- Daniela Relph e Bernadette Kitterick
- Correspondentes da realeza, BBC News
No dia 10 de janeiro, “Spare” (“O que Sobra”, na edição em português), a tão esperada e polêmica autobiografia do príncipe Harry, foi colocada à venda.
No livro, o filho do agora rei Charles 3º fala sobre vários aspectos de sua vida pessoal: a infância, a morte da mãe, sua juventude rebelde, a saída conturbada da família real após seu casamento com a atriz Meghan Markle e o complicado relacionamento com o irmão William e seu pai, entre outros.
Mas quais membros da família real britânica foram retratados da pior forma na autobiografia de Harry?
Rei Charles 3º
O retrato de Charles 3º é em grande parte amigável. De toda a família real, ele é o que se sai melhor.
Os comentários do príncipe Harry sobre seu pai cobrem um terreno que já conhecíamos. Eles reforçam a imagem que muitos têm dele.
Ele descreve “Pa” como um homem sensível e estudioso que lutou para se conectar emocionalmente com Harry após a morte de Diana.
Mas o rei agora é o chefe e, embora escape do pior, tem que decidir como lidar com os ataques dirigidos a outros membros da família.
O que Harry diz sobre a rainha consorte Camilla será difícil para o pai dele engolir. Se houver algum tipo de reconciliação, terá que vir de cima.
Qualquer ramo de oliveira provavelmente terá que ser oferecido primeiro pelo rei. E agora, publicamente, não há sinal disso.
Camilla, a rainha consorte
Para Camilla, a rainha consorte, tem sido um caminho difícil. Mas a opinião de Harry sobre a madrasta também é cheia de contradições.
Ele direciona grande parte de sua fúria contra ela, acusando-a de cortejar os tablóides para melhorar sua imagem pública, rotulada de “vilã”. Uma estratégia, segundo ele, que a tornava “perigosa”.
É uma história complicada para uma mulher que nunca teve um amplo apoio do público.
Ao mesmo tempo, em outro capítulo, e em uma resposta durante a entrevista, o tom é mais gentil, até afetuoso e cheio de admiração. Ele reconhece a felicidade e a paz que ela trouxe ao pai e elogia o trabalho dela com vítimas de violência doméstica.
Para Harry, Camilla é uma pessoa confusa.
William, príncipe de Gales
O príncipe William é alvo de duras e repetidas críticas. O livro mudou a forma de ver o relacionamento dos irmãos, Willy e Harold, já que agora sabemos os nomes deles.
As coisas não têm ido muito bem ultimamente. Mas eles eram irmãos ligados pela perda e dependiam um do outro. Não é assim?
Parece que não, de acordo com Harry. A tensão entre eles remonta a décadas, diz ele, ignorado por William na escola de Eton, usurpado em particular como padrinho no casamento do irmão e depois atacado por ele na cozinha. Às vezes, a escrita exala raiva e, outras, maldade.
William aparece na obra como o irmão mais velho zangado, frustrado e reprimido. Não se encaixa em sua imagem pública de membro da realeza simpático, afável e empático.
O Palácio de Kensington não respondeu a nada do que Harry escreveu. Em vez disso, vemos William deixando seu trabalho real falar por ele. Cumprindo seu dever. Foco em comunidades vulneráveis. E tentando fugir do furor causado pelo livro. Se isso for possível.
Kate, a princesa de Gales
Há muito sobre o assunto Kate vs. Meghan no livro. Para Harry, sua cunhada é sempre Kate.
As referências a ela costumam ser pessoais e surgiram de memórias de momentos privados. Nesse sentido, elas são reveladoras.
Harry não gostou da mídia retratando as duas mulheres como rivais, mas esse é o contexto em que a princesa de Gales é frequentemente discutida em seu livro.
Uma Kate tensa e formal é relatada na obra, ao lado de uma Meghan aberta e descalça.
Kate não gosta de abraços, não gosta de compartilhar brilho labial e, segundo Harry, houve um infame mal-entendido sobre os vestidos das damas de honra.
É difícil imaginar que isso não seria pessoalmente prejudicial para a princesa de Gales, especialmente por expor elementos de sua vida privada e de seus filhos, que ela protegeu ferozmente.
Novamente, assim como o marido dela, não espere ouvir nenhuma resposta pública. Em vez disso, ela também deixará seus compromissos públicos falarem por si.
Meghan, Duquesa de Sussex
Para o marido, ela é Meg. Ela mudou a vida de Harry. No livro e nas entrevistas, há menos da duquesa do que se poderia pensar.
Grande parte das memórias de Harry cobre a vida dele antes de Meghan. Mas a influência e impacto dela brilham assim que ela entra em cena. Ele diz que escrever o livro teria sido “logisticamente, fisicamente, emocionalmente e espiritualmente” impossível sem ela.
É provável que o livro consolide as opiniões sobre Meghan. Para alguns, Harry foi resgatado por ela e escapou para uma vida de liberdade e imensa felicidade.
Para outros, ela o distanciou do dever e da família e nunca será perdoada. A cobertura da mídia desta semana provavelmente não os fará mudar de ideia.
Harry, Duque de Sussex
Por onde começar? Ninguém esperava que ele se contivesse. Sua história, suas palavras, eram o campo do jogo.
Mas esta história é mais gráfica. Essas palavras mais íntimas e seu ódio pela imprensa tablóide britânica é mais intenso do que o esperado. Escrever o livro foi para ele uma experiência “dolorosa” e “catártica” ao mesmo tempo.
O livro agora será um obstáculo que atrapalhará a reconciliação que Harry diz querer com a família. Encontrar uma trégua parece impensável agora. A confiança foi quebrada.
Em suas entrevistas, Harry disse que não falava com seu pai ou irmão há algum tempo. Há tristeza por aqui, mas as coisas ficaram pessoais e essa não é uma posição confortável para a família real.
O interesse por Harry e Meghan continua alto, mas é difícil julgar se continuará nos próximos meses e anos, agora que a história deles veio à tona.
Os verdadeiros vencedores
Além de alguns membros da realeza, há um punhado de outros vencedores.
A editora do livro, a Penguin Random House, tem um best-seller em mãos durante o mês de janeiro, quando normalmente há uma pausa nas vendas depois do Natal.
Também tem sido um projeto lucrativo para o canal britânico ITV. A entrevista com Harry já foi vendida para 77 territórios ao redor do mundo, da França à Nova Zelândia.
O poder da terapia é frequentemente mencionado, o que Harry credita por permitir que ele enfrentasse o passado e escrevesse suas memórias. Os agradecimentos do livro também dão uma ideia da equipe de Harry: fisioterapeutas, acupunturistas, professores de pilates, quiropráticos, personal trainers e um especialista em energia. Ele agradece a todos por mantê-lo mental e fisicamente forte ao longo dos anos.
E entre aqueles que recebem um impulso inesperado de publicidade estão os amantes da barba. A outra BBC, a Barba Britânica Clube, está considerando pedir ao príncipe Harry que ele se torne um patrono, ou pelo menos um membro de cortesia, depois que ele escreveu a favor das barbas no livro dele.
Tem sido uma semana agitada de informações sobre a família real.
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