Pesquisas boca de urna para o segundo turno da eleição legislativa na França apontam que a Nova Frente Popular (NFP), coligação de partidos de esquerda, teria obtido o maior número de cadeiras para o Parlamento do país, segundo a rede estatal de TV e outros canais franceses.
No entanto, de acordo com essas projeções, nenhuma força teria obtido maioria no legislativo francês. Especialistas descreveram estas eleições como as mais polarizadas da história recente da França.
Mesmo antes do fechamento das urnas, a taxa de participação dos eleitores já era a maior em mais de 40 anos.
O parlamento nacional é composto por 577 deputados. Para obter a maioria absoluta são necessários 289 assentos.
O líder da frente de esquerda, Jean-Luc Mélenchon, disse após a divulgação da boca de urna que sua coligação está “pronta para governar”.
As projeções mostram o Reunião Nacional, de Marine Le Pen, em terceiro, atrás da coligação do presidente francês Emmanuel Macron, a Ensemble! (Juntos).
O caminho para dominar o parlamento, em uma eleição de dois turnos segundo o sistema francês, se tornou mais difícil para a agremiação de Marine Le Pen nos últimos dias que antecediam a votação.
Diante do surpreendente sucesso da direita radical nas urnas no último fim de semana, a coligação de Macron e a esquerda decidiram unir forças.
Para deter a chegada do Reunião Nacional ao poder, centristas e esquerdistas retiraram mais de 200 candidatos da disputa para concentrar os votos nos nomes mais bem colocados.
Ou seja, em muitos dos distritos eleitorais onde concorriam três candidatos (um da direita radical e dois de centro ou esquerda), restaram apenas dois.
A estratégia tinha como objetivo garantir que os votos não fossem dispersos e que os eleitores votassem na alternativa contra Le Pen, seja ela da coligação centrista de Macron ou da esquerda.
Diferentemente do Brasil e de vários países, as eleições legislativas na França têm dois turnos. É possível ter uma votação com três ou mais candidatos no segundo turno.
Para isso, é necessário ter 12,5% dos votos dos eleitores inscritos. Quanto maior a participação do eleitorado, aumentam as possibilidades de mais candidatos chegarem ao segundo turno.
Cerca de 30 mil policiais foram mobilizados para o esquema de segurança para a eleição francesa. Apesar de alguns incidentes isolados, não houve ocorrências de gravidade até o fim da noite de domingo no horário local.
Decepção para a direita
Jordan Bardella, protegido de Marine Le Pen e que era cotado para ser o novo primeiro-ministro francês em caso de uma vitória do RN, declarou que a aliança “não natural” e “desonrosa” entre esquerdistas e a coligação de Macron impediu a vitória de seu partido.
“Hoje à noite essas alianças jogaram a França nos braços da extrema esquerda de Jean-Luc Mélenchon”, disse Bardella.
O presidente Macron, segundo o palácio presidencial francês, “está analisando” os resultados e não deve se pronunciar neste domingo.
Seu premiê, Gabriel Attal, anunciou que vai pedir nesta segunda-feira (8/7) a renúncia do seu cargo.
A vitória projetada para a esquerda daria a possibilidade de a coligação esquerdista ocupar o cargo de primeiro-ministro.
Pelo sistema político francês, o presidente se concentra na defesa nacional e questões de política exterior, enquanto supervisiona o funcionamento de todas as entidades governamentais na França.
Já o premiê foca nas questões domésticas. Normalmente essa formação funciona em harmonia entre as duas partes.
Sem nenhuma força política com maioria absoluta no Parlamento, de acordo com as projeções, negociações terão que ocorrer.
Quem forma a coligação de esquerda
A Nova Frente Popular é uma aliança de socialistas, ecologistas, comunistas e da França Insubmissa (LFI), partido de Mélenchon.
A coligação foi formada depois que Macron convocou eleições parlamentares antecipadas no último dia 9 de junho.
Estes partidos têm diferenças importantes de pensamento e abordagem e já trocaram críticas anteriormente. Mas decidiram formar um bloco para manter a extrema direita fora do governo.
A NFP prometeu anular as reformas na Previdência e na imigração aprovadas pelo atual governo, criar uma agência de resgate para imigrantes sem documentos e facilitar pedidos de visto.
Pretende também impor limites a reajustes de bens básicos para combater a crise do custo de vida e fala em aumentar o salário mínimo.
Fonte: BBC
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