• Jessica Klein
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Pessoas passaram a pensar mais sobre quem e como gostariam de namorar

As formas como pensamos no amor e no sexo estão sempre evoluindo. Elas são influenciadas por acontecimentos culturais, políticos e globais.

Este ano não foi diferente. Grande parte dessa influência se espalhou online, especialmente em comunidades que se identificam no espectro LGBTQIA .

Ao mesmo tempo, a autorreflexão conduzida ao longo da pandemia de covid-19 continua abalando, em efeito cascata, o mundo dos relacionamentos de forma geral, resultando em mais práticas intencionais. Com isso, as pessoas passaram a pensar mais sobre quem e como gostariam de namorar.

Em 2022, este movimento fez com que mais pessoas se afastassem abertamente dos padrões binários de gênero e atração.

Vimos pessoas ainda mais dependentes da internet para encontrar possíveis parceiros, para o bem e para o mal.

E as pessoas passaram a se expressar cada vez mais sobre a experiência de diferentes tipos de relacionamentos, desde o poliamor solo até parcerias de vida platônicas.

Afastando-se dos padrões binários

Na cultura ocidental, os relacionamentos, o gênero e a sexualidade, há muito tempo, são definidos por padrões binários. Ou o casal está namorando, ou não está; alguém é atraído por mulheres ou por homens, a pessoa é homem ou mulher.

Mas, nos últimos anos, esses padrões binários ficaram cada vez menos arraigados e mais pessoas vêm observando as orientações sexuais e identidades de gênero de formas diferentes. E este processo foi especialmente marcante em 2022.

Com relação à orientação sexual, o gênero de uma pessoa perdeu relevância para muitos em busca de um parceiro, especialmente no caso de muitos millennials e jovens da Geração Z em seus relacionamentos íntimos.

Para alguns deles, o gênero passou até a ser um dos últimos itens da lista do que eles desejam em um parceiro. Isso é especialmente válido para pessoas que se identificam como queers ou pansexuais, o que significa que suas atrações românticas e/ou sexuais são independentes do gênero.

Ella Deregowska tem 23 anos de idade e mora em Londres. Ela afirma que identificar-se como pansexual permitiu a ela mover-se “com maior fluidez e aceitar cada atração que sinto sem achar que preciso reconsiderar minha identidade ou rótulo para explicá-la”.

Especialistas afirmam que o aumento da abertura para atrações não-binárias, em parte, está relacionado ao crescimento da sua representação em meios populares.

Há desde programas de televisão como o canadense Schitt’s Creek, em que o ator Dan Levy interpreta o personagem pansexual David Rose, até celebridades como a cantora e compositora norte-americana Janelle Monáe, que se identificou com a pansexualidade.

Não foi apenas a orientação sexual que se afastou dos padrões binários neste ano. Outros jovens (e celebridades) também se afastaram dos binários para descrever seu gênero.

“Um dia, eu acordo me sentindo mais feminina e posso talvez vestir um top curto e usar brincos. E há momentos em que meio que preciso do meu binder [colete para minimizar o volume dos seios] porque não estou me sentindo daquela forma”, afirma Carla Hernando, que tem 26 anos de idade e mora em Barcelona, na Espanha.

Mas, com cada vez mais pessoas rompendo os padrões binários de gênero e sexo, namorar ainda pode ser um campo minado para as pessoas que se identificam como não binários.

Desde aplicativos de encontros que exigem gêneros binários até pessoas que forçam parceiros não binários a adotar papéis de gênero, nem toda a sociedade aderiu ao movimento para afastar-se das normas de gênero binário.

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Em 2022, os padrões binários ficaram menos arraigados. Mais pessoas examinaram suas orientações sexuais e definições de gênero.

Desafiando cada vez mais os tabus e tradições

No ano passado, os relacionamentos entre os jovens sacudiram ainda mais as normas arraigadas da sociedade.

Essas conexões satisfazem a necessidade de companhia próxima, intimidade e sexo, mas não dependem necessariamente de objetivos de relacionamento de longo prazo — em vez disso, eles ficam em algum ponto entre um relacionamento fixo e um encontro ocasional.

Segundo a professora de sociologia Elizabeth Amstrong, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, que estuda esses tipos de relacionamentos, os jovens da Geração Z acreditam que “a ‘situação’, por alguma razão, funciona no momento. E, no momento, não vou me preocupar em ter algo que ‘dê em alguma coisa’.”

De forma geral, a abertura para muitos tipos de relacionamentos não tradicionais também ganhou visibilidade.

A não monogamia ética está espalhada pelo TikTok, muitas vezes na forma de relacionamentos poliamorosos, envolvendo mais de dois parceiros românticos e sexuais que moram juntos.

Existem ainda as relações abertas, que podem variar desde parceiros que se encontram com outros casais até aqueles que têm relacionamentos separados com outras pessoas além dos seus parceiros primários.

Há também as pessoas póli que preferem viver sozinhas, adotando o estilo de vida do “poliamor solo”. Elas moram sozinhas, mas se dedicam a diversos relacionamentos comprometidos.

Mas, apesar de tudo isso, muitos mitos e tabus de relacionamento sobreviveram e provavelmente irão permanecer.

O constrangimento por ser solteiro, por exemplo, continua forte desde o início da pandemia, quando uma pesquisa do serviço de encontros Match concluiu que 52% dos adultos solteiros do Reino Unido sofreram constrangimento pela sua falta de relacionamento amoroso.

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Separar-se, por um lado, ficou mais fácil em 2022. Os coaches de divórcio se popularizaram, aconselhando os casais até mesmo quando as finanças os mantinham juntos

A maior tranquilidade entre diferentes formas de namoro não facilitou os rompimentos.

Muitos casais que floresceram com as restrições da covid-19 sentiram muito essa dificuldade em 2022.

Depois de começarem a namorar em “bolhas de casais” durante os lockdowns, muitos estão enfrentando dificuldades para adaptar-se a relacionamentos em condições mais normais. E alguns casais que se deram bem só entre eles não se adaptaram ao mundo real.

Esses coaches representam uma mudança rumo à normalização da procura por auxílio terapêutico em tempos de alto nível de estresse e ao longo do processo de divórcio.

“Divorciar-se não é mais visto como falha de caráter ou fracasso na própria vida”, segundo a psicóloga clínica Yasmine Saad, fundadora dos Serviços Psicológicos Madison Park em Nova York, nos Estados Unidos.

Portanto, contratar um coach de divórcio é tão natural quanto “buscar consultoria financeira antes de investir o seu dinheiro”.

Terapeutas de relacionamento afirmam que têm visto um aumento desta prática em consequência da pandemia, com casais que se sentiram confinados juntos ao longo dos dois últimos anos querendo explorar uma vida solo sem se separarem.

Entre os casais decididos a se separarem, as últimas tendências de queda da economia fizeram com que eles ficassem presos um ao outro, morando juntos. Afinal, atualmente não é barato viver sozinho, nem comprar a parte de um ex-parceiro em uma moradia conjunta.

Foi o caso de Chantal Tucker, que tem 37 anos de idade e é coproprietária de um imóvel em Londres com seu ex-parceiro: “Eu sabia que nunca conseguiria comprar novamente um imóvel e a perspectiva de viver de aluguel em Londres para sempre era cada vez mais desagradável”.

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Casais de millennials enfrentaram dificuldades com ‘quartos mortos’ em 2022

Melhorando o mundo dos encontros

Enquanto isso, para os solteiros, ainda é difícil navegar pelas águas traiçoeiras dos aplicativos de relacionamento.

É inegável que os aplicativos de relacionamento agora são a principal forma usada pelos mais jovens (millennials e Geração Z) para conhecer pessoas.

Existem milhares de sites de encontros online, que são usados por 48% dos jovens com 18 a 29 anos de idade nos Estados Unidos.

Mas, infelizmente, o mau comportamento nesses aplicativos é uma constante, incluindo as pessoas que os usam para praticar a infidelidade ou até assédio — a maior parte, dirigido aos usuários identificados como mulheres.

Pessoas de todos os gêneros afirmam que ficam sobrecarregadas com as opções disponíveis nos aplicativos de relacionamento. Eles contam que se sentem em um jogo de números e não interagindo com possíveis parceiros reais.

“Às vezes, fico esgotada quando sinto que preciso pesquisar literalmente 100 pessoas para encontrar alguém que eu ache razoavelmente interessante”, afirma Rosemary Guiser, que tem 32 anos de idade e mora na Filadélfia, nos Estados Unidos.

É quase impossível evitar o uso de aplicativos para conhecer alguém.

“Você pode comparar um pouco [os aplicativos de relacionamento] com a Amazon ou o Facebook”, segundo Nora Padison, conselheira graduada e licenciada de Baltimore, nos Estados Unidos.

Mas, devido à pandemia, as pessoas se acostumaram a ter seus encontros iniciais online. Muitos consideram essa pré-seleção uma forma mais segura e inteligente de decidir sair para um encontro real e ainda é assim que muitos solteiros estão se encontrando de forma mais “intencional”.

Outra forma é abster-se de beber durante os encontros.

Uma pesquisa de tendências de 2022 do serviço de encontros Bumble concluiu que 34% dos seus usuários britânicos eram mais dispostos a sair em encontros sem bebida desde o início da pandemia, enquanto 62% afirmaram que teriam mais condições de formar “conexões genuínas” durante os encontros sóbrios.

Quartos ‘mortos’ enquanto outros estão no auge

Dados de 2021 demonstram que os millennials casados nos Estados Unidos relataram os maiores problemas com desejo sexual naquele ano, frequentemente atribuídos à exaustão causada pela forte sobrecarga de trabalho, problemas de saúde mental e fatores de tensão financeira.

A terapeuta sexual Celeste Hirschmann, de São Francisco, nos Estados Unidos, percebeu que seus clientes casados costumavam levar cerca de 10 a 15 anos para parar de ter sexo entre si. “Agora, pode estar levando de três a cinco”, segundo ela.

Mas, enquanto muitos millennials casados enfrentam dificuldades em casamentos sem sexo, os Baby Boomers podem estar tendo o melhor sexo de suas vidas. Sua experiência e sua paciência resultaram em melhor habilidade e comunicação na cama.

Seu foco não é em estabelecer um relacionamento duradouro como objetivo de vida, mas em estruturar suas próprias vidas antes de trazer um parceiro comprometido ou pensar em começar uma família.

Com todas essas opções, alguém tem alguma resolução de Ano Novo em vista?