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Legenda da foto, Várias linhas estão afetadas; passageiros estão sendo solicitados a adiar viagens e evitar estações

Uma série de incêndios, descritos pelo primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, como “atos de sabotagem” realizados de maneira “preparada e coordenada”, afetou as linhas ferroviárias da França horas antes da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris.

Attal descreveu o impacto na rede ferroviária como “maciço e grave”, agradeceu aos bombeiros e expressou indignação pelos transtornos.

Ele acrescentou que as forças de segurança estão em busca dos responsáveis pela sabotagem.

A SNCF, companhia ferroviária pública, disse que se trata de um “ataque maciço visando paralisar a rede”.

A empresa estima que 250 mil passageiros possam ser afetados nesta sexta-feira, e que esse número pode alcançar 800 mil ao longo do fim de semana.

Em um comunicado, a SNCF informou que os incêndios foram intencionalmente provocados nas linhas de alta velocidade Atlântica, Norte e Leste, para danificar suas instalações.

Jean-Pierre Farandou, CEO da SNCF, expressou sua preocupação com os franceses que não poderão viajar como planejado e lamentou a situação.

Ele afirmou que os consertos levarão “todo o fim de semana”, destacando a importância das ferrovias para o transporte público.

Farandou explicou que os incêndios atingiram “fiações com múltiplos cabos de fibra ótica” que transmitem “informações de segurança para os maquinistas”.

O conserto desses cabos, uma operação manual, exigirá centenas de trabalhadores.

“Há um número enorme de cabos agrupados. Precisamos repará-los um a um”, disse.

Mas Farandou tranquilizou os franceses, dizendo que milhares de pessoas estão sendo mobilizadas para consertar a rede, orientar os passageiros nas estações e ajudar na locomoção quando possível.

A Paris 2024, organizadora dos Jogos Olímpicos, afirmou estar “avaliando a situação” e colaborando com a SNCF para resolver o problema.

O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, expressou “total confiança” nas autoridades francesas e minimizou preocupações em declaração à imprensa na Vila Olímpica.

O ministro dos Transportes, Patrice Vergriete, condenou os atos criminosos e agradeceu aos funcionários da SNCF pelos esforços para restaurar os serviços “o mais rápido possível”.

“Atos maliciosos coordenados atingiram várias linhas de TGV na noite passada e prejudicarão seriamente o tráfego até este fim de semana. Condeno veementemente essas ações criminosas que comprometerão as partidas de férias de muitos franceses”, escreveu ele em suas redes sociais.

Mais tarde, em entrevista à emissora francesa TF1, Vergriete confirmou que vários dispositivos incendiários foram descobertos pelas autoridades, mas não revelou quem poderia estar por trás dos ataques à rede ferroviária.

Segundo ele, as forças de segurança estão em alerta máximo.

Enquanto isso, a emissora BFMTV informou que um dispositivo incendiário foi encontrado em Marselha, em maio, na linha LGV, quando a tocha olímpica estava na cidade, segundo uma fonte policial.

A ministra dos Esportes da França, Amélie Oudéa-Castéra, afirmou estar “consternada” com os ataques.

Ela disse que, embora esperasse por tais incidentes, isso é uma “notícia muito ruim” que gerou “uma mistura de raiva e frustração”.

“Tenho que dizer que estou realmente consternada com o que está acontecendo”, disse.

“As pessoas que fazem esse tipo de coisa estão realmente jogando contra a França.”

Diversas linhas de TGV estão afetadas, e os passageiros foram orientados a adiar suas viagens e evitar as estações.

Os serviços da Eurostar, operadora de trens que conecta o Reino Unido à França através do Eurotúnel, também foram impactados, com vários trens cancelados.

O esquema de segurança foi intensificado em toda a cidade, com militares e policiais presentes nas principais estações de trem de Paris, como a Gare du Nord.

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Legenda da foto, Militares patrulham em torno da estação de trem Gare du Nord, em Paris, uma das mais movimentadas da capital francesa

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Legenda da foto, Policiais também estão presentes

Quem poderia estar por trás dos ataques

De acordo com Frank Gardner, correspondente de segurança da BBC, as autoridades francesas devem concentrar suas investigações em “ativistas e extremistas conhecidos, além de explorar possíveis conexões com o Kremlin.”

Gardner observa que, dado que o ataque à rede ferroviária de alta velocidade foi classificado como sabotagem e não como terrorismo, uma vez que não houve mortes, o Isis (também conhecido como Estado Islâmico) e a Al-Qaeda “provavelmente não estão entre os principais suspeitos.”

Ele destaca que a decisão da Promotoria de Paris de impor penalidades severas aos responsáveis visa, principalmente, servir como um alerta para “desencorajar possíveis novos atos de sabotagem”.

Gardner acrescenta que a França enfrenta “diversos desafios” relacionados a indivíduos com profundo descontentamento em relação às políticas do governo, abrangendo temas como a Ucrânia, a África Ocidental e o uso do véu.

Ele também lembra que, nos últimos dez anos, o país sofreu vários ataques significativos em Paris, Nice e outras localidades, todos associados ao Estado Islâmico, além de ataques menores e isolados realizados por jihadistas.

Horas antes da cerimônia de abertura

O incidente ocorre horas antes da cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris, onde milhares de atletas irão desfilar pelo coração da cidade em barcos.

Uma flotilha transportará mais de 10.000 atletas ao longo do Rio Sena, passando pelos principais pontos turísticos da cidade, diante de 300.000 espectadores e uma plateia de VIPs e celebridades.

A cerimônia de quatro horas, marcada para começar às 19h30 (hora local) ou 14h30 (horário de Brasília), será a primeira vez que uma Olimpíada de Verão é inaugurada fora do estádio principal de atletismo.

Embora muitos detalhes ainda sejam secretos, há rumores de que Céline Dion, Lady Gaga e Aya Nakamura possam se apresentar.

Os organizadores esperam que o espetáculo ocorra sem problemas, com um extenso esquema de segurança envolvendo 45.000 agentes, 10.000 soldados e 22.000 seguranças privados.

Esta reportagem está sendo atualizada.