Crédito, GETTY IMAGES

  • Author, Alex Lambert
  • Role, The Conversation *

Ter muito autocontrole costuma ser visto como algo bom. A habilidade é considerada a chave para o sucesso em muitos aspectos da vida — seja para conseguir uma promoção no trabalho, seguir uma rotina de exercícios ou resistir à tentação de um doce.

No entanto, tal como sugerido por uma teoria publicada pelo professor Thomas Lynch em 2018, um elevado autocontrole pode nem sempre ser uma coisa boa — e, para alguns, pode estar ligado a certos problemas de saúde mental.

De acordo com a teoria de Lynch, cada um de nós se inclina mais para um dos dois estilos de personalidade: “subcontrole” ou “supercontrole”. O lado de cada um depende de muitos fatores, incluindo o perfil genético, a aprovação ou reprovação dos outros ao redor, as nossas experiências de vida e as estratégias de enfrentamento que usamos no cotidiano.

É importante ressaltar que ser subcontrolado ou supercontrolado não é bom nem ruim. Embora esses polos indiquem um perfil de comportamento, a maioria de nós é psicologicamente flexível e pode se adaptar às diferentes situações que apareçam. Portanto, independentemente de sermos supercontrolados ou subcontrolados, essa flexibilidade nos ajuda a lidar com desafios e contratempos da vida de uma forma construtiva.

Tanto o subcontrole quanto o excesso de controle podem tornar-se problemáticos. Isso geralmente acontece quando uma combinação de fatores biológicos, sociais e pessoais nos torna muito menos flexíveis.

A maioria de nós provavelmente está mais familiarizada com as manifestações do chamado subcontrole problemático. Pessoas altamente descontroladas podem ter poucas inibições e não conseguem segurar as próprias emoções. Esse comportamento pode ser imprevisível porque muitas vezes depende do humor no qual estão. Isso pode afetar negativamente os seus relacionamentos, educação, trabalho, finanças e saúde.

Existem muitas terapias que podem ajudar essas pessoas. De modo geral, ajudam o paciente a aprender a regular as emoções e aumentar o autocontrole. Por exemplo, a terapia cognitivo-comportamental visa a ensinar o controle sobre seus pensamentos, comportamento e emoções. Da mesma forma, a terapia comportamental dialética — projetada para pessoas que vivenciam emoções muito intensamente — tem como alvo a desregulação emocional.

Supercontrole problemático

Infelizmente, não se fala tanto em excesso sobre as pessoas muito controladas. Isso acontece porque traços excessivamente assim — como a persistência, a capacidade de fazer planos e cumpri-los, a luta pela perfeição e a manutenção das emoções — são altamente valorizados em muitas sociedades. Mas, quando o excesso de controle se torna um problema, pode ser prejudicial em muitas áreas da vida.

Pessoas altamente sob controle podem ter dificuldade para se adaptar a mudanças. Eles podem ser menos abertos a novas experiências e críticas dos outros e tendem a ser muito obstinados. Pessoas com esse quadro podem experimentar sentimentos amargos de inveja dos outros e ter dificuldade para relaxar e se divertir em situações sociais. Eles também podem usar menos gestos, raramente sorriem ou choram, e tentam esconder suas emoções a qualquer custo.

Juntas, essas características podem tornar uma pessoa mais propensa a vivenciar isolamento social e solidão. Em última análise, isso pode piorar sua saúde mental.

Infelizmente, muitas das terapias psicológicas disponíveis não são úteis no tratamento de problemas de excesso de controle. Isso ocorre porque as técnicas se concentram em melhorar o autocontrole e a regulação emocional. Mas, como as pessoas excessivamente assim já controlam e regulam demais, precisam de uma terapia que possa ajudá-las a aprender que às vezes não há problema em relaxar e deixar simplesmente as coisas acontecerem.

Juntamente com sua teoria, Lynch também desenvolveu uma terapia destinada a tratar questões de excesso de controle — conhecida como terapia comportamental dialética radicalmente aberta. Os primeiros estudos mostraram que a técnica tem muito potencial para ajudar pessoas excessivamente controladas. Isso é feito ensinando-os a abandonar a necessidade de estar sempre no controle, a serem mais abertos sobre suas emoções, a se comunicarem melhor com outras pessoas e a serem mais flexíveis em meio a situações de mudança.

É importante ressaltar que essa terapia é transdiagnóstica, ou seja, que pode ser útil independentemente da condição de saúde mental com a qual uma pessoa possa ter sido diagnosticada antes. A investigação mostra que pode ser útil inclusive para pessoas que lutam com uma série de condições de saúde mental — tais como depressão resistente ao tratamento, anorexia nervosa e perturbações do espectro do autismo.

Mas, para receber ajuda adequada, uma pessoa deve primeiro ser corretamente identificada como altamente controlada.

A avaliação atual do excesso de controle é bastante longa e complexa. Envolve alguns questionários e uma avaliação que deve ser conduzida por um médico especialmente treinado. Esses fatores podem limitar o acesso ao apoio e retardar o tratamento.

Estou trabalhando no desenvolvimento de um método de avaliação simplificado que ajudará a identificar prontamente o excesso de controle problemático. Isso também tornará mais fácil para os pesquisadores continuarem estudando o supercontrole.

O excesso de controle é normalmente admirado, e pessoas assim raramente são abertas sobre seus problemas e lutas internas. É por isso que o excesso de controle problemático pode passar despercebido por muito tempo. É esperado que o trabalho contínuo nesse campo torne mais fácil para as pessoas obterem a ajuda de que necessitam.

É importante ressaltar que o supercontrole e o subcontrole são conceitos complexos e não podem ser autodiagnosticados. Se você suspeitar que pode estar supercontrolado ou subcontrolado — e especialmente se isso estiver afetando sua saúde e bem-estar — é importante entrar em contato com um médico ou terapeuta.

* Alex Lambert é pesquisadora de doutorado da Nottingham Trent University, na área de Psicologia do supercontrole desadaptativo.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.