Crédito, Reuters

Legenda da foto, Estreia do filme Joker: Folie a Deux, em Los Angeles, Califórnia

  • Author, Nick Levine
  • Role, BBC Culture

As grandes estrelas do pop costumam definir tendências. E as estrelas menores correm atrás delas.

Lançado em 25 de outubro, o novo single de Lady Gaga, Disease, foi extremamente bem recebido. Ele serve de aperitivo para o seu próximo álbum, o sexto da carreira da cantora.

E é uma exceção à regra. Às vezes, grandes estrelas do pop desprezam as tendências e se concentram em fazer o que as deixou famosas.

O jornal britânico The Guardian definiu Disease como o “retorno à sua forma e ao seu som clássico”. Já o The Independent declarou que o single é “o melhor [de Gaga] em muito tempo”, porque oferece “uma dose potente de eletropop extremamente sombrio”.

Com seus três minutos e 51 segundos, a duração de Disease é longa e antiquada para um single da era do TikTok e do streaming.

Os compositores profissionais de hoje em dia sabem muito bem que as pessoas costumam pular menos as faixas mais curtas no Spotify, algo que o algoritmo da plataforma é especialista em destacar. E as músicas de menor duração também são mais usadas na sonorização de vídeos rápidos no TikTok.

Por isso, Disease traz uma sensação real de confiança e indiferença – uma canção que não tenta impor nada a ninguém.

Afinal, Lady Gaga construiu seu nome com suas roupas de vanguarda e apresentações totalmente audaciosas. Quem esperaria que ela se comportasse como uma pessoa comum?

Abordagem feroz e contagiante

O apelo de Disease vem de como a canção remonta aos singles sombrios e absurdamente maximalistas, que promoveram o nome de Lady Gaga no final dos anos 2000 e início da década de 2010.

Conhecida pelos seus refrões bombásticos, ganchos vocais simples e eficientes (ah-ah!) e letras melodramáticas sobre o potencial de cura do amor (como “consigo sentir o cheiro da sua doença, posso curar você, curar sua doença”), Lady Gaga canta o refrão como um belo lembrete de que ela desafiou as convenções fazendo músicas ao mesmo tempo cativantes e bizarras.

Mais especificamente, a canção relembra sua abordagem feroz e contagiante do dance-pop em The Fame Monster (2008), uma reedição do seu álbum de estreia The Fame, lançada em alguns lugares como um EP independente com oito faixas.

Seus antigos fãs que adoraram Bad Romance – o principal e levemente insano single de The Fame Monster – certamente não irão resistir, agora, à pegada apocalíptica de Disease.

Gaga é coautora de Disease, em parceria com dois produtores e compositores vencedores do Grammy. Henry “Cirkut” Bell e Andrew Watt trabalharam individualmente com os mais diversos artistas, desde The Weeknd até os Rolling Stones.

Além deles, participou um nome menos reconhecido: Michael Polansky, o noivo investidor de Lady Gaga.

Em uma entrevista de capa para a revista Vogue em setembro, Gaga revelou que Polansky definiu a direção musical do seu próximo álbum. Ele simplesmente disse para ela: “querida, eu amo você. Você precisa fazer música pop.”

E, pelo resultado, o conselho de Polansky foi levado a sério.

Disease relembra os primeiros anos de fama de Lady Gaga, no final dos anos 2000 e início da década de 2010, quando ela ficou conhecida pelo seu maximalismo sombrio.

Musicalmente falando, Disease é uma espécie de retorno. Mas o seu aspecto dramático e desenfreado não destoa do cenário musical de hoje em dia.

As principais estrelas de pop do ano – a autora de hinos queer Chappell Roan, a incisiva vendedora de bordões Sabrina Carpenter e a arrojada criadora de agendas Charli XCX – chegaram ao topo priorizando sua personalidade, tanto quanto os ganchos pop.

E Lady Gaga vem fazendo isso ao longo da carreira. A artista já brincou a ponto de se sair com o verso “estou blefando com meu muffin” em Poker Face, que chegou ao topo das paradas em 2008.

Agora com 38 anos de idade, Lady Gaga chegou àquele ponto em que as mulheres artistas têm suas oportunidades limitadas por uma combinação tóxica de misoginia e etarismo.

Nos últimos meses, esta combinação certamente influenciou a malograda investida de Katy Perry para retomar sua supremacia nas paradas do início da década de 2010 – embora seu retorno tenha naufragado principalmente devido ao seu material de má qualidade e pela desajeitada tentativa de relacionar uma mensagem feminista não convincente ao seu desastroso single Woman’s World.

Mas, como Perry está agora no topo das paradas com Die with a Smile, um belo dueto com Bruno Mars, ela ainda parece estar longe da aposentadoria.

Basicamente, como Lady Gaga nunca tentou fazer com que as pessoas se identificassem com ela para desenvolver seu poder de atração, não há motivo para que os fãs de música da Geração Z deixem de apreciar seu maximalismo pop ousado e brilhante, ao lado dos fãs mais velhos que acompanham a artista desde o início da sua carreira.

Quando Lady Gaga canta “eu poderia ser o seu antídoto esta noite”, em Disease, ela parece estar declarando sua real intenção: Gaga está de volta, a monotonia acabou!

O single Disease já está disponível e o novo álbum de Lady Gaga será lançado em fevereiro.