Uma mulher que nasceu sem orelhas e que passou há 20 anos por uma inovadora cirurgia para colocar uma prótese contou à BBC como o procedimento mudou sua vida.
Até os 47 anos, Janet Craven conseguia ouvir mal e cobria o rosto com os cabelos porque se sentia mal com sua aparência.
Janet, de Wakefield, na Inglaterra, nasceu com a síndrome de Treacher Collins, uma doença genética rara que afeta a forma como o rosto se desenvolve — especialmente as maçãs do rosto, mandíbulas, orelhas e pálpebras.
Na juventude, ela passou por várias operações para reconstruir sua estrutura facial. Mas a cirurgia que mudou mesmo sua vida foi realizada muito mais tarde, quando próteses de orelhas, feitas de silicone, foram magneticamente presas à cabeça por meio de implantes de titânio no osso.
Ela também tinha um aparelho auditivo colocado em seu crânio, o que significava que ela podia ouvir apropriadamente pela primeira vez.
Janet, de 67 anos, conta que antes da operação seu aparelho auditivo era muito ruim e sua experiência com os sons era como estar em um “túnel”.
“Quando as pessoas me falavam algo, eu só ouvia 10 minutos depois, então eu estava sempre atrasada nas conversas”.
A irmã de Janet, Jackie Blackall, conta como o problema afetava a família. “Por causa dessa condição, nossa mãe era muito protetora com ela. Então, durante toda a vida de Janet, ela foi acolhida e era assim que costumava ser.”
Janet diz que sempre se sentiu “fechada e tímida”, mas ter orelhas significava que ela finalmente podia cortar seus longos cabelos, “se sentir mais normal, e usar brincos.
Ela disse que agora “nunca para de falar”.
Quando a cirurgia foi realizada, em 2002, foi noticiado que Janet era uma das poucas pessoas no Reino Unido a se submeter ao procedimento de prótese de orelha, que foi realizado pelo cirurgião Richard Loukota, no Hospital Pinderfields, em Wakefield.
Loukota, que já se aposentou, disse que ajustar as orelhas de Janet, que foram fabricadas a partir de um molde das orelhas de sua sobrinha, foi “do ponto de vista cirúrgico, muito fácil”.
“A cirurgia é realmente apenas um pouco de carpintaria de alta classe”, disse. “As pessoas realmente inteligentes, na minha opinião, são os técnicos que passam horas esculpindo as orelhas, que é o que todo mundo vê.”
Janet se lembra que, após a cirurgia, se sentiu nas “nuvens”, embora tenha sido subitamente lançada em um mundo de barulhos que nunca tinha conhecido.
“Havia todos esses barulhos ao meu redor e eu não sabia de onde eles vinham. Eu estava parada no semáforo e congelei porque havia o som do trânsito, e coisas como o vento, que eu nunca tinha ouvido antes”, conta ela.
Janet disse que demorou um pouco para se acostumar e suas próteses não chegaram sem problemas. Ela se lembra quando seu cachorro, um Yorkshire terrier chamado Kirby, comeu suas orelhas.
“Eu bebi alguns drinques, fui para a cama e esqueci de tirar minhas orelhas. O cachorro deve ter pulado na cama no meio da noite e comido. Acordei na manhã seguinte e havia muitos pedaços de silicone por toda parte. Meu brinco ainda estava lá, mas os ímãs se foram. Eu apenas olhei para Kirby e disse: ‘não é possível que você fez isso’.”
Ela levou o pet ao veterinário, preocupada com uma possível reação aos ímãs, mas, para seu alívio, ele saiu ileso.
Janet disse que outro momento memorável foi quando ela viajou de férias para o exterior pela primeira vez, e os ímãs e implantes acionaram o alarme no equipamento de segurança do aeroporto.
“A moça da segurança me disse: ‘por que sua cabeça está apitando?’. Respondi: ”você realmente quer saber?’. Eu contei a ela sobre minhas orelhas e as tirei. Ela ficou tão chocada que desmaiou.”
Os primeiros 12 meses depois da cirurgia foram “um pesadelo”, diz Janet.
Dependendo das condições, novas orelhas são produzidas para ela a cada dois ou três anos.
Ela espera que o próximo conjunto de orelhas venha com mais furos para que ela possa usar mais brincos.
Janet também teve várias atualizações em seu implante auditivo, com o dispositivo atual conectado e controlado por meio de seu telefone celular.
Ela diz que sua esperança agora é arrecadar dinheiro para uma instituição de caridade, o Institute of Maxillofacial Facial Prosthetics and Technologists, bem como para o Bradford Teaching Hospitals, que a ajudam em seu processo.
“Eu realmente quero ajudar e dar algo de volta para aqueles que me ajudaram tanto”, diz.
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