- Author, Anthony Zurcher
- Role, Correspondente da BBC na América do Norte, em Iowa
O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump venceu com folga as primeiras prévias para a disputa pela Casa Branca do Partido Republicano na noite de segunda-feira (15/1).
A votação em Iowa, chamada de caucus, terminou com uma margem final tão confortável para Trump quanto as pesquisas previam há meses.
Desde a década de 1970, o estado tem um papel de protagonista na largada da corrida, realizando a primeira disputa para a indicação presidencial no país.
Mas dominar a contagem de votos foi apenas uma das razões pelas quais o ex-presidente comemorou na noite de segunda-feira, depois que seus apoiadores enfrentaram o frio extremo para lhe proporcionar a vitória.
Nenhum dos principais rivais de Trump, Nikki Haley e Ron DeSantis, conseguiu margem suficiente para emergir como desafiante principal do ex-presidente entre os republicanos — e, portanto, os votos não-Trump permanecem divididos.
Enquanto isso, seu rival ideologicamente mais semelhante, Vivek Ramaswamy, anunciou a desistência da corrida — e disse que apoiará Trump nas primárias de New Hampshire na próxima terça-feira (23/1).
Entenda, a seguir, porque os resultados em Iowa são tão significativos na corrida pela Casa Branca.
Dominância no partido
A vitória de Trump em Iowa foi histórica e maciça. Ele obteve o maior número de votos em todos os 99 condados de Iowa, perdendo em apenas um, mas por um único voto.
Ninguém havia vencido uma disputa em Iowa por mais de 12 pontos de diferença para o segundo candidato antes. A vantagem de Trump deve se aproximar de 30 pontos percentuais e ele pode acabar ganhando com o apoio da maioria absoluta dos republicanos que compareceram para participar.
Com quase todos os votos contados, Trump obteve 51%, contra 21% de DeSantis e 19% de Haley.
Uma pesquisa feita com os cidadãos de Iowa que participaram do caucus na noite de segunda-feira ajuda a explicar exatamente por que a campanha de Trump foi tão bem-sucedida até agora.
Cerca de metade dos eleitores republicanos se consideram parte do movimento “Make America Great Again” (ou Faça os EUA Grandes de Novo) de Trump, segundo a CBS News, parceira da BBC nos EUA.
A vitória de Trump também foi ampla. Ele venceu entre os eleitores mais jovens e mais velhos e entre homens e mulheres. Também conquistou os republicanos evangélicos e conservadores da direita radical que teve dificuldade de cativar em 2016.
Normalmente, os candidatos presidenciais derrotados desaparecem da memória, nunca conseguindo se livrar da mácula da derrota. No entanto, Trump conseguiu convencer os republicanos – em Iowa e a nível nacional – de que não perdeu a disputa contra Joe Biden.
A maioria dos participantes do caucus de Iowa disse à CBS acreditar que Trump foi o verdadeiro vencedor das eleições presidenciais de 2020 – parcela que chega a 90% entre os apoiadores declarados de Trump.
A vitória de Trump é uma reviravolta notável
A posição dominante de Trump dentro do Partido Republicano tem sido irrefutável – mas a sua vitória aqui, no contexto mais amplo da política americana moderna, é extraordinária.
Há dois anos, 22 meses e 25 dias, ele encerrou seu primeiro mandato presidencial sob uma nuvem de controvérsias. Sua campanha questionava o resultado das eleições de 2020, o que culminou no motim de 6 de janeiro no Capitólio. Atualmente, ele enfrenta dois julgamentos criminais decorrentes dessas ações.
Agora, como vencedor das prévias de Iowa, ele deu o primeiro passo significativo para se tornar o candidato do Partido Republicano nas eleições presidenciais de novembro.
Trump ainda tem trabalho a fazer para se tornar o porta-voz republicano. Ele enfrentará um desafio maior contra Nikki Haley na próxima semana em New Hampshire, onde as pesquisas mostram uma queda na sua posição de liderança.
Mas ele ainda é o grande favorito na disputa, endossado em seu primeiro teste pelos eleitores republicanos.
Nenhum rival claro surgiu em Iowa
Na véspera das prévias em Iowa, o assunto principal na política americana envolvia qual candidato ficaria em segundo lugar, atrás de Trump. No final, foi DeSantis quem conquistou a marca.
Contudo, o feito acabou não se tornando uma grande conquista, já que o governador da Flórida conquistou apenas poucos pontos de diferença em relação a Haley, mesmo depois de investir muito tempo e recursos em Iowa.
O resultado, e a promessa de DeSantis de prosseguir com a sua campanha, não proporcionaram o tipo de resultado claro que abriria as portas para um confronto direto com Trump nos próximos dias.
Na verdade, o resultado pode tornar a vitória de Trump ainda mais potente, uma vez que a sua estratégia de dividir para conquistar ainda está de pé à medida que o processo das primárias republicanas entra em ação.
O único candidato que desistiu, Ramaswamy, abrirá ainda mais espaço para o ex-presidente, já que as pesquisas de opinião pública mostram que os seus apoiadores têm Trump como segunda opção.
Embora ele tenha obtido apenas cerca de 8% dos votos em Iowa, todo apoio conta, e o endosso de Ramaswamy oferecerá a Trump mais uma manchete antes das prévias em New Hampshire.
O resultado em Iowa também permitirá que o ex-presidente concentre ainda mais seus esforços nas críticas ao presidente Biden, algo que ele já fez durante seu discurso de vitória na noite de segunda-feira.
Por sua vez, os democratas parecem acolher com satisfação o confronto e a oportunidade de explorar o que consideram ser as vulnerabilidades de Trump.
Uma série de vitórias dominantes, começando em Iowa, no entanto, dará ao ex-presidente impulso e o ar de um vencedor. Quando chegarem as eleições gerais no segundo semestre, Trump poderá se revelar um adversário mais forte do que eles esperavam, ou torciam, para que fosse.
Fonte: BBC
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