O triatlo individual masculino nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 foi adiado depois que testes de qualidade da água revelaram que o Sena não atingiu o nível exigido.
A competição, que deveria começar na manhã desta terça-feira (30/7), agora será realizada na manhã de quarta-feira (31/7), após o término da prova feminina.
Os treinos de natação tiveram de ser cancelados no domingo (28/7) e na segunda-feira (29/7) devido à qualidade da água, afetada pelas fortes chuvas que caíram nos últimos dias, como pudemos ver no dia de abertura dos Jogos Olímpicos.
O prazo final para a realização das provas de triatlo é sexta-feira (2/8). Os organizadores já indicam a possibilidade de que, como último recurso, a disputa seja feita como duatlo.
“Os testes realizados hoje no Sena revelaram que a qualidade da água não oferecia garantias suficientes para permitir a realização do evento”, declarou a organização do evento.
“Apesar da melhoria dos níveis de qualidade da água, os levantamentos em alguns pontos ao longo do percurso de natação permanecem acima dos limites aceitáveis.”
Diariamente são feitas análises da qualidade da água do Sena, que também sediará o revezamento misto de triatlo em 5 de agosto, a maratona olímpica de natação nos dias 8 e 9 de agosto e a prova de paratriatlo dos Jogos Paralímpicos, que começam em 28 de agosto.
A França investiu mais de US$ 1,5 bilhão em um projeto de regeneração fluvial que visa, entre outras coisas, tornar o Sena seguro para nadar após cem anos de proibição.
Mas em junho deste ano o nível da bactéria E. coli na água era dez vezes superior ao que as federações desportivas consideram aceitável.
“A questão da água contaminada está se tornando um constrangimento para todos os envolvidos: os organizadores dos Jogos Olímpicos, a cidade de Paris e o governo francês”, aponta Hugh Schofield, correspondente da BBC em Paris.
Os resultados negativos persistentes nas águas do Sena nos últimos meses foram atribuídos às chuvas de primavera. Outro fator, segundo Schofield, era o grande reservatório subterrâneo localizado próximo à estação de Austerlitz – peça-chave da solução – que ainda não tinha entrado em operação.
“Mas agora estamos em pleno verão e o reservatório de Austerlitz já está funcionando, porém a água não é suficientemente limpa”, aponta o correspondente da BBC.
No início deste mês, os testes mostraram que o rio realmente estava limpo o suficiente para que os atletas pudessem nadar. A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, mergulhou no Sena para destacar os esforços de limpeza em andamento.
Mas Schofield aponta que posteriormente se descobriu que, em 17 de junho, dia em que a prefeita mergulhou no rio, os níveis de contaminação eram altos para tomar banho. “A argumentação dela (a prefeita) foi de que a autorização para o seu banho se baseou nos resultados dos dias anteriores, que foram positivos.”
Nos últimos dias, porém, as fortes chuvas em Paris provocaram uma clara deterioração da qualidade da água, o que levou a uma reunião às pressas na madrugada de terça-feira em que foi decidido adiar qualquer evento no rio.
Estão previstas fortes chuvas para a manhã de quarta-feira, depois de temperaturas máximas até 35ºC anunciadas para terça-feira.
Os organizadores têm planos de contingência de calor extremo para cada esporte e local, e alguns esportes têm um limite de temperatura específico que impede o jogo de prosseguir se for excedido.
“No caso do triatlo, o calor tem um efeito positivo, porque a luz solar e o aumento da temperatura são benéficos porque matam as bactérias”, disse o diretor de operações de Paris 2024, Lambis Konstantinidis, à BBC Sport.
‘O adiamento destaca o problema ambiental global’
A triatleta britânica Vicky Holland, vencedora da medalha de bronze olímpica em 2016, disse à BBC Sport que o adiamento foi “um pouco doloroso” para os atletas masculinos, mas continua esperançosa de que o evento remarcado possa ser realizado na quarta-feira.
“O lado positivo é que neste momento é apenas um atraso de 24 horas, mas penso que é algo que poderia ter sido antecipado e melhores medidas de contingência poderiam ter sido implementadas”, disse Holland, de 38 anos.
“Nem sempre temos a água mais limpa, mas existem limites que são adotados por uma razão. Se você pegar um germe nocivo, ele pode afetá-lo por muito tempo.”
Apesar das dificuldades, Holland avalia que a iniciativa de limpeza do Sena tem as melhores intenções, principalmente para deixar um legado após os Jogos Olímpicos. “Há cada vez menos cursos de água no mundo onde podemos nadar, e isso é um problema ambiental global; não é só o Sena.”
“Os Jogos Olímpicos são uma questão de legado e entendo que eles investiram muito dinheiro para fazer algo que pode durar gerações. Mas eles não foram capazes de fazer tudo o que era necessário.”
Holland, campeã da Série Mundial de Triatlo de 2018, acredita que a interrupção causada pelo atraso de um dia afetará os atletas mentalmente muito mais do que fisicamente.
“Isso não será uma surpresa total para eles, dada a qualidade da água nos últimos dias. Eles provavelmente não dormiram bem na noite passada e terão que se reajustar”, comentou.
A atleta avalia que o pior cenário seria reduzir a competição a duatlo. “Seria um resultado muito decepcionante. É uma pena que não tenham pensado em um plano de contigência”, disse.
Para o correspondente da BBC em Paris, Hugh Schofield, tudo está parecendo um “enorme exercício de cruzar os dedos”.
“E não é assim que os grandes eventos esportivos deveriam acontecer”, diz.
“É uma pena, porque o rio Sena está infinitamente mais limpo do que era há 25 anos. A maior parte da preparação para a natação já foi feita. O objetivo de abrir o rio ao balneário público está ao nosso alcance. Mas talvez não a tempo para os Jogos Olímpicos.”
Fonte: BBC
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