O presidente do conselho da BBC, Richard Sharp, renunciou nesta sexta-feira (28/4) após um relatório apontar que ele não revelou possíveis conflitos de interesse percebidos durante sua nomeação.
A investigação examinou se ele foi transparente sobre seu papel na facilitação de um empréstimo ao ex-premiê britânico Boris Johnson.
Johnson foi quem indicou Sharp para o cargo no conselho.
O presidente do conselho da BBC, que não tem interferência na parte editorial da BBC, só pode ser nomeado ou demitido pelo governo. O diretor-geral da BBC — o executivo que detém o controle editorial final da corporação — não tem o poder de removê-lo.
O relatório final da investigação independente — conduzida pelo jurista Adam Heppinstall — concluiu que Sharp falhou ao não divulgar potenciais conflitos de interesse.
Sharp disse que a violação do código não foi intencional.
Heppinstall foi nomeado pelo Comissário de Nomeações Públicas para investigar as acusações contra Sharp que foram publicadas pelo jornal Sunday Times.
Antes de renunciar, Sharp já havia admitido que organizou um encontro entre o funcionário público mais antigo do país — o secretário de gabinete Simon Case — e Sam Blyth — que é primo distante de Johnson e que havia se oferecido para fornecer assistência financeira ao então primeiro-ministro no final de 2020.
Na época desse encontro, Sharp, que é ex-banqueiro e doador do Partido Conservador, já havia se candidatado ao cargo na BBC.
A investigação apontou que Sharp deixou de revelar dois “potenciais conflitos de interesse percebidos”: primeiro, ao dizer a Johnson que queria se candidatar ao cargo na BBC antes de fazê-lo; e, segundo, ao dizer ao então primeiro-ministro que pretendia marcar uma reunião entre Blyth e Case.
O relatório constatou que “existe o risco de uma percepção de que Sharp foi recomendado para nomeação” porque procurou ajudar o primeiro-ministro em uma questão financeira privada “e/ou que influenciou o ex-primeiro-ministro a recomendá-lo, informando-o de sua candidatura ao cargo antes de a ter submetido”.
O relatório não fez um julgamento “sobre se o Sharp tinha alguma intenção de tentar influenciar o ex-primeiro-ministro dessa maneira”.
Confirmando sua renúncia, Sharp disse que o relatório constatou “que, embora eu tenha violado o código de governança para nomeações públicas, ele afirma que uma violação não invalida necessariamente uma nomeação”.
Sharp disse que o relatório conclui que ele não desempenhou “qualquer papel na facilitação, arranjo ou financiamento de um empréstimo para o ex-primeiro-ministro”.
Em um comunicado, Sharp disse que não queria ser uma “distração” para a BBC e que foi uma honra presidir o conselho da empresa. Ele permanecerá no cargo até junho, até que um sucessor seja nomeado.
A condução da polêmica envolvendo Sharp foi criticada no Reino Unido, sobretudo depois da suspensão em março do apresentador Gary Lineker por causa de um tuíte no qual criticou a política de imigração e pedidos de asilo do governo britânico.
Na época, Lineker foi acusado de violar as normas de imparcialidade da BBC — mas muitos cobraram que Sharp não foi submetido ao mesmo rigor.
Os críticos da maneira como a BBC lidou com a questão compararam o tratamento dado a Lineker e Sharp, já que o apresentador chegou a ser suspenso, mas o presidente do conselho seguiu no cargo.
Em um comunicado, Tim Davie, diretor-geral da BBC, disse que Sharp fez uma “contribuição significativa para a transformação e o sucesso da BBC”.
O primeiro-ministro Rishi Sunak disse que não viu o relatório sobre Sharp e não garantiu que uma figura não política o substituiria. “Há um processo de nomeações que acontece para essas nomeações. Não vou prejulgar isso”, disse a repórteres.
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