Prefeito João Campos visitou nesta quinta (28) a Pousada Solar do Lazer, para receber os novos moradores do local. Iniciativa é uma das ações do Recife Acolhe. (Foto: Rodolfo Loepert/PCR)
Com o objetivo de acolher pessoas em situações de rua, a Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos, Juventude e Políticas sobre Drogas (SDSDHJPD), credenciou a primeira empresa de hotelaria classificada no processo do Programa Recife Acolhe que oferta vagas a essas pessoas. Trata-se da Pousada Solar do Lazer, que fica no bairro de Santo Amaro e passou a acolher, a partir desta quinta-feira (28), 16 pessoas que dormiriam nas ruas. O prefeito João Campos esteve no local na manhã desta quinta-feira quando conversou com os primeiros beneficiados e verificou as instalações da pousada.
O Programa Recife Acolhe visa dar a chance de recomeço para pessoas em vulnerabilidade social e combater a desigualdade social por meio da promoção de oportunidades para esse público. “A gente fica muito feliz de poder vir aqui, conversar com as pessoas, entender a história de cada uma, as necessidades, e a gente junto com eles poder construir essas alternativas que trazem cada dia mais dignidade para as elas. É com grande alegria que a gente dá mais esse passo e reafirma o nosso compromisso com a população de rua. A gente abre um espaço, com funcionamento 24 horas por dia, dedicado para fazer esse acolhimento, com direito a cinco refeições, com banheiro, com quarto, com estadia”, comemorou João Campos.
O prefeito explicou ainda as ações da Prefeitura no sentido de ajudar as pessoas com maior vulnerabilidade social. “Hoje a gente dá um passo importante dentro do Programa Recife Acolhe, que é um programa criado e pensado para ajudar as pessoas em situação de rua e tem vários eixos diferentes, como a empregabilidade, quando a gente está contratando as pessoas em situação de rua para ajudar no cuidado, na manutenção e na limpeza da cidade; e agora pensando na acomodação dessas pessoas. O Recife Acolhe tem esse compromisso de olhar para quem mais precisa, olhar com dignidade, olhar para quem verdadeiramente necessita de um apoio e de um acolhimento por parte do poder público, da Prefeitura”, acrescentou o prefeito.
O estabelecimento classificado se propôs a disponibilizar 120 vagas para as pessoas que forem encaminhadas pelos serviços da Assistência Social do município. Entretanto, a ocupação se dará de forma gradativa. O encaminhamento pode ser feito pela busca ativa por meio das equipes do Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS), ou pelos Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua (Centro POP). “Esse é um modelo de acolhimento em hospedagem, em pousada, onde a gente vai ter capacidade de acolher inicialmente 58 pessoas no total. Nesse primeiro momento estão entrando 16 pessoas. Nessa hospedagem, a gente tem uma equipe psicossocial, de assistentes sociais e psicólogos que vão acompanhar essas pessoas no dia a dia. Aqui funciona como uma casa, então eles vão ajudar nas demandas pessoais do dia a dia. A gente também tem o educador social que vai acompanhar por 24 horas, com plantão diário e noturno. Qualquer encaminhamento a rede de saúde ou educação também é feito por essa equipe”, explicou a secretária de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos, Juventude e Políticas sobre Drogas, Ana Rita Suassuna.
“O importante também é tentar identificar um familiar para que a pessoa possa reconstruir a história que foi perdida lá atrás, caso tenha acontecido, ou fazer um novo projeto de vida, conseguir um emprego, vai depender de cada pessoa. Cada um com sua singularidade vai ser bem atendido na hospedagem”, completou a secretária. O objetivo do edital é credenciar estabelecimentos da rede de hotelaria, podendo ser pousada ou hotel, que se interessem em oferecer pelo menos cinco vagas, custeadas pela PCR, para abrigar as pessoas em situação de rua. A publicação segue em vigor e, para se inscrever, é preciso ser pessoa jurídica e apresentar os documentos exigidos no edital, que pode ser encontrado na página da Secretaria de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos, Juventude e Políticas Sobre Drogas no portal da Prefeitura do Recife (https://bityli.com/7t3PV).
Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Pernambuco (ABIH-PE), Eduardo Cavalcanti, o Recife Acolhe vem também como um respiro para o setor. “A pandemia foi muito cruel em diversos aspectos, mas falando particularmente do turismo, o setor hoteleiro ficou completamente suspenso. Tivemos um momento em que 95% dos hotéis e pousadas estavam completamente parados e se reerguer nesse cenário não é fácil”, disse. O presidente ainda elogiou a iniciativa da Prereitura. “A contratação de estabelecimentos no programa coloca em prática uma premissa da gestão municipal de dar mais qualidade de vida às pessoas e também fazer crescer a economia da nossa cidade”. Inicialmente, o investimento estimado do município na contratação de empresas para a oferta de vagas de acolhimento é de até R$ 3,6 milhões por 180 dias, podendo ser prorrogado, a critério da Secretaria de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos, Juventude e Políticas sobre Drogas (SDSDHJPD). Neste valor, está contido o gasto estimado da diária por cada uma das 200 vagas ofertadas, que é de, no máximo, R$ 100.
José Nilton, já esteve em situação de rua e hoje é coordenador nacional do Movimento População de Rua em Pernambuco, além de fazer parte do Coletivo Maria Lúcia. Ele esteve no momento da visita do prefeito à pousada e comentou sobre a iniciativa. “A gente vê essa iniciativa de forma positiva porque é um pleito antigo nosso. No Recife, há o suporte para que possamos ser sujeitos com autonomia. Essa iniciativa é muito importante porque está num diálogo com a população em situação de rua e não para a população em situação de rua”, declarou.
Já Carlos de Barros, 62 anos, um dos beneficiados com a hospedagem, o momento é de agradecer. “Vivo há 17 anos na rua, sempre dormindo na chuva, sempre dormindo no frio. Mas graças a Deus agora teve alguém que se lembrou dos pobres. João Campos ‘fez esse abrigo’ para a gente poder dormir, para a gente sair da rua, deixar de estar sofrendo e estar sendo cuspido na rua”, disse. “Nem todo morador de rua usa drogas, nem todo morador de rua é ladrão e nem todo morador de rua joga pedras não. Mas, infelizmente, a gente é morador de rua por causa da situação que o país está passando. A gente procura emprego e não acha. Graças a Deus agora olharam para os moradores de rua e para os idosos. Eu vou fazer de tudo para me comportar direito aqui. Obrigado ao senhor prefeito”, afirmou ele. “Achei maravilhoso, espaço muito grande, os beliches todos cheirando a novo, os lençóis todos novinhos, os banheiros todos limpos, e a comida de primeira qualidade”, complementou.
Já Joselito Coelho, 60 anos, disse que gostou muito do espaço mas que espera em breve ter condições de alugar o seu próprio apartamento: “Tive uma impressão muito boa logo de início. Era aquilo que eu pensava mesmo. E aqui é central e tem lavanderia, posso lavar e enxugar tudo. Eu acredito que não vou ficar muito tempo porque está para sair a minha aposentadoria e eu pretendo alugar um quarto ou apartamento para mim”, falou, empolgado.
ACOLHE RECIFE – O Programa Recife Acolhe foi lançado com a proposta de reduzir os impactos da extrema pobreza e dos riscos sociais da população em situação de rua, contribuindo com a diminuição da desigualdade social na cidade. A iniciativa é formada por seis eixos, cuja execução será viabilizada a médio e longo prazo, são elas: Ampliação dos Serviços; Moradia; Segurança Alimentar; Educação, Emprego e Renda; Doação e Institucional. O Programa conta com ações conjuntas das Secretarias municipais e empresas para garantir o funcionamento dos eixos. Algo novo e moderno sem referências consolidadas no nosso país.