O diretor Steven Spielberg disse que “lamenta verdadeiramente” os ataques à população de tubarões após o sucesso de ‘Tubarão’, filme vencedor do Oscar.
Em entrevista ao programa Desert Island Discs, da BBC Radio 4, o cineasta disse temer que os tubarões estejam “bravos” com ele por causa “do frenesi de pescadores malucos que aconteceu depois de 1975”, ano de lançamento do filme.
Desde então, o filme é acusado de deturpar o papel e o comportamento dos grandes tubarões brancos e, com isso, incentivar a caça desses animais como uma espécie de trófeu nos Estados Unidos.
Ao longo da entrevista, Spielberg também falou sobre a infância e os novos projetos.
O diretor americano de 75 anos é conhecido por muitos sucessos de bilheteria, incluindo E.T., A Lista de Schindler e Jurassic Park.
O programa Desert Island Discs recebe toda a semana um convidado, que apresenta as oito gravações, o livro e o objeto que levaria para uma ilha deserta.
Questionado sobre como se sentia diante da ideia de o mar ao redor da hipotética ilha deserta ser habitado por tubarões, Spielberg disse: “Essa é uma das coisas que ainda temo.”
O cineasta esclareceu que não tem medo de ser comido por esses animais, mas considera que o impacto para a população de tubarões a partir de seu filme é algo que verdadeiramente até hoje se arrepende.
O filme Tubarão, de 1975, conta a história de um grande tubarão branco que ataca uma cidade litorânea dos Estados Unidos.
E a obra incentivou o aumento da pesca esportiva nos EUA. Pesquisas sugerem que o número de grandes tubarões caiu em toda a Costa Leste da América do Norte nos anos seguintes ao lançamento do filme.
Ao longo da entrevista, Spielberg também falou sobre o seu novo filme semi-autobiográfico, Os Fabelmans — que segue a história da infância e da introdução ao cinema do diretor.
Ele disse à apresentadora Lauren Laverne que um filme baseado em sua própria história levou seus níveis de medo “para o teto”.
“Sou uma pessoa reservada que está tornando a própria história pública, e não posso me esconder atrás da autoria de outra pessoa, de um livro, de um gênero…”
O diretor diz ter pensado que o projeto atual seria “a coisa mais autoindulgente que já pedi às pessoas” — descrevendo-o como “uma terapia de US$ 40 milhões”.
Ele disse que estava “atendendo a uma necessidade” ao fazer o filme, mas admitiu que a maior luta provavelmente foi “não se emocionar”.
Os Fabelmans, que já recebeu indicações aos prêmios Globo de Ouro e Critics Choice Awards de 2023, é estrelado por Paul Dano e Michelle Williams.
Questionado por Laverne sobre como começou a fazer filmes, Spielberg contou que a primeira tentativa ocorreu ainda na infância, quando tinha 10 anos de idade e fez um faroeste com uma câmera caseira.
Depois de mostrar a produção ao grupo de escoteiros do qual fazia parte, ele disse que “foi mordido pelo inseto [do amor pelo cinema]”.
Discutindo seu tempo de escola, Spielberg disse que seu “único ingresso” para a popularidade era fazer pequenos filmes. O cineasta lembrou-se de ter conseguido que o capitão do time de futebol americano da escola dedicasse um sábado inteiro para estrelar um de seus filmes.
“De certa forma, fui capaz de dizer ‘ação’ para alguém que não falava comigo na escola, mas obedecia às minhas ordens [na direção cinematográfica] — [e isso] foi fortalecedor.”
Falando sobre ser cineasta, Spielberg disse que não era seu papel “manipular” o público, mas admitiu fazê-lo em Tubarão e no terror sobrenatural de 1982, Poltergeist.
O diretor também mencionou a obra A Lista de Schindler. Ele disse que, quando foi inicialmente abordado para fazer o filme em 1982, não estava pronto do ponto de vista emocional ou como cineasta.
Para a ilha deserta, Spileberg levaria o livro As Vinhas da Ira, de John Steinbeck, e sua câmera favorita.
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