Crédito, US Navy/Lt j g Jerry Ireland/EPA-EFE/REX/Shutterstock

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Helicóptero da Guarda Costeira busca destroços de balão na costa da Carolina do Sul

Autoridades americanas estão analisando restos de quatro objetos voadores abatidos desde 4 de fevereiro — um deles confirmado como um balão de origem chinesa. Segundo Washington, o balão era usado para espionagem, enquanto Pequim afirma que se tratava de um equipamento meteorológico que se perdeu.

Os outros três objetos, abatidos depois do balão, ainda não foram totalmente caracterizados e nem tiveram sua origem confirmada.

De acordo com o Comando Norte dos Estados Unidos, equipes estão analisando “sensores e peças eletrônicas” encontrados na área do Oceano Atlântico em que o balão foi abatido. Grandes pedaços da estrutura também foram recuperados na segunda-feira (13/02) na costa da Carolina do Sul.

Confira abaixo as respostas para algumas das perguntas enviadas por leitores à BBC sobre a situação. Elas foram respondidas pelos jornalistas Barbara Plett-Usher, Gordon Corera e Kerry Allen, com o suporte dos especialistas Scott Anderson, Gail Helt, Joel Rubin e Rajan Menon.

1. Quando e como os objetos foram abatidos?

  • Balão derrubado em 4 de fevereiro: O balão foi visto pela primeira vez em 28 de janeiro no Alasca, passou pelo espaço aéreo do Canadá e por vários Estados dos EUA até ser abatido na cidade de Myrtle Beach, na Carolina do Sul, no início de fevereiro. Ele foi derrubado por um míssil Sidewinder disparado por um caça F-22.
  • Objeto derrubado em 10 de fevereiro: Por ordem do presidente Joe Biden, os EUA derrubaram — também com o míssil disparado por um caça — outro objeto no norte do Alasca que tinha o tamanho de um “carro pequeno”. Até onde se sabe, ele não tinha nenhum sistema de propulsão e foi abatido com “muita cautela” porque representava uma ameaça para aeronaves civis.
  • Objeto derrubado em 11 de fevereiro: No território canadense de Yukon, a cerca de 160 km da fronteira com os EUA, um caça americano F-22 abateu um “pequeno balão metálico com uma carga pendurada abaixo”. A operação contou com forças dos EUA e do Canadá.
  • Objeto derrubado em 12 de fevereiro: O objeto voador mais recente abatido sobre a América do Norte foi alvejado sobre o lago Huron, na fronteira entre EUA e Canadá, caindo sobre o Estado americano de Michigan. Ele foi descrito como “octogonal”. Um primeiro míssil Sidewinder lançado por um avião de guerra F-16 explodiu em um local desconhecido, mas finalmente um segundo míssil atingiu o alvo.

2. Os três objetos abatidos recentemente podem ser simplesmente balões amadores?

As autoridades americanas deixaram claro que os três últimos objetos abatidos parecem diferentes do primeiro balão chinês, acusado de espionagem pelos EUA. Tanto é que as autoridades estão se referindo a eles como “objetos”, e não como “balões”. Eles eram menores e estavam voando mais baixo do que o primeiro balão.

Pode ser que sejam equipamentos usados para pesquisa ou algo completamente diferente — e só foram avistados porque a vigilância ficou mais intensa após o caso do balão chinês.

Do que se sabe, os três objetos não estavam enviando sinais de comunicação, não eram tripulados e nem tinham propulsão — aparentemente, eram movidos pelo vento.

Esses objetos podem ter origem civil, ou até ser um tipo de pegadinha, mas não sabemos. Sabemos sim que a Casa Branca não acredita que sejam alienígenas vindos do espaço sideral. E sabemos que eles provavelmente foram vistos porque os militares estavam olhando mais de perto para o céu desde o surgimento do balão chinês.

Depois dele, o Norad, o comando conjunto do espaço aéreo dos EUA e do Canadá, ajustou seu sistema de radar para ficar mais sensível a incursões.

Até agora, nenhuma empresa, organização ou governo disse ser proprietária dos três objetos.

3. O balão pode ser um precursor de uma guerra biológica?

Quando o balão pairava sobre os Estados Unidos, aviões espiões U-2 o rodearam para verificar o que continha, já que existe tecnologia para farejar materiais perigosos e/ou biológicos. Mas os membros da inteligência americana nunca demonstraram maiores preocupações com essa possibilidade.

Além disso, se tal tipo de carga estivesse no balão, isso seria imediatamente reconhecido como um ataque de guerra biológica contra os EUA, fazendo o conflito escalar exponencialmente.

A China seria extremamente imprudente em conduzir um ataque desse tipo e, portanto, provavelmente não o fez.

Crédito, Reuters

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Agente da Marinha dos EUA busca resquícios de balão derrubado na Carolina do Sul

4. Outros objetos voadores foram localizados em outros países?

Nesta terça-feira (14/02), a Romênia enviou caças para investigar a entrada de um objeto no espaço aéreo europeu, mas até o momento, ele não foi localizado.

Em 3 de fevereiro, a força aérea da Colômbia afirmou que um objeto com “caraterísticas semelhantes às de um balão” foi avistado em seu espaço aéreo e foi monitorado até que saísse da área do país. A BBC não conseguiu confirmar se há informações sobre o paradeiro deste balão. Dias depois, a China confirmou que o balão que sobrevoou alguns países do Caribe e da América do Sul era seu, mas tinha uso civil.

5. Como a China tem reagido?

Pequim afirmou que os dois balões com origem chinesa confirmada — aquele abatido nos EUA e aquele avistado na Colômbia — eram “civis e não tripulados”, criticando o uso da força para monitorá-los e derrubá-los como uma “reação exagerada”.

O Ministério das Relações Exteriores da China lamentou a entrada não intencional do primeiro balão no espaço aéreo dos EUA “devido a motivos de força maior”.

O segundo balão “desviou-se seriamente de sua rota planejada e se perdeu nos céus da América Latina e do Caribe”, acrescentou.

A porta-voz do ministério Mao Ning disse em uma entrevista coletiva na semana passada que o uso da força pelos EUA para derrubar um balão foi uma “reação claramente exagerada, inaceitável e irresponsável”.

O vice-ministro das Relações Exteriores da China, Xie Feng, disse que a decisão de abater o primeiro balão “prejudicaria seriamente o progresso na estabilização dos laços” entre a China e os EUA, acrescentando que a China “salvaguardaria os direitos e interesses legítimos das empresas chinesas”, assim com os “interesses e a dignidade da China”.