- Author, Alex Christian
- Role, BBC Worklife
Depois dos layoffs em massa, profissionais estão indo às redes sociais para escrever longas despedidas, elogiando as empresas que acabaram de dispensá-los. Por quê?
No final de 2022, o cargo de Singh foi cortado durante uma onda de layoffs – suspensões temporárias de contratos de trabalho – nas grandes empresas de tecnologia.
“Eu odiei a forma como meu empregador lidou com aquilo”, contou ele, que é desenvolvedor de software em Nova York, nos Estados Unidos. “Eles foram elogiados pelos grandes pacotes de rescisão, mas o processo com as pessoas dispensadas foi muito injusto.”
“E a mensagem foi terrível: os layoffs vazaram antes, mas eles não divulgaram que funcionários com alto desempenho também perderam seus empregos”, segundo ele.
A frustração de Singh foi agravada pelo fato de que ele acreditava que seu emprego fosse relativamente seguro, especialmente porque ele nunca havia sido informado sobre nenhum problema de desempenho. Além disso, como imigrante indiano com visto de trabalho nos Estados Unidos, ele tinha apenas 60 dias para encontrar um novo emprego.
Como milhares de colegas começaram a postar sobre seus layoffs no LinkedIn, Singh os acompanhou. Mas, apesar da sua consternação por perder o emprego e do medo de precisar sair do país por conta disso, o tom das suas mensagens curtas foi nobre e otimista.
Ele escreveu que, ainda que a sua jornada terminasse prematuramente, ele concordava com seus colegas que declaravam efusivamente nas redes sociais que o seu agora ex-empregador havia oferecido “tudo” o que qualquer pessoa poderia querer de um local de trabalho.
Depois de agradecer aos antigos colegas, ele concluiu a postagem dizendo que estava disponível para trabalho e incluiu uma foto do seu crachá do antigo emprego.
Singh não parecia nada amargurado com a situação – e era exatamente o que ele pretendia.
“Eu trabalhava para uma empresa de redes sociais e sei que o que você posta dura para sempre”, ele conta. “Não há vantagens em escrever nada de negativo sobre ninguém.”
A postagem de Singh no LinkedIn recebeu comentários de apoio de antigos colegas que escreveram mensagens elogiosas similares. Sua postagem foi visualizada, enviada e compartilhada entre os recrutadores, que entraram em contato com ele para tratar de vagas disponíveis.
“Recebi minha carta de layoff às seis horas”, ele conta. “Às sete horas, atualizei meu status no LinkedIn. E, às oito, estava falando com recrutadores.”
Estamos ainda no início de 2023, mas novos layoffs já estão chegando. E, com as contínuas previsões de declínio econômico e recessão continuando a ameaçar as empresas, eles podem aumentar – o que pode também trazer mais postagens de despedida, com profissionais descrevendo maravilhas sobre empregadores insensíveis que acabaram de cortar os seus empregos.
É claro que essas mensagens podem incluir sentimentos verdadeiros, mas também podem ser estratégicas e artificiais. Elas desempenham uma função importante, que é demonstrar a capacidade de emprego e adaptação do profissional.
Mudança estratégica
Após uma onda inicial de layoffs no início da pandemia, muitas empresas correram para contratar novos funcionários, ampliando rapidamente suas equipes.
Mas, recentemente, a retração do mercado fez com que as companhias suspendessem as contratações, especialmente na área de tecnologia, onde diversas startups e empresas em alto crescimento deixaram de contratar e, em alguns casos, até cancelaram ofertas de trabalho.
E, no final do ano passado, algumas empresas também adotaram os layoffs. Houve uma série de cortes de altos cargos em grandes empresas de tecnologia, além de setores como o financeiro, de varejo e de comunicação. Esta tendência também pode se manter, pois os cortes de empregos já começaram a invadir 2023.
Entre esses cortes, profissionais como Singh tornaram-se parte de uma tendência: a de postagens épicas de despedidas no LinkedIn. Nessas mensagens, os funcionários demitidos homenageiam seu antigo empregador e seus colegas, agradecendo a eles pela oportunidade e, muitas vezes, culpando fatores externos pela decisão da empresa.
Parte dessas postagens vem de profissionais que, de fato, acreditam que tiveram uma experiência positiva na empresa e compreendem as razões que levaram ao layoff.
“Fiquei na empresa por sete anos e meio – eu cresci ali”, afirma Aleana, gerente de parcerias de uma grande empresa de tecnologia com sede em Los Angeles, nos Estados Unidos.
“Eu realmente não tinha certeza de como iria dar a notícia, até que senti que seria uma boa forma de expressar minha gratidão, informando às pessoas o que estava acontecendo e oferecendo-me para novas oportunidades”, ela conta.
