- Author, Anthony Zurcher
- Role, Correspondente de América do Norte da BBC News
- Twitter, @awzurcher
O governador da Flórida, Ron DeSantis, que lançou sua pré-candidatura à Presidência dos EUA pelo Partido Republicano em maio, teve boas notícias no fim de semana.
Os números divulgados por sua campanha mostram que ele arrecadou mais dinheiro para a campanha do que seu principal rival, Donald Trump, no último trimestre.
No período de abril a junho, ele embolsou US$ 20 milhões (R$ 96,5 milhões), contra US$ 17,7 milhões (R$ 85,4 milhões) de Trump.
Segundo Michael Toner, especialista em financiamento de campanha republicana desde os anos 1990 e ex-presidente da Comissão Eleitoral Federal, os números da arrecadação de fundos são “uma das primeiras indicações de que um candidato está se conectando com as pessoas da base do partido, de que está gerando entusiasmo e sua mensagem está ressoando.”
Mas por trás dos bons números de DeSantis está uma história mais complicada e potencialmente preocupante para o governador da Flórida – uma história que sugere que sua campanha presidencial, já atrás de Trump por dois dígitos nas pesquisas de opinião pública, pode não estar apoiada em uma base financeira tão sólida assim.
A primeira coisa a notar é que os números de Trump não são exatamente o que parecem. No início deste mês, sua campanha disse ter arrecadado US$ 35 milhões (R$ 168,9 milhões), mais que o dobro da quantia divulgada no sábado e bem mais do que as receitas de DeSantis.
Mas o que está acontecendo? O motivo da discrepância é que Trump tem direcionado a maior parte desse dinheiro para um comitê de arrecadação de fundos que não divulgará seus números financeiros até o final de julho.
Esse comitê então repassa parte do dinheiro para a campanha e dá o restante a outro comitê. É um processo obscuro, mas permite que a campanha levante fundos para uma variedade de propósitos, incluindo, alguns observaram, ajudar a pagar os crescentes honorários advocatícios de Trump.
Uma medida mais significativa de quem está à frente em termos de dinheiro poderia ser o dinheiro no banco – e, nessa categoria, Trump está confortavelmente à frente, com US$ 22,52 milhões (R$ 108,4 milhões), em comparação com os US$ 12,24 milhões (R$ 59 milhões) de DeSantis.
“O dinheiro em mãos dá a uma campanha os recursos para o futuro”, diz Candice Nelson, professora da American University e diretora acadêmica do Campaign Management Institute.
“Se você precisa contratar mais funcionários, você tem o dinheiro para isso. Se você deseja montar uma campanha de campo inicial ou arrecadar fundos por mala direta, é só sacar o dinheiro.”
A quantidade de dinheiro disponível é particularmente importante para DeSantis, já que sua campanha está gastando rapidamente.
Nas seis semanas em que a equipe DeSantis está em funcionamento, ela gastou US$ 7,87 milhões – 39% do valor arrecadado. Isso inclui mais de um milhão de dólares em folha de pagamento para 92 funcionários.
Esse é um ritmo de gastos alto para uma campanha que precisará economizar dinheiro para fases posteriores e mais caras da campanha.
De acordo com Toner, pode ser um claro sinal de alerta de que suas expectativas de arrecadação de fundos são muito altas e uma crise financeira está por vir.
A equipe de Trump gastou mais do que a de DeSantis – US$ 9,31 milhões -, mas está arrecadando mais dinheiro, tem mais no banco e é mais enxuta com apenas 40 funcionários, então seu ritmo de gastos é menos preocupante no momento.
Há alguns sinais de que a campanha de DeSantis está ciente de que pode estar entrando em um terreno perigoso.
Notícias sugerem que a campanha de DeSantis está demitindo parte de sua equipe – até uma dúzia de pessoas – e concentrando seus gastos em Estados de votação antecipada no processo de indicação republicana, incluindo Iowa.
Alguns desses funcionários podem passar para o comitê “independente” que está apoiando DeSantis – um grupo que, graças a uma transferência de US$ 80 milhões arrecadada com a campanha de reeleição de DeSantis para governador em 2022, tem mais de US$ 100 milhões à sua disposição.
Mas esse comitê não pode coordenar diretamente com a equipe DeSantis, o que traz o risco de gastar dinheiro de maneiras que não são úteis para a campanha.
“Não há substituto para os dólares de campanha que o candidato controla”, diz Toner. “Campanhas que não arrecadam dinheiro em suas contas de campanha primárias não costumam durar muito tempo.”
Esse não é o único sinal de alerta para DeSantis. Do total arrecadado, US$ 3 milhões estão em um fundo que só pode ser usado se DeSantis vencer a indicação republicana e concorrer às eleições gerais.
E DeSantis terá que procurar novos doadores se quiser manter as torneiras de caixa abertas. Dois terços de seus atuais doadores já doaram US$ 3.300 para sua campanha primária – a quantia máxima permitida por lei.
“Não há nada de errado em ter doadores esgotados – cada dólar conta”, diz Toner. “Mas pequenos doadores historicamente têm sido o melhor parâmetro para medir uma conexão com os eleitores de base. E, nessa arena, DeSantis não está no topo da lista agora. Trump está e está há anos.”
Embora os outros rivais de DeSantis além de Trump estejam bem atrás dele na arrecadação de fundos, eles também estão realizando campanhas muito mais modestas, pelo menos para os padrões modernos.
A ex-governadora da Carolina do Sul Nikki Haley arrecadou US$ 5,34 milhões e gastou US$ 2,6 milhões. O senador da Carolina do Sul, Tim Scott, gastou US$ 6,74 milhões – mais do que arrecadou -, mas também tem US$ 21,1 milhões no banco graças a uma transferência de fundos de sua reserva de campanha no Senado.
Alguns candidatos estão executando operações básicas por necessidade. O ex-governador de Nova Jersey Chris Christie arrecadou US$ 1,66 milhão, mas gastou apenas US$ 66.212. Mike Pence, apesar de ser um ex-vice-presidente com reconhecimento nacional, levantou apenas US$ 1,17 milhão e gastou apenas US$ 74.343.
“Existe o velho ditado de que as campanhas presidenciais não terminam, elas apenas ficam sem dinheiro”, diz Eric Wilson, consultor de arrecadação de fundos de campanha que trabalhou na corrida presidencial de 2016 do senador da Flórida Marco Rubio.
Mas os dados financeiros mais recentes refletem apenas a situação atual, acrescenta. As circunstâncias podem mudar rapidamente em uma eleição tão disputada.
Fonte: BBC
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