- Author, Josh Parry & Lauren Moss
- Role, BBC News
- Reporting from The Heartstopper set
Em um dia congelante de novembro de 2023, fomos de carro até uma escola na periferia de Londres. Ela parecia vazia e sem importância, exceto por uma placa reveladora: “Truham High”.
Na verdade, aquela construção com aparência abandonada é o cenário da série Heartstopper, sensação da Netflix. E, no dia da nossa visita, estavam em andamento as filmagens da sua terceira temporada, que tem lançamento marcado para o dia 3 de outubro.
Dentro do prédio, o alvoroço que, normalmente, seria esperado no corredor de uma escola dá lugar ao caos organizado de um set de filmagem. O interior da escola foi coberto por murais coloridos, pintados no estilo dos romances ilustrados da escritora britânica Alice Oseman, que inspiraram a série.
A sala de artes do professor Ajayi pode ser reconhecida de imediato.
Nas duas primeiras temporadas, ela foi um local seguro para o personagem do ator Joe Locke, Charlie, nos momentos difíceis. Durante a nossa visita, ele tem a companhia de Kit Connor, que interpreta Nick.
Os produtores mantêm sigilo sobre os detalhes do que está sendo filmado, mas eles nos contam que “é uma cena bastante intensa”.
Eles controlam o número de pessoas que ficam na sala com os atores, durante as cenas mais emotivas. Dezenas de membros da equipe se aglomeram em silêncio na sala ao lado, observando atentamente os monitores, enquanto os atores fazem diversas tomadas.
A terceira temporada de Heartstopper aborda temas mais sérios do que as duas primeiras. O distúrbio alimentar de Charlie fará parte importante do enredo e alguns personagens irão fazer sexo pela primeira vez.
“Sempre dissemos que a série cresce com os personagens, o que certamente é o caso este ano”, conta Locke, durante um curto intervalo antes da sua próxima cena. “A série lida com alguns temas mais pesados, como saúde mental e o amadurecimento, de forma que ela tem muita ‘adolescência’.”
Heartstopper tem sido elogiada por mostrar a “alegria queer”, destacando os elementos positivos de crescer como parte da comunidade LGBTQIA . Mas Locke ressalta que é importante assegurar que ela seja realista.
“É tudo questão de autenticidade e de tentar fazer o seu retrato de um tema muito intenso e bastante próximo do coração das pessoas, da forma mais verdadeira possível”, explica ele.
Connor e Locke brincaram que foi difícil se acostumar a beijar seu amigo em frente às câmeras. E, com todos os atores tão próximos, eles admitem que pode parecer estranho filmar algumas das cenas mais apaixonadas da série.
“Quando você está filmando por sete horas e meia, como fizemos [para] uma cena um pouco mais ardente, pensamos, este é o meu trabalho?”, conta Connor.
Durante a nossa visita, fica claro que a química do elenco vai além da sua participação na tela. Ao longo das nossas entrevistas, eles fazem brincadeiras internas e se divertem gentilmente uns com os outros. Connor conta que isso ajuda nos dias mais difíceis no set.
“Depois de filmar, todos nós meio que nos aglomeramos no apartamento de alguém e passamos algum tempo juntos”, ele conta. “Temos uma ótima forma de fazer isso sem falar de trabalho e nada do tipo.”
“Todos nós simplesmente vamos para casa, fazemos o jantar e criticamos as técnicas culinárias uns dos outros. [Joe Locke] realmente fez um bom chili (carne moída apimentada ao estilo mexicano) desta vez… da outra vez, ficou muito, muito ruim. Desta vez, Will, que interpreta Tao, repetiu… mas ele come qualquer coisa.”
A amizade entre os atores pode ser real, mas alguns dos locais mais simbólicos da série, na verdade, são módulos fixos e são montados dentro da escola, conforme o necessário.
Durante a nossa visita, o quarto de Nick está montado no que teria sido o ginásio de esportes da escola.
Não há iluminação, já que nenhuma cena está planejada para este local hoje. Por isso, podemos explorar usando a lanterna do celular. E, mesmo com pouca luz, fica evidente a atenção aos detalhes.
Dos livros sobre bissexualidade até fotos de Nick e Charlie juntos, eles tentam à exaustão fazer do quarto um reflexo real da jornada dos personagens ao longo da série.
“Os fãs realmente observam tudo e elaboram teorias até sobre os menores detalhes… você precisa ver alguns dos TikToks que eles fazem”, conta um membro da equipe.
Saindo pelo corredor do quarto de Nick, fica o departamento de figurino. Adam Dee, o figurinista, conta que gosta de incluir itens para que os megafãs possam identificar.
“Se eles tiverem uma cena com um guarda-roupa aberto, iremos incluir algumas peças simbólicas das temporadas anteriores, para que o público possa identificá-las”, segundo ele.
“[A personagem] Elle tem uma mesa de costura no seu quarto e conseguimos acrescentar alguns objetos ao seu guarda-roupa, que são feitos de dois outros itens que costuramos juntos, ou cachecóis usados que transformamos em tops.”
Sucesso inesperado
O sucesso de Heartstopper foi uma espécie de surpresa para a Netflix.
A primeira temporada foi lançada com muito pouca publicidade e se tornou uma das 10 séries mais assistidas em língua inglesa dois dias depois do lançamento.
Na terceira temporada, alguns dos personagens mais velhos da série completam 16 anos e começam a ter sexo.
A personagem de Yasmin Finney, Elle, é transgênero. Ela irá aparecer começando uma relação sexual com Tao (William Gao), seu namorado na série.
A vida sexual dos personagens transgênero não costuma ser incluída nos roteiros da TV.
Para Finney, “é ótimo ter esta representação de uma pessoa trans que é capaz de manter este tipo de relacionamento. É encantador e sou muito grata por poder oferecer esta interpretação com Will.”
Na segunda temporada, o personagem de Tobie Donovan, Isaac, descobre que é assexual, ou seja, ele sente pouca ou nenhuma atração sexual. É outro tema apresentado por poucos programas de TV.
Donovan afirma que fez “muita pesquisa” para ter certeza que “estava fazendo justiça para esta comunidade”.
Ele conta que “não havia quase nada como isso na TV antes e, por isso, eu realmente quis ter certeza de fazer direito”.
“Eu sinto que, pela reação à nossa segunda temporada, as pessoas ficaram muito felizes, simplesmente por terem alguém na tela com uma história parecida com a delas. Isso é ótimo para todos nós.”
Pouco antes de sairmos, encontramos o produtor executivo da série, Patrick Walters. Ele estava na sala de aula do professor Ajayi.
Walters se “apaixonou” pelos romances ilustrados de Alice Oseman e teve a ideia de transformá-los em uma série de TV.
Ele tem particular orgulho da diversidade da série. Para ele, “é incrível pensar que é uma série importante para a juventude LGBT”.
“É bom perceber que os jovens realmente se identificam com os personagens – e este é o motivo da sua conexão.”
Fonte: BBC
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