu. Se assim é recebam, Mamãe e Papai, de seus filhos, netos e bisnetos, a certeza de que vocês são, e serão sempre, duas estrelas brilhantes. Indicando caminhos, no mar sem fim de nossas vidas.
Veja também
Petrobras PeruCiro Nogueira diz que apoiará qualquer nome escolhido por Bento Albuquerque para presidir Petrobras
Castillo suspende toque de recolher em Lima após diálogo com o Congresso
Fonte: Folha PE
Autor: Letícia Cavalcante
Você precisa fazer login para comentar.