- André Biernath – @andre_biernath
- Da BBC News Brasil em Londres
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva recebeu alta na manhã desta segunda-feira (21) após passar por uma cirurgia para a retirada de uma leucoplasia.
O problema, que acometeu a prega vocal esquerda, na região da garganta, estava relacionado à forte rouquidão que ele apresentou nas últimas semanas.
De acordo com o boletim médico divulgado pelo Hospital Sírio-Libanês, local onde o procedimento foi realizado, Lula passa bem e não há presença de um câncer no local.
O presidente eleito teve o problema diagnosticado na semana passada, mas só conseguiu fazer o tratamento depois de voltar da viagem internacional que fez por Egito e Portugal.
Mas o que é leucoplasia e quais são os sintomas, os métodos de diagnóstico e as formas de tratamento?
Um ‘calo’ na garganta
O otorrinolaringologista Cícero Matsuyama, do Hospital Cema, em São Paulo, explica que “leuco” significa “branco” e “plasia” quer dizer “proliferação de células”.
“Ou seja, trata-se de uma proliferação de células brancas em uma determinada região do corpo, principalmente nas mucosas da boca e da garganta”, diz.
Essa formação se desenvolve no epitélio, a camada mais superficial que cobre essas estruturas. Com isso, as pregas vocais não conseguem funcionar como o esperado na hora de produzir os sons da voz.
A condição pode ser causada por uma série de comportamentos.
“Essa formação inicial aparece por uma irritação crônica, que pode estar relacionada com o uso muito intenso da voz ou o consumo de cigarro e bebidas alcoólicas”, lista a médica Luciana Miwa Nita Watanabe, diretora da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF).
O refluxo gastroesofágico, em que parte da comida e dos ácidos estomacais sobe pelo esôfago, também pode gerar a formação da tal placa branca.
Que fique claro: como cada caso é diferente, não dá pra cravar com certeza o que provocou a leucoplasia em Lula.
“Mas é possível que a campanha eleitoral, que demandou muito da voz em discursos e falas públicas, tenha contribuído”, especula Watanabe.
Os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil também destacam que uma formação dessas pode ser benigna ou maligna — e a biópsia, em que um pedacinho da lesão é retirado e analisado em microscópio, confirma ou descarta a possibilidade de um câncer.
Pelas informações divulgadas pelo Hospital Sírio-Libanês até o momento, a leucoplasia de Lula é benigna e não está relacionada a um tumor.
Diagnóstico e tratamento
Watanabe conta que a suspeita da leucoplasia começa a partir dos sintomas iniciais.
“Quando o problema acontece na garganta, o sinal mais frequente é a alteração na voz e a rouquidão”, ensina.
Ela sugere que a pessoa procure o médico se o incômodo não passar de jeito nenhum e persistir por mais de 15 dias.
Agora, quando há um histórico de câncer na região — como é o caso de Lula, que teve um tumor diagnosticado ali em 2011 —, o acompanhamento precisa ser mais cuidadoso.
“Nesses casos, qualquer sintoma como rouquidão, incômodo, pigarro ou dificuldade para deglutir necessita de mais atenção”, aponta.
Fazer o diagnóstico da leucoplasia é relativamente simples: no próprio consultório, o profissional da saúde pode realizar uma videolaringoscopia, que envolve introduzir um equipamento com uma câmera boca adentro.
Quanto antes o problema for detectado, melhor: Watanabe destaca que a falta de acompanhamento pode fazer com que uma lesão pequena e benigna se transforme aos poucos em algo grande e maligno, com o risco de sequelas e a necessidade de tratamentos mais agressivos.
Como tratar ou prevenir
Matsuyama conta que, feito o diagnóstico, o médico vai definir se há necessidade de cirurgia ou não.
“Se a lesão for pequena, fazemos a remoção completa. Agora, se for muito grande, às vezes retiramos apenas um fragmento para realizar a biópsia”, detalha.
A meta dos profissionais é tirar apenas a placa branca e preservar o máximo possível da porção saudável ao redor.
Esse procedimento geralmente é feito através da boca, sem necessidade de cortes na pele para acessar a garganta.
Apesar de a operação ser feita num centro cirúrgico, ela é relativamente simples e tem uma recuperação rápida, garantem os médicos.
“Normalmente, pedimos apenas que o paciente descanse e tente não falar muito por algum tempo”, acrescenta a diretora da ABORL-CCF.
Já em relação às formas de prevenir a leucoplasia, Matsuyama sugere evitar completamente, ou ao menos moderar, o consumo de bebidas alcoólicas e cigarro.
Também vale tratar o refluxo gastroesofágico, se essa for a origem do problema.
“É importante não gritar demais, ou usar a voz de forma excessiva, especialmente quando você sente que já está com alguma irritação ali na garganta”, conclui Watanabe.
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