Geradas por uma sociedade que dá mais valor aos feitos dos homens e discrimina as mulheres das mais variadas formas, associando ao feminino tudo o que é considerado frívolo, de pouca importância, as práticas de violência de gênero, que culminam no feminicídio, não podem ser naturalizadas.
Cada caso é chocante, e a “não aceitação” de um homem com o fim de um relacionamento não pode ser visto como uma característica própria da natureza masculina. E assim deve ser visto o caso ocorrido nesta sexta-feira (8), em Boa Viagem.
A análise é da vice-presidente do Instituto Maria da Penha, Regina Célia Barbosa. “A gente fica impactada. Eu não posso chegar ao ponto de naturalizar essas ocorrências. Porque senão a gente acaba aceitando. Eu estou impactada e, ao mesmo tempo, a gente fica angustiada porque tem visto esse aumento [da violência]”, comenta.
“Você observa que a tragédia, que era de dois, se tornou quatro. A violência tem esse efeito multiplicador. A projeção dela é, sempre, geométrica. É o caso das mulheres vítimas de feminicídio. Quando você vê os órfãos, são dois vezes três, quatro, cinco”.
Políticas públicas
Na visão dela, o enfrentamento à violência contra a mulher no Brasil está “vulnerabilizado”. “A gente tem aí uma situação de um resultado de dois anos de pandemia, em que as pessoas ficaram distanciadas, isoladas. Durante esse período, a política pública também se confinou. Infelizmente, nós não conseguimos barrar uma ocorrência dessas, mas é importante que as mulheres saibam que, ainda assim, é preferível denunciar”, afirma.
Previsto pela Lei Maria da Penha, que completa 16 anos no próximo mês, o uso da medida protetiva possibilita que a vítima possa contar com uma rede maior de proteção e saiba, por exemplo, quando o agressor tenta se aproximar dela.
“Quando ela tem medida protetiva, a gente tem mais condições de cobrar do poder público uma atuação mais austera, célere e competente”, diz Barbosa. Mas isso não significa que a mulher, por, muitas vezes, não prestar queixa, deve ser responsabilizada pela violência que sofre. Por isso, é fundamental que vizinhos e familiares estejam vigilantes e comuniquem os casos às autoridades.
“Querem colocar isso como uma natureza do homem. Não é assim. Porque existem milhares de homens que vivem e terminam uma relação saudável. E nós também temos vários homens na rede de enfrentamento vários homens que compreendem esse processo não como ‘homem bicho’, mas como humano, em que sua humanidade tem como prerrogativa o cuidado com os relacionamentos”, analisa a vice-presidente do Instituto Maria da Penha.
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