Para que não haja novas vítimas por sinistros de trânsito, a Prefeitura do Recife, por meio da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), tem intensificado as ações voltadas para a mudança de comportamento no trânsito, especialmente dos condutores. Um dos métodos utilizados é a comunicação e, nesta terça-feira (23), será veiculada uma campanha de mídia alertando para os riscos de comportamentos imprudentes no trânsito. As peças lembram a história do sinistro de trânsito ocorrido no bairro da Tamarineira, Zona Norte, em 2017 – onde o excesso de velocidade e a embriaguez do condutor provocaram a morte de três pessoas, uma delas grávida, e deixou duas feridas, uma com lesão permanente.
O vídeo da campanha reproduz imagens de hospitais e médicos socorrendo as vítimas e traz a reflexão “O que pode acontecer em menos de um segundo?”, além de um depoimento do advogado Miguel Silveira, uma das vítimas sobreviventes da ocorrência, junto com a filha Marcela, que ficou com lesões após a tragédia. No sinistro faleceram a esposa de Miguel, Maria Emília, de 38 anos, Miguelzinho, filho do casal, de três anos, e Roseane Souza, 23, babá das crianças – e que estava grávida. “É muito pesado viver assim. Você perder um filho e perder a esposa que você ama… E o pedido que eu faço pra cada um: ter consciência de que se você não respeitar as regras, você vai ocasionar acidentes*”, conta Miguel. Em março de 2022, após julgamento, o condutor foi condenado a 29 anos e quatro meses de prisão por três homicídios dolosos e duas tentativas de homicídio.
O caso, ocorrido em 2017, chocou a cidade do Recife por sua gravidade. A combinação de dois dos principais fatores de riscos para sinistros de trânsito – direção sob efeito de álcool e outras drogas, além do excesso de velocidade, tirou a vida de três pessoas que estavam em um carro e seguindo as leis de trânsito. “Os danos, nesse caso, foram irreversíveis. Pessoas perderam a vida e seus entes queridos, pelo menos duas famílias foram destruídas e precisamos observar o fator determinante nesse caso, que foi o excesso de velocidade. Foi uma tragédia que poderia ser evitada se a velocidade máxima fosse respeitada”, destacou a presidente da CTTU, Taciana Ferreira.
Ao todo, pode-se contabilizar pelo menos três infrações de trânsito perigosas nesta ocorrência: a direção sob efeito de álcool e outras drogas, o avanço de semáforo e o fator determinante para a gravidade da colisão, que foi o excesso de velocidade. De acordo com os registros, o condutor infrator avançou o semáforo sob efeito de álcool e outras drogas e, ainda, a uma velocidade de 108 km/h, mais que o dobro da regulamentada no local, que é de 50 km/h. “A Organização Mundial da Saúde aponta que dirigir sob efeito de álcool e o excesso de velocidade são dos fatores de risco que provocam mais sinistros de trânsito no mundo, inclusive de mortes. Se por um lado o álcool compromete a capacidade cognitiva e a tomada de decisões do condutor, do outro a velocidade reduz o tempo de resposta, para uma frenagem por exemplo, e diminui o campo de visão do motorista. A combinação desses dois fatores é fatal! Sem dúvida, com o excesso de velocidade a probabilidade é que sinistros assim sejam ainda mais graves, senão fatais.” afirma Dante Rosado, coordenador do programa de segurança viária da Vital Strategies, no Brasil.
Em agosto de 2018, após esse sinistro de trânsito grave, foi implantado um equipamento de fiscalização eletrônica na área. As escolhas dos locais para implantação de fiscalização eletrônica sempre se baseiam nos dados de sinistros ou na necessidade de readequação da velocidade para deixar a via mais segura. Nos primeiros seis meses de implantação, o número de infrações notificadas por excesso de velocidade variava entre 600 e 500 casos por mês. Em dezembro de 2022, a CTTU registrou 16 notificações de excesso de velocidade no local, o que revela um aumento de 97% no índice de respeito na área. Esse padrão se repete em locais com equipamento de fiscalização eletrônica, onde o índice de respeito ao limite de velocidade é de 98%, o que torna as vias mais seguras por meio da mudança de comportamento dos condutores.
O uso de campanhas de mídia de massa para conscientização das pessoas e mudança de comportamento tem sido uma estratégia adotada pela CTTU desde 2021, com o apoio da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária (BIRGS) – tanto na produção, quanto no custeio do serviço. A campanha é feita em paralelo à intensificação da fiscalização e à abordagem das blitze, nas quais os agentes de trânsito relembram a mensagem da campanha para informar os condutores motorizados sobre os fatores de riscos abordados. Em pesquisa amostral realizada após a campanha de 2021, que tratou sobre os riscos do excesso de velocidade e a necessidade de preservar os leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) para as vítimas da pandemia da Covid-19, 95% das pessoas disseram que entenderam as consequências de não seguir os limites de velocidade e 88% das pessoas disseram que a campanha os motivou a seguir os limites de velocidade. Em 2022, em uma nova campanha sobre o assunto, as respostas foram de 91% e 88%, respectivamente.
Tainá Costa, gerente de comunicações da Vital Strategies para o Brasil, comentou: “Campanhas eficazes de comunicação sobre segurança viária são um componente essencial de uma estratégia abrangente de segurança viária para salvar vidas. Campanhas orientadas por dados, aliadas à fiscalização, podem mudar comportamentos de risco, tornando as ruas mais seguras para todos e evitando a trágica perda de vidas e ferimentos graves que famílias e comunidades enfrentam todos os dias. Temos orgulho de apoiar a nova campanha do Recife, que mostra as consequências fatais do excesso de velocidade.”
* O termo “acidente de trânsito” foi utilizado na campanha para trazer a linguagem mais nítida à população. Entretanto, a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife opta por utilizar o termo “sinistro de trânsito”, por compreender que essa seria uma ocorrência que poderia ter sido evitada caso as leis de trânsito fossem seguidas.