- Giulia Granchi
- Da BBC News Brasil em São Paulo
A Petrobras anunciou o aumento do preço do diesel em 8,87% nas refinarias a partir de terça-feira (10/5), o que significa uma mudança de 40 centavos no litro do combustível – de R$ 4,51 para R$ 4,91.
O aumento ocorre menos de dois meses após a última alta, em 11 de março, quando o litro do combustível ficou 90 centavos mais caro.
Para o consumidor final – como caminhoneiros, transportadores de passageiros em coletivos – o reajuste deve chegar nas bombas aproximadamente na metade, com uma inflação de cerca de 4,5%.
Mas conforme explicam os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, ainda que a população não sinta o efeito diretamente em curto prazo, a alta deve, sim, ser repassada.
“O diesel já havia subido 49% nos últimos 12 meses, então qualquer reajuste que surja daqui pra frente pesa mais na estrutura produtiva”, aponta André Braz, coordenador do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
O aumento tem pouco impacto no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), medida usada para acompanhar tendências de inflação para o consumidor final.
“Mas quando se trata do IPA, índice que mede a inflação ao produtor indústria e agricultura, o diesel tem um peso até maior do que a gasolina. Isso porque todo o processo produtivo, desde o funcionamento das máquinas agrícolas até sistema de logística. Tudo que consumimos de bens ou serviços, tem o diesel como insumo em alguma magnitude”, explica Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital Markets.
Dessa forma, ainda que não seja de um dia para o outro, os custos devem chegar à população. “O repasse não é necessariamente um para um, há um espaço de margem dos produtores ou responsáveis pelo frete e parte da inflação pode ser diluída, mas o aumento é esperado porque as margens de lucro já estão comprimidas”, diz Felipe Sichel, economista-chefe do Banco Modal.
Outro ponto que pode ser sentido pela população geral é o aumento das passagens de ônibus.
“Sabemos o quão relevante é o transporte rodoviário e o transporte público urbano aqui no Brasil, e como os ônibus são movidos a diesel, é mais uma pressão sobre o preço das passagens”, aponta Sichel.
Até o momento, a alta das passagens não havia sido tão significativa. O IPCA aponta aumento da de ônibus municipais em 1,2%, e para os intermunicipais e interestaduais, entre 1,5 e 2,5%.
“O caixa dos municípios e estados estava muito bem, arrecadação por ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) surpreendeu positivamente, evitando que repassassem a alta do diesel via aumento de tarifas”, explicou a economista Tatiana Vieira, da XP Investimentos, na última semana.
Na última quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro (PL) usou as redes sociais para criticar a Petrobras e os preços dos combustíveis. Bolsonaro chamou o lucro obtido pela empresa (R$ 44,5 bilhões no primeiro trimestre) de “estupro” e afirmou que a empresa não poderia mais aumentar o preço, ou “quebraria o Brasil”.
O economista Felipe Sechel aponta que, agora, os olhares dos especialistas estão voltados às próximas possíveis movimentações do governo. “Agora é ver se de alguma forma o governo tentará suavizar esse impacto por meio de aumento de subsídio.”
Na opinião dele, caso ocorra, o efeito pode ser negativo. “Com a situação fiscal extremamente delicada na economia global e local, há pouca capacidade de absorver choques. Tentar amenizar agora pode gerar inflação pior no futuro, e via de regra, quanto mais rápido os preços se ajustam, melhor a economia absorve o choque e se adapta. Dificultar a absorção faz com que essa conta tenha que ser paga em algum lugar.”
De acordo com Carla Argenta, uma das opções seria tirar os “royalties” da Petrobras, dividendos da empresa destinados à União, para o subsídio.
“Não teria impacto nenhum na precificação da Petrobras, e poderia ser até bom para o investidor que comprou ações. Mas essa não deve ser uma alternativa usada pelo governo federal porque esses recursos já vão para dívidas, o que resultaria em endividamento público.”
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