Crédito, GETTY IMAGES

  • Author, Annabelle Liang & Nick Marsh
  • Role, Da BBC News em Singapura

A economia da China entrou em deflação pela primeira vez em mais de dois anos com a queda dos preços em julho.

O índice oficial de preços ao consumidor, uma medida de inflação, caiu 0,3% no mês passado em relação ao mesmo período do ano anterior.

Segundo analistas, a queda aumenta a pressão sobre o governo para reativar a demanda na segunda maior economia do mundo.

O cenário de deflação segue a divulção de índices baixos de importação e exportação, que levantaram questões sobre o ritmo da recuperação pós-pandêmica da China.

O país também está lidando com a crescente dívida do governo e com desafios no mercado imobiliário.

O desemprego entre os mais jovens, que está em um nível recorde, também está sendo monitorado de perto, já que 11,58 milhões de recém-formados na universidade devem entrar no mercado de trabalho chinês este ano.

A queda dos preços torna mais difícil para a China reduzir sua dívida – e superar todos os desafios decorrentes da deflação, como uma taxa de crescimento mais lenta, disseram analistas.

“Não há receita secreta que possa ser aplicada para elevar a inflação”, diz Daniel Murray, da empresa de investimentos EFG Asset Management.

O especialista sugere uma “mistura simples de mais gastos do governo e impostos mais baixos, juntamente com uma política monetária mais fácil”.

Quando os preços começaram a cair?

A maioria dos países desenvolvidos vivenciou um boom nos gastos do consumidor após o fim das restrições à pandemia. As pessoas que haviam economizado dinheiro de repente estavam aptas e dispostas a gastar, enquanto as empresas lutavam para atender à demanda.

O enorme aumento na demanda por bens cuja oferta era limitada – juntamente com o aumento dos custos de energia após a invasão da Ucrânia pela Rússia – inflacionou os preços.

Mas não foi isso que aconteceu na China, onde os preços não dispararam após o fim das restrições mais rígidas impostas contra o coronavírus. Os preços ao consumidor caíram pela última vez em fevereiro de 2021.

Na verdade, eles estão à beira da deflação há meses, estagnando no início deste ano devido à demanda fraca. Os preços cobrados pelos fabricantes chineses – conhecidos como preços de fábrica – também vêm caindo.

“É preocupante porque mostra que a demanda na China é fraca enquanto o resto do mundo está despertando, especialmente o Ocidente”, diz Alicia Garcia-Herrero, professora adjunta da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong.

“A deflação não ajudará a China. A dívida ficará mais pesada. Tudo isso não é uma boa notícia”, acrescentou.

Por que a deflação é um problema?

A China produz uma grande proporção dos bens vendidos em todo o mundo.

Um potencial impacto positivo de um período prolongado de deflação no país pode ser a contenção do aumento dos preços em outras partes do mundo.

No entanto, se os produtos chineses com preços reduzidos inundarem os mercados globais, isso poderá ter um impacto negativo sobre os fabricantes de outros países.

O investimento das empresas pode ser afetado e levar a uma redução no número de empregos.

Um período de queda de preços na China também pode afetar os lucros das empresas e os gastos do consumidor, o que impacta no aumento do desemprego.

Isso poderia resultar em uma queda na demanda do país – o maior mercado mundial – por energia, matérias-primas e alimentos, o que afetaria as exportações globais.

O que isso significa para a economia da China?

A economia da China já enfrenta outros obstáculos. O país está se recuperando do impacto da pandemia em um ritmo mais lento do que o esperado.

Dados oficiais divulgados na terça-feira (8/8) mostraram que as exportações da China caíram 14,5% em julho em comparação com o ano anterior, enquanto as importações caíram 12,4%.

Os dados do comércio reforçam as preocupações de que o crescimento econômico do país possa desacelerar ainda mais este ano.

Além disso, a China também está lidando com uma crise contínua no mercado imobiliário após o quase colapso de sua maior incorporadora imobiliária, a Evergrande.

O governo chinês tem insistido que tudo está sob controle, mas até agora evitou quaisquer medidas importantes para estimular o crescimento econômico.

Construir confiança entre investidores e consumidores será fundamental para a recuperação da China, disse Eswar Prasad, professor de política comercial e economia da Universidade de Cornell.

“A verdadeira questão é se o governo pode recuperar a confiança no setor privado, para que as famílias saiam e gastem em vez de economizar, e as empresas comecem a investir, o que não foi feito até agora”, dz Prasad.

“Acho que teremos que ver algumas medidas de estímulo significativas (incluindo) cortes de impostos.”

Reportagem adicional do repórter de negócios da BBC Peter Hoskins.