Imagens de ruas em Paris repletas de lixo viraram cena comum nas últimas semanas. Moradores relatam que a situação atrai ratos, aumentando o receio de um problema de saúde pública.
O acúmulo de lixo nas ruas da capital francesa vem ocorrendo desde que garis entraram em greve, no início de março, contra mudanças nas regras de aposentadoria.
A greve nacional envolve várias outras categorias e já atingiu aeroportos, escolas e refinarias de petróleo da França. Os trabalhadores protestam contra o aumento da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos defendido pelo governo de Emmanuel Macron.
Para os agentes de limpeza pública, a reforma da Previdência prevê que a idade mínima para a aposentadoria passe de 57 para 59 anos. (Veja abaixo mais detalhes sobre as mudanças nas regras de aposentadoria)
Em alguns desses atos que revelam indignação popular com o plano do governo, manifestantes atearam fogo em pilhas de lixos acumuladas nos dias anteriores.
A imprensa local aponta que a situação de coleta de lixo tem variado nos diferentes distritos de Paris, já que em algumas áreas a coleta é realizada por empresas privadas.
Na quinta-feira (23/3), greves generalizadas levaram a interrupções de transporte em estradas e trens, além de cancelamentos de voos. Nesse dia, mais de 1 milhão de pessoas saíram às ruas em todo o país, segundo dados do Ministério do Interior.
Em Paris, cerca de 120 mil protestaram. E houve confrontos entre policiais e indivíduos mascarados, que quebraram vitrines, vandalizaram o mobiliário urbanos e atacaram um restaurante da rede McDonald’s na capital francesa.
Agora, uma paralisação geral está prevista para terça-feira (28/3).
Visita do rei Charles 3º adiada
Nesse contexto, a visita do rei Charles 3º à França foi adiada. A viagem a Paris e Bordeaux estava prevista para começar no domingo (26/3).
O Palácio de Buckingham disse que a decisão de adiar a visita de três dias de Charles e Camila, a rainha consorte, se deve à “situação na França”.
“Suas Majestades esperam ansiosamente a oportunidade de visitar a França assim que as datas forem encontradas”, dizia o comunicado.
O presidente Macron disse que telefonou ao rei e que “o bom senso e a amizade levaram-nos a sugerir uma adiamento.” O presidente frances disse que propôs mudar a viagem para o início do verão, “quando as coisas se acalmarem novamente”.
Relógio de Macron
Alvo dos franceses que combatem mudanças nas regras de aposentadoria, Macron foi criticado após retirar o relógio do pulso durante uma entrevista sobre o tema.
Enquanto a equipe dele informou que o relógio foi tirado porque estava fazendo barulho na mesa, os críticos dizem que o relógio é um objeto de luxo que simboliza a falta de contato do presidente com a população. Seus adversários políticos argumentam que ele é um presidente que apoia os ricos.
Houve alegações errôneas de que o relógio valeria até 80 mil euros (R$ 450 mil). Palácio do Eliseu informou à mídia francesa que o presidente estava usando um modelo Bell & Ross BR V1-92, personalizado com um brasão.
Os preços deste relógio na internet, sem personalização, estão entre 1.660 e 3.300 euros (R$ 9,4 mil e 18,6 mil).
Reforma da Previdência na França: o que muda
O principal objetivo da nova lei previdenciária é aumentar gradualmente a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos até 2030. O aumento ocorrerá com base em incrementos de três meses por ano, a partir de setembro de 2023.
A última vez que a idade de aposentadoria na França foi alterada foi em 2010, antes da qual era de 60 anos.
A idade mínima de aposentadoria pelo sistema público de Previdência é menor na França que em outros países da Europa, como Itália (67), Reino Unido (66) e Espanha (65).
A reforma francesa também prevê, para 2027, a exigência de contribuir 43 anos para obter uo benefício, em vez de 42 anos.
Além disso, a nova lei elimina os privilégios de aposentadoria de alguns funcionários do setor público, como os trabalhadores do metrô de Paris.
A resistência à nova lei tornou-se ainda mais forte depois que o governo forçou em 16 de março sua aprovação contornando a Assembleia Nacional – a câmara baixa do Parlamento – onde não tem maioria absoluta.
Macron diz que a reforma da previdência é uma forma “impopular, mas necessária” de garantir o futuro do sistema previdenciário do país.
Segundo o presidente, a medida é crucial para evitar o colapso do generoso sistema previdenciário da França e para garantir que os cidadãos mais jovens não assumam o ônus de financiar as gerações mais velhas.
Os oponentes, no entanto, argumentam que a medida afetará desproporcionalmente os trabalhadores braçais, que têm maior probabilidade de começar a trabalhar em uma idade mais jovem e ter empregos fisicamente mais exigentes do que executivos e profissionais autônomos.
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