Ainda assim, Aleana afirma que, por mais sincera que fosse, ela sentiu pressão para publicar a postagem rapidamente, mesmo sem ter ainda digerido a notícia.
“Eu estava em choque e passei algum tempo com muita dificuldade para processar toda a situação”, explica ela. Aleana conta que um colega que também foi afastado a incentivou a escrever a mensagem.
“Um mentor deles recomendou postar alguma coisa, mesmo se não achassem certo”, ela conta. “Eles acabaram postando no mesmo dia e receberam um turbilhão de apoio da sua rede – eu escrevi a minha no dia seguinte.”
De fato, outras pessoas que se sentem em conflito ou sofrem traumas – incluindo ressentimento pelo seu antigo empregador ou pelos colegas que permaneceram – também estão escrevendo essas mensagens efusivas.
Esta é uma jogada estratégica, não importando os sentimentos verdadeiros do funcionário, segundo Grace Lordan, professora de ciências do comportamento da London School of Economics. Ela afirma que os profissionais da comunicação costumam considerar o layoff uma “experiência de aprendizado” que é parte de uma “jornada” mais abrangente na sua carreira.
“Essas postagens sinalizam que a pessoa adora mudanças e não irá se queixar de decisões corporativas”, afirma ela. “Elas também detalham as habilidades do profissional, sua experiência e, principalmente, onde eles trabalharam. São essencialmente um CV oferecido ao público com uma carta de informação, informando a todos que você está disponível, é adaptável e tem alta empregabilidade.”
Lordan acrescenta que estas postagens são mais comuns entre as empresas maiores.
“Nós as vemos entre profissionais que foram afastados pelas megaestrelas dos seus setores – empresas de prestígio, com bons reflexos para o indivíduo; ser associado àqueles nomes, mesmo em layoff, aumenta a empregabilidade”, explica ela. “Se você tiver sido dispensado por uma empresa muito menor, a probabilidade de chamar a atenção para o seu nome em uma postagem pública é menor.”
Por mais difícil que fosse para Singh demonstrar consideração pelo seu antigo empregador, ele reconhece que sua mensagem de despedida no LinkedIn tinha um propósito. Embora discordasse da forma como foram tratados os layoffs, ele sabia que anunciar que ele estava disponível para trabalho, apresentando uma face de coragem, aumentaria suas perspectivas de emprego.
“Eu não queria escrever algo que acabaria lamentando”, ele conta. “Você aprende a nunca destruir pontes – o setor de alta tecnologia é um mundo pequeno.”
‘O nome do jogo é formação de redes’
As despedidas emocionais podem fornecer aos profissionais afastados algum apoio e um desfecho para a questão.
“Não pensei automaticamente no LinkedIn. Eu não era muito ativa na plataforma porque estava segura no emprego”, conta Aleana. “Mas escrever foi uma experiência catártica. Foi uma forma de dizer, ‘OK, levante-se e faça algo de saudável e produtivo, mesmo que não pareça certo – está na hora de arrancar o curativo’.”
A catarse emocional de uma postagem de despedida no LinkedIn também serve para um propósito prático.
“É uma forma realmente fácil de informar às pessoas o que está acontecendo com você profissionalmente”, afirma Aleana, que agora está começando a trabalhar como freelancer. “Você pode dizer que está desempregado e que não foi por sua culpa. A comunidade reage, as pessoas se solidarizam e querem ajudar – o nome do jogo é formação de redes.”
Isso é particularmente fundamental para profissionais como Singh, que têm pressa para encontrar um novo emprego.
“Essas postagens são mais importantes para as pessoas que têm visto de trabalho”, afirma Lordan. “Vira algo emocional: as pessoas ficam mais dispostas a compartilhar a postagem e um recrutador pode ficar mais disposto a entrar em contato se puder oferecer um emprego que permita que o profissional não precise deixar o país.”
Independentemente do tipo de sentimento de um trabalhador afastado sobre o seu antigo empregador, parece estrategicamente adequado posicionar-se como disponível para um novo emprego, ainda demonstrando espírito de equipe. E este é o poder das postagens de despedidas nas redes sociais, segundo Lordan.
“As pessoas jogam este jogo na vida corporativa. Ele reflete bem sobre o indivíduo e mostra que ele é adaptável”, afirma ela. “E, em um setor competitivo, é outra forma de ganhar exposição. Raramente a notícia é recebida de forma negativa – frequentemente, haverá apenas compartilhamentos e comentários positivos.”
Para Singh, esta tática funcionou. Ele conta que agora está ocupado programando entrevistas com recrutadores. “Tenho um perfil forte e minha caixa de mensagens tem ficado abarrotada.”
Os nomes completos de Singh e Aleana são omitidos por motivos profissionais.
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