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De janeiro a setembro, o PIB acumulou alta de 3,2%, na comparação com mesmo período do ano passado

A economia brasileira subiu 0,1% no terceiro trimestre em relação aos três meses anteriores, informou nesta terça-feira (5/12) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Apesar de ser uma pequena variação, o resultado superou expectativas dos analistas, que era de uma queda média de 0,2% nessa base de comparação.

Ao contrário do esperado, trata-se da terceira taxa positiva consecutiva e deixa o PIB (soma de bens e serviços produzidos no país) no maior patamar da série histórica.

De janeiro a setembro, o PIB acumulou alta de 3,2%, na comparação com mesmo período do ano passado.

O resultado trimestral é explicado, segundo o IBGE, pelo avanço registrado na indústria e em serviços (0,6% para ambos), no lado da oferta.

Ao mesmo tempo, a agropecuária caiu 3,3% – segundo os dados revisados, foi a primeira queda da atividade após cinco trimestres com taxas positivas. O setor tinha sido o motor do crescimento acima da média no começo do ano, registrando uma alta de mais de 20% de janeiro a março.

Na ponta da demanda, houve queda de 2,5% nos investimentos em relação ao segundo trimestre, e alta no consumo das famílias (1,1%) e do governo (0,5%).

‘Forte crescimento chegou ao fim’

Segundo análise de William Jackson, economista-chefe de Mercados Emergentes da consultoria inglesa Capital Economics, apesar do avanço de 01%, “o panorama geral é que o forte crescimento observado no primeiro semestre do ano chegou ao fim”.

A consultoria, que previa uma retração de 0,5% no trimestre, diz que “é difícil prever o que acontecerá no quarto trimestre, dada a volatilidade da produção no setor agrícola”.

“Pensamos que a economia está entrando numa fase de crescimento mais fraco – mais semelhante às taxas de crescimento registradas nos anos anteriores à pandemia, de 1,0 a 1,5%”, diz a análise.

O economista André Perfeito, que foi economista-chefe da Necton Investimentos, o resultado surpreendeu principalmente “pelo comportamento melhor que o esperado para serviços e indústria” — setores com grande peso no valor do PIB.

Ele diz que o resultado do agro “nem dá para ser considerado uma queda de fato”, já que “na comparação anual o setor sobe robustos 8,77%”.

Perfeito também chama atenção para “o resultado positivo do setor externo, que ajudou nas contas nacionais”. Ele cita o recuo de 2,14% nas importações no trimestre, e avanço de 3,95% nas exportações. 

“Na comparação anual, as importações caem 6,14%, enquanto as exportações sobem 9,99%”, afirma.

“O resultado benigno do PIB reitera nosso cenário de alta de 3% (pelo menos) este ano e de 2% o ano que vem”, afirma Perfeito sobre suas expectativas.

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Taxa de juros

“A dissipação do choque positivo na agricultura e o arrefecimento da demanda interna explicam em grande parte o enfraquecimento do PIB neste semestre”, analisou a XP em relatório na manhã desta terça-feira, antes da divulgação do resultado.

“Esse cenário reforça o espaço para o Banco Central continuar cortando as taxas de juros nos próximos meses”, seguiu a XP na avaliação.

O banco de investimentos previa uma queda de 0,2% frente ao trimestre anterior (1,8% de alta ano contra ano).

Desde agosto, o BC começou uma redução da taxa básica de juros Selic em 0,5 ponto percentual em cada uma de suas reuniões, até chegar aos atuais 12,25%. A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central está marcada para os dias 12 e 13 de dezembro.

Desde o trimestre anterior, os analistas já se perguntavam: o melhor momento da economia brasileira sob Lula ficou para trás? O motivo é que a maioria das análises prevê um PIB menos vigoroso para 2024 do que o de 2023.

Na mais recente edição do Boletim Focus do Banco Central, os economistas e instituições ouvidas esperam uma alta de 1,5% do PIB em 2024, contra 2,84% em 2023.