Conheço pessoas que mantêm planilhas com os nomes de todos para quem têm que comprar presentes de Natal.
Elas fazem essa lista com semanas – ou até meses – de antecedência. Já eu fico lutando até o último minuto para verificar meu histórico de compras na Amazon e ter certeza de que não vou passar vergonha dando um presente repetido para alguém.
Eu adoro dar presentes, mas me sinto sobrecarregado com muita rapidez – enquanto conheço pessoas que parecem não ter o menor problema com isso, pelo contrário, gostam muito.
Elas não só cuidam da tarefa com bastante antecedência, como também os presentes que escolhem são extremamente bem pensados, específicos e exclusivos.
Por que o planejamento dos presentes é algo natural para algumas pessoas e até aquelas que não são tão simpáticas ao longo do ano às vezes se sobressaem na festa com suas lembranças?
Os psicólogos afirmam que existe uma razão pela qual aquele tio, ou tia, sempre sabe exatamente o que você quer ganhar.
‘Manter controle’
Aprendi ao longo do tempo que as pessoas que melhor escolhem presentes normalmente têm a vida bem definida. Eles costumam ser muito competentes, organizados e parecem ter transformado a vida adulta em uma forma de arte.
Peggy Liu, professora de administração comercial da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, que estudou os aspectos psicológicos de presentear as pessoas, concorda.
Ela afirma que as pessoas que sabem e gostam de dar presentes empenham-se em registrar cada mimo que deram no ano anterior, anotando ainda se as pessoas que os receberam gostaram, e também mantêm uma fórmula definida para presentear outras pessoas que fazem parte das suas vidas, como os professores dos filhos, colegas e vizinhos.
No caso de Liu, ela geralmente sabe o que precisa dar – talvez uma pequena lembrança, como chocolates ou uma caneca de café – e planeja com antecedência.
Ela sabe que também pode dar às pessoas aquilo que elas sempre querem e precisam – dinheiro – mas compare a vibração impessoal desse presente com a de um belo cartão artesanal, por exemplo.
As pessoas que sabem escolher presentes podem também fazer compras ao longo do ano e, quando chega o fim do ano, elas apenas retiram o presente perfeito da pilha acumulada.
Os conhecidos de Liu que sabem escolher presentes “costumam manter controle sobre isso” ao longo da vida, segundo ela.
E, embora não haja nenhuma pesquisa formal que indique quais tipos de personalidades são melhores para dar presentes, Liu afirma que as pessoas que melhor sabem presentear tendem a “ter essa sensação de realização” ao comprar e dar o presente perfeito – e essas pessoas podem até considerar sua capacidade de escolher presentes como parte de quem elas são.
Por exemplo, quando outras pessoas de suas relações os cumprimentam ou oferecem feedback positivo pela boa escolha das lembranças, elas reforçam o ego e a autoestima de quem presenteou – e os incentivam a continuar dedicando todo aquele tempo e cuidado necessário para escolher presentes no futuro. Liu explica que isso pode aumentar o prazer da experiência de presentear as pessoas.
“As pessoas dizem: ‘puxa, você é muito bom para escolher presentes’. Acho que algumas pessoas [quando ouvem esse elogio] começam a pensar em si mesmas com uma identidade própria – a de serem boas pessoas para dar presentes”, afirma ela.
Isso pode estabelecer uma sensação de realização, segundo Liu, e acabar fazendo parte da forma como essas pessoas se veem – o que é um fator motivador para que elas se esforcem em continuar escolhendo bem os seus presentes.
Mas isso pode também funcionar no sentido inverso, tornando piores as pessoas que não sabem comprar presentes.
Aqueles que se consideram ruins para escolher presentes como parte da sua identidade podem entrar em uma espiral de estresse na hora de escolher uma lembrança para alguém. Isso pode disparar “esse ciclo autoalimentador e elas pioram cada vez mais”, explica Liu.
Construtores de conexões sociais
Presentear as pessoas é uma forma simples e direta de construir conexões sociais, além de mostrar aos demais que queremos cultivar um relacionamento com eles. Isso também pode alimentar o prazer de dar presentes.
“Somos uma espécie extremamente social e grande parte do nosso sucesso ocorre porque nos damos bem em grupos e conseguimos cooperar com os demais”, afirma Daniel Farrelly, professor de psicologia da Universidade de Worcester, no Reino Unido, que também estudou a psicologia de dar presentes.
“Uma ótima forma de fazê-lo é trocando presentes – o que ocasiona um custo para beneficiar outro indivíduo – e épocas especiais do ano, como o Natal, oferecem essa oportunidade”, segundo ele.
Mesmo as pessoas que podem parecer frias ou até rudes ao longo do ano podem aproveitar esse incentivo para estabelecer conexões dando presentes. Isso porque “as regras de presentear as pessoas talvez sejam mais facilmente seguidas do que outras condutas sociais”, segundo Farrelly, o que faz com que dar presentes para cultivar relacionamentos seja “particularmente atraente” para pessoas que, de outra forma, não são muito calorosas.
Em outras palavras, essas pessoas poderão surpreender e ser ótimas para escolher presentes, porque presentear alguém é “uma ótima e inequívoca forma” de estabelecer essas conexões sociais.
Liu concorda e afirma que mostrar a uma pessoa que você se importa com ela é um grande motivador para que pessoas de todo tipo se esforcem para escolher bem seus presentes. Ela indica estudos que sugerem que as pessoas presenteiam as outras “buscando receber sorrisos” – e que a maior parte das pessoas prefere dar lembranças que coloquem um sorriso no rosto de alguém quando forem abertas, em vez de um presente que atenda às preferências de quem o recebe.
Isso sugere que um grande motivo por que damos presentes é estabelecer relações interpessoais, e não simplesmente riscar itens de uma lista de compras a fazer.
“O sentimento caloroso e agradável que nos invade quando damos e recebemos presentes é parte dos nossos costumes sociais”, que “nos motiva a esforçar-nos a dar presentes”, segundo Farrelly.
Se você quiser escolher melhor seus presentes, uma boa forma poderá ser concentrar as mesmas coisas que motivam os mestres nessa arte: transforme a compra em algo agradável que você espera ansiosamente. Tente associar a escolha de presentes a algo prazeroso – como beber uma xícara de chocolate quente enquanto você os embrulha, aconselha Liu.
Ela também sugere pedir aos seus conhecidos que sabem como escolher presentes ideias de lembranças previsíveis, como chocolates ou cartões, que possam facilitar o processo.
Mas a melhor motivação pode ser imaginar o sorriso que você verá no rosto de alguém quando receber o seu presente, que Liu descreve como “aquele brilho caloroso”. Afinal, não é esta a verdadeira razão por que presenteamos as pessoas todos os anos?
“Dar presentes nos faz sentir bem”, segundo Farrelly. “Por isso queremos fazê-lo.”
Este texto foi originalmente publicado em dezembro de 2021 e republicado após atualização.
Você precisa fazer login para comentar